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Cirurgia30 julho 2020

Pancreatite autoimune: agulhas convencionais ou tipo ‘Franseen’ para biópsia diagnóstica?

A apresentação da pancreatite autoimune pode mimetizar neoplasias e, com isto, o paciente ser submetido a uma ressecção pancreática desnecessariamente.

Por Felipe Victer

A apresentação da pancreatite autoimune (AIP) pode mimetizar neoplasias e, com isto, o paciente ser submetido a uma ressecção pancreática desnecessariamente. Alguns estudos demostraram que 5%-10% das ressecções pancreáticas por suspeita de malignidade são na verdade doença benignas e destes 25%-40% são AIP.

Um fragmento histológico é fundamental para o correto diagnóstico de AIP na maioria dos casos, e as agulhas previamente disponíveis para a obtenção de tecido pancreático apresentavam baixa sensibilidade para o método. Uma nova agulha de 22-gauge com tipo “Franseen” tem demonstrado melhores resultados quando comparadas as de 22-G para aspiração convencional.

Diagnóstico da pancreatite autoimune

Foi realizado um estudo prospectivo, multicêntrico entre maio de 2017 e abril de 2019, de braço único, que selecionou paciente com suspeita de imagem de AIP para serem submetido a biopsia ecoendoscópica com este novo tipo de agulha. A biópsia seguiu os protocolos de uso da agulha, e as peças encaminhadas para análise histológica convencional e imuno-histoquímica, a fim de determinar a presença ou não de AIP.

Resultados

Durante o período do estudo, 62 paciente foram elegíveis, porem após as exclusões, 56 permaneceram para a análise. Entres os pacientes, 41 eram homens; 55 tinham suspeita clínica de AIP do tipo 1 e somente um paciente com suspeita de AIP tipo 2 sem estudo histológico. O diagnóstico final de AIP foi realizado em 51 pacientes (50 pacientes com tipo 1; um paciente com provável tipo 2). Os cinco outros pacientes foram diagnosticados no segmento com pancreatite crônica idiopática.

Dois pacientes (4%) apresentaram dor no pós-procedimento que melhoraram em 24h de observação não necessitando medicações ou prolongamento do período de internação.

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Discussão

Neste estudo prospectivo, o uso desta nova agulha se mostrou superior à agulha convencional para o diagnóstico de AIP. Na análise histológica, o diagnóstico definitivo de AIP tipo 1 se firmou em 58,2% e quando outros fatores eram levados em consideração o diagnóstico subiu para 92,7%. Estes resultados são significativamente melhores quando comparamos com estudo prévio da mesma instituição porem com uso de agulha convencional. No estudo prévio, o diagnóstico histológico foi 7,9% e ao somar com outros fatores 62,2%.

Alguns outros estudos também compararam a agulha do tipo “Franseen” e da mesma forma demostraram uma superioridade desta com outros tipos de agulha, especialmente para o diagnóstico de AIP tipo 1.

Um ponto importante deste estudo que merece destaque é que o procedimento foi realizado em instituições que, apesar de possuírem excelentes gastroenterologistas, não podem ser caracterizadas como centros de grande volume. Isto difere dos demais estudos publicados, que normalmente se utilizam de centros como hospitais universitários, que apresentam um elevado volume. No entanto, mesmo realizado em centros menores, o uso da agulha do tipo Franseen proporcionou resultados comparáveis com os grandes centros, o que pode representar o benefício desta agulha mesmo nos hospitais gerais.

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Este estudo tem algumas limitações, uma delas sendo um estudo de braço único sem uma possibilidade de comparação. Este fato pode ser minimizado pois a mesma instituição possui estudo utilizando agulha convencional que serviu como base de comparação. Outra questão a ser levantada é o pequeno número de casos do tipo 2, e com isto não é possível determinar se há um benefício para este tipo da patologia.

Em conclusão, a agulha do tipo Franseen se mostrou favorável para obtenção de material histológico e imuno-histoquímica em paciente com AIP.

Take-home message

Apesar de um método novo se mostrar promissor na obtenção de material, não significa que terá sempre os resultados prometidos. Infelizmente os resultados inconclusivos de biópsia por EUS eram frequentes nos anos iniciais do método, o que de certa forma pode ter freado sua real utilização. A cada dia novas agulhas e maior expertise dos profissionais tem auxiliado em muito as decisões clínicas o que torna o método ainda mais fundamental.

Referências bibliográficas:

  • Ishikawa T, Kawashima H, Ohno E, et al. Usefulness of endoscopic ultrasound-guided fine-needle biopsy for the diagnosis of autoimmune pancreatitis using a 22-gauge Franseen needle: a prospective multicenter study [published online ahead of print, 2020 Jun 24]. Endoscopy. 2020;10.1055/a-1183-3583. doi:10.1055/a-1183-3583

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