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A frequência de trombose venosa profunda (TVP) em pacientes submetidos à cirurgia plástica varia muito em trabalhos científicos publicados, desde menos de 1% a até 2%. Parece pouco, mas levando-se em consideração a população exposta, é bastante significativo.
A Abdominoplastia tem maior risco de TVP do que outros procedimentos estéticos, variando de 1,4% até 2%. Quando é associada a outros procedimentos, a incidência aumenta até 6,6%. Ainda mais alarmante, a Dermolipectomia Circunferencial (Belt Lipectomy) tem, segundo Aly e colaboradores, uma incidência de embolia pulmonar de 9,4%. Podemos esperar incidências maiores de TVP em pacientes submetidos a cirurgias mais longas após perda de peso significativa.
Uma combinação de fatores de risco como história prévia de TVP, malignidades, trombofilias, obesidade, entre outros, são levados em consideração para avaliar o risco. A avaliação do risco pelo Modelo Caprini pode ser usado para determinar qual a profilaxia adequada.
Em cirurgia plástica, Davison e colaboradores descreveram um modelo diferenciado para aplicação nesses pacientes. Embora útil, não leva em consideração muitos fatores de risco já conhecidos, indo diretamente contra o consenso médico sobre o assunto. Outro modelo descrito por McDevitt, embora também omitindo alguns fatores de risco, está mais alinhado com a literatura médica sobre o tema.
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O uso de meias de compressão ou botas pneumáticas para todo paciente com cirurgias que duram 1 hora ou mais ou que estejam sob anestesia geral parece ter consenso como o mínimo adequado para esses casos. A deambulação precoce é fundamental, quando possível, para diminuição do risco de TVP e EP. O posicionamento do paciente com joelhos a 5 graus na mesa cirúrgica maximiza o fluxo venoso nas veias poplíteas. Alguns serviços de cirurgia plástica têm como rotina o uso de quimioprofilaxia em cirurgias plásticas abdominais e cirurgias associadas.
Os cirurgiões plásticos relutam, entretanto, em usar quimioprofilaxia pelo risco de sangramentos pós-operatórios. Na minha experiência pessoal, esse risco é significativo após lift cervico-facial, em especial. Durante a consulta, os riscos e benefícios da anticoagulação devem ser discutidos com o paciente. Cirurgia Plástica é uma especialidade ímpar e essa discussão deve fazer parte da avaliação pré-operatória.
Embolia pulmonar é a principal causa de morte que pode ser evitada após cirurgias. Em 70% a 80% das fatalidades resultantes de EP, a possibilidade de TVP não foi sequer aventada antes da cirurgia.
Prevenir não é difícil. Os pacientes de cirurgia plástica podem ser de baixo risco, mas os procedimentos não são. Os cirurgiões plásticos precisam ajustar seu pensamento a essa realidade, mudando estratégias apesar dos riscos envolvidos no uso de anticoagulantes, que sempre serão de menor gravidade se comparados a uma possível embolia pulmonar.
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Referências:
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