A neoplasia gástrica ocupa atualmente a quinta causa de morte por câncer no mundo. Sabe-se que a ressecção cirúrgica combinada a uma linfadenectomia adequada é o tratamento mais indicado visando um objetivo curativo. A abordagem cirúrgica por videolaparoscopia é uma das vias cirúrgicas amplamente utilizadas e permite resultados perioperatórios favoráveis e melhores desfechos oncológicos.
Em contrapartida, a cirurgia videolaparoscópica também apresenta desvantagens como visão em duas dimensões, manutenção do tremor fisiológico do cirurgião e mobilidade restrita dos instrumentais, o que pode exigir maior destreza e complexidade para execução do procedimento cirúrgico.
Visando melhorias, atualmente surgiram os modelos robóticos com a plataforma da Vinci®, promovendo melhorias para as desvantagens da videolaparoscopia. A gastrectomia distal por via robótica pode ser executada de maneira total (GDRT), em que ocorre ressecção cirúrgica, linfadenectomia e reconstrução do trânsito intestinal totalmente por via robótica; e pode ser feita também de maneira assistida (GDRA), em que é realizada a ressecção cirúrgica e a linfadenectomia por via robótica e a reconstrução é realizada por laparotomia e extra-corpórea.
Mas será que há benefícios entre uma abordagem robótica ou outra? O objetivo de um estudo publicado no Jornal de Cirurgia Robótica foi comparar se há uma superioridade entre estas técnicas de robóticas (total versus assistida).
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Métodos:
Foi realizada uma metanálise de quatro artigos retrospectivos, com um total de 773 pacientes, sendo 298 paciente submetidos à gastrectomia distal por via robótica total (GDRT) e 475 pacientes submetidos à gastrectomia distal por via robótica assistida. Os desfechos avaliados foram o tempo de internação, duração de internação hospitalar, confecção de anastomose, sangramento intraoperatório, extensão de incisão cirúrgica, tempo de retorno do peristaltismo intestinal e complicações. A busca de artigos foi feita no PubMed, EMBASE, Cochrane Library e Web of Science até julho de 2025. Foram estabelecidas as razões das chances (OR), diferenças de média ponderadas (WMDs) com seus intervalos de confianças (ICs) de 95%. O valor de p para significância foi inferior a 0,05. Os dados foram lançados no software Stata versão 18.
Resultados
Após a análise estatística, os pacientes submetidos à gastrectomia distal por via robótica total, em comparação com o grupo robótico-assistido, apresentaram maior tempo operatório (WMD=5.95, 95% CI 1.93–9.97; p<0.05), porém menor tempo de internação hospitalar (WMD =−1.17, 95% CI −2.13 to −0.21; p<0.05), retorno mais rápido do peristaltismo (WMD =−0.44, 95% CI −1.87 to −0.01; p<0.05) e incisões cirúrgicas menores (WMD=−2.95, 95% CI −3.88 to −2.02; p<0.05). Não houve diferença estatística em relação entre a confecção de anastomose (WMD =1.10, 95% CI −1.67 to 3.86; p>0.05), sangramento intraoperatório (WMD =−3.36, 95% CI −8.61 to 1.90; p>0.05) ou complicações (OR=0.80, 95% CI 0.54–1.18; p>0.05) entre as técnicas de cirurgia robótica.
Discussão
O procedimento cirúrgico, quando realizado por via robótica total, promoveu um tempo operatório maior, o que pode ser justificado pelo tempo de montagem e ajuste do robô, além da complexidade para realização de uma anastomose intracorpórea, que requer maior tempo. Apesar desse maior tempo, houve redução no tempo de internação, uma vez que permitiu incisões menores e retorno rápido do peristaltismo, comparado ao grupo robótico-assistido, o que favorece melhor desfecho pós-operatório para o paciente, menor trauma cirúrgico, recuperação e retorno mais rápido às atividades.
Independente dessas vantagens em relação às técnicas, não houve diferença nas complicações ou sangramento intraoperatório, o que reforça a segurança desses procedimentos.
Algumas limitações podem ser estabelecidas, como amostragem reduzida em alguns artigos selecionados, com grande heterogeneidade entre eles. Além disso, estudos retrospectivos não determinam como foram as seleções para escolha das técnicas, e não foram avaliados desfechos oncológicos tais como sobrevida ou recorrência, o que seria essencial para uma melhor avaliação e desfecho entre as técnicas robóticas.
Conclusão
A gastrectomia distal por via robótica total apresenta maior tempo cirúrgico, porém menor tempo de internação hospital, menor trauma cirúrgico (menor incisão cirúrgica e retorno mais rápido do peristaltismo intestinal), comparado à gastrectomia distal por via robótica-assistida. Não houve diferença na taxa de sangramento intraoperatório ou de complicações entre elas.
Mensagem prática
1 – Gastrectomia distal por via robótica total oferece menor trauma cirúrgico do que a via robótica-assistida (menor incisão cirúrgica, retorno mais rápido do peristaltismo intestinal e menor tempo de internação hospitalar).
2 – Gastrectomia distal por via robótica total apresenta maior tempo de procedimento cirúrgico.
3 – Gastrectomia total por via robótica total ou robótica-assistida são seguras e não apresentam diferenças entre sangramento intraoperatório ou complicações.
Autoria

Rodolfo Kalil de Novaes Santos
Graduado em Medicina pelo Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), em Ipatinga (MG), no ano de 2017. Residência Médica em Cirurgia Geral no ano de 2020 pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (MG) e Residência Médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo no ano de 2024 pelo Hospital Governador Israel Pinheiro - IPSEMG. • Cirurgião geral na Casa de Caridade Hospital São Paulo; Casa de Saúde Santa Lúcia e Prontocor. Docente da disciplina de anatomia II da Faculdade de Minas (FAMINAS) de Muriaé (MG).
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