Com o aumento do número e qualidade dos aparelhos de ultrassonografia, também houve um aumento significativo do número de diagnósticos de nódulos de tireoide de forma indiscriminada. Com esse aumento do diagnóstico há também o aumento da demanda terapêutica e diagnóstica, em especial a punção aspirativa por agulha fina (PAAF)
Ao realizar o PAAF em um maior número de pacientes haverá maior número de diagnósticos de carcinoma. Em determinadas situações, os microcarcinomas papilíferos de tireoide (por definição, menores que 10mm) podem apenas ser acompanhados sem a necessidade de um tratamento específico. No entanto, alguns centros acreditam que o carcinoma deve sempre ser operado independentemente do tamanho.
A China possui como base do tratamento a cirurgia para pacientes com microcarcinoma papilífero da tireoide. Um trabalho recentemente publicado sobre o tema faz uma revisão sistemática com o objetivo de comparar a cirurgia tradicional com a ablação por radiofrequência.
Métodos e resultados
Revisão sistemática para o tratamento de microcarcinoma papilífero envolvendo ablação térmica por radiofrequência e cirurgia. O estudo buscou avaliar a eficácia e qualidade de vida após cada método. No total de 392 artigos na literatura, 10 artigos permaneceram para a análise completa do estudo. No braço cirurgia, poderia estar incluída lobectomia isolada ou tireoidectomia total, com ou sem linfadenectomia.
Na soma dos artigos avaliados, 1167 pacientes foram incluídos na análise, sendo 613 no grupo ablação e 554 no grupo cirúrgico. Ao calcular o risco relativo em relação a recorrência do tumor foi de 1,6, 95% IC(021-12,41) p>0,05, ou seja, sem diferença estatisticamente significativa. De forma semelhante, também não houve diferença na taxa de recorrência linfonodal entre os grupos (RR=0,12, 95% IC 0,01 – 0,98. p>0,05).
Já em relação à taxa de complicações pós-procedimento, o grupo ablação apresentou benefício RR=0,24 95% IC(0,14-0,41) p<0,001), com a maioria das complicações sendo transitórias nos pós -procedimento quando realizada por ablação. Foram excluídas dessa análise a taxa de hipotiroidismo, visto que no grupo cirúrgico o hipotiroidismo será necessariamente maior.
Assim, 4 dos estudos incluídos fizeram análise da qualidade de vida, com questionários específicos para qualidade de vida, que identificaram uma melhor qualidade de vida no grupo ablação com significância estatística (p<0,001).
Discussão
Nos ensaios clínicos incluídos nesse estudo, houve uma resposta de praticamente 100% com um tempo de observação até os 18 meses. Porém, ainda existe algum grau de preocupação de como esses tumores irão evoluir especialmente no que tange a recorrência local e linfonodal a longo prazo.
Também não podemos deixar de mencionar que a American Joint Commitee on Cancer, propõe alguns tipos de tratamento para o microcarcinoma menor que 1 cm, entre eles o acompanhamento clínico. Apenas observar um tumor pode impactar a qualidade de vida do paciente e alguns pacientes podem preferir alguma intervenção. Por se tratar de um procedimento de menor tempo de internação menor, existe também um benefício econômico nesse tipo de abordagem.
A ablação por radiofrequência pode preencher a lacuna entre observar e realizar a cirurgia, em pacientes que desejem algum tipo de intervenção.
Para levar para casa
A ablação é utilizada em diversos segmentos da medicina, tendo um forte impacto na cirurgia hepática, com dados bastante promissores. Ablar microcarcinomas papilíferos de tireoide pode ser uma alternativa, no entanto apenas acompanhar possui benefícios semelhantes. Devemos tratar tudo aquilo que encontramos?
Veja também: Vigilância ativa no carcinoma de tireoide é possível
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.