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Cirurgia13 maio 2025

Ferramenta online para otimização de pacientes idosos pré-cirúrgicos vale a pena?

Estudo avaliou a ferramenta digital de otimização "PrehabPal", que gera um programa personalizado de otimização pré-cirúrgica para cada paciente

O câncer colorretal é a terceira principal causa de morte nos Estados Unidos e é diagnosticado mais comumente em idosos. O tratamento padrão-ouro para pacientes sem metástases em outros órgãos (portanto, pacientes portadores de doença localizada) é feito com cirurgia oncológica do cólon (colectomia mais linfadenectomia). Pacientes que tem mais de 65 anos de idade possuem risco maior de efeitos adversos depois do procedimento cirúrgico, como maior mortalidade, maior estadia hospitalar e maior necessidade de reabilitação no pós-operatório. Sabe-se que até 50% dos pacientes idosos são considerados frágeis com diferentes vulnerabilidades, sendo as mais comuns a desnutrição, o isolamento social e o déficit cognitivo ou funcional.  

A otimização pré-cirúrgica, que consiste em intervenções pré-operatórias para melhorar a condição clínica e funcional dos pacientes, tem se mostrado eficaz na redução de complicações e na redução dos desfechos clínicos e cirúrgicos desfavoráveis, com redução das taxas de complicação em até 29,5%. Um estudo mostrou que até 91% dos cirurgiões atrasariam a cirurgia para submeter os pacientes aos procedimentos de otimização. Entretanto, sua adoção na prática clínica tem sido limitada, por causa de fatores como dificuldades de acesso à equipe multidisciplinar, altos custos e a falta de programas estruturados e profissionais disponíveis. 

Diante desse cenário, o estudo avalia uma ferramenta digital de otimização pré-cirurgica, chamada PrehabPal, desenvolvida conjuntamente com o auxílio dos pacientes idosos e que detecta as vulnerabilidades geriátricas dos pacientes e gera um programa personalizado de otimização pré-cirúrgica para cada paciente. O objetivo do estudo é determinar se essa ferramenta aumenta o engajamento dos pacientes na reabilitação pré-operatória e se há melhora nos desfechos clínico-cirúrgicos. 

O PrehabPal foi desenvolvido com base na experiência do programa de otimização pré-cirúrgica geriátrica da Universidade da California de São Francisco, utilizando um design iterativo com participação ativa dos pacientes idosos e de fácil utilização por eles.  

idoso mexendo no celular

Método do estudo 

É um ensaio clínico randomizado, prospectivo, multicêntrico e não cego, que vai recrutar pacientes de três grandes centros acadêmicos dos EUA com alto volume de pacientes: University of California de São Francisco; MD Anderson Cancer Center no Texas e Stanford Healthcare na Califórnia. 

O estudo vai comparar o engajamento dos pacientes e a eficácia da plataforma digital PrehabPal em relação ao material impresso tradicionalmente utilizado de recomendações de otimização pré-cirúrgica entregue aos pacientes. Os pacientes serão arrolados de sete a 21 dias antes da cirurgia e seguidos por oito semanas depois da cirurgia. O tempo total do estudo é de 30 meses, com 24 meses designados para o recrutamento e seis meses para o seguimento. 

Os participantes serão alocados aleatoriamente em dois grupos: 

Grupo intervenção (braço 1): pacientes que farão uso do aplicativo PrehabPal com suporte de um coach virtual que interage com eles através do aplicativo; 

Grupo controle (braço 2): grupo de pacientes que vai receber o material impresso. 

O conteúdo das recomendações envolve orientações quanto a exercício físico, nutrição, ansiedade, sono, organização da casa, prevenção de delirium e cuidados de planejamento antes da cirurgia. A randomização ocorre na proporção de 2:1, ou seja, dois terços dos participantes utilizam a plataforma digital e um terço recebe o material impresso. Os dados são coletados por meio de revisão de prontuários, entrevistas e questionários respondidos pelos pacientes. 

População envolvida 

O estudo recrutará 132 pacientes (44 pacientes por centro participante) com as seguintes características: idade ≥ 65 anos, diagnóstico de câncer colorretal com indicação de ressecção cirúrgica, proficiência em inglês, capacidade de fornecer consentimento informado, acesso à internet de casa. Os critérios de exclusão incluem pacientes com câncer metastático ou diagnóstico de demências ou outras condições com gerem limitações neurocognitivas. 

Resultados esperados e avaliação 

Os objetivos primários do estudo são:  

– Avaliar o nível de engajamento dos pacientes com a otimização pré-cirúrgica digital quando comparada com o material impresso fornecido. 

– Determinar se o uso da ferramenta PrehabPal melhora a adesão dos pacientes às atividades recomendadas antes da cirurgia. 

Os objetivos secundários incluem: 

– Comparar os desfechos cirúrgicos, como taxa de complicações nos primeiros 30 dias após a cirurgia e reinternação após a cirurgia, entre os grupos. 

– Avaliar a recuperação funcional dos pacientes nas quartas e oitava semanas após a cirurgia. 

A análise estatística prevê o uso do teste qui-quadrado para comparar a proporção entre o braço intervenção e braço controle de pacientes engajados e uso de regressão logística multivariada para avaliar diferenças nos desfechos clínicos. 

O estudo utiliza a Escala de Fragilidade de Edmonton e o SF-36, um questionário validado para medir qualidade de vida. 

Mensagem prática 

Se o estudo mostrar que a ferramenta digital PrehabPal de fato melhora a adesão dos pacientes às recomendações pré-cirúrgicas e reduz as complicações do período pós-operatório, ela poderá ser um novo padrão-ouro para a preparação e orientação dos pacientes idosos com câncer colorretal localizado com indicação cirúrgica. 

Os principais benefícios com sua utilização incluem melhorar a acessibilidade e conveniência dos pacientes, principalmente aqueles que moram muito afastados dos centros médicos ou com dificuldades de locomoção e limitações físicas. Redução do custo e da necessidade de deslocamento para acompanhamento pré-operatório com equipe multidisciplinar. Monitoramento à distância e suporte de um coach de saúde para estimular o engajamento dos pacientes nas medidas pré-operatórias. Redução das complicações, das internações prolongadas, das reinternações e dos custos hospitalares. 

Há alguns desafios para a implementação que devem ser considerados: a eficácia das ferramentas digitais, o uso e manipulação por idosos no geral ainda são incertos, ainda mais para aqueles com menor familiaridade com a tecnologia. O estudo não é cego, podendo enviesar os resultados. 

Em suma, esse estudo pode fornecer evidências importantes sobre o uso da tecnologia nos pacientes idosos e influenciar diretrizes futuras para o cuidado pré-operatório deles.  

Autoria

Foto de Gabriel Madeira Werberich

Gabriel Madeira Werberich

Possui graduação em Medicina pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (2009). Residência de Clínica Médica pela UERJ/Hospital Universitário Pedro Ernesto(HUPE)/Policlínica Piquet Carneiro(PPC). Residência Medica em Oncologia Clínica pelo Instituto Nacional de Câncer (INCA). Fellowship (R4) de Oncologia Clínica no Hospital Sírio Libanês (2016). Concluiu a residência médica de Radiologia e Diagnóstico por Imagem no HUCFF-UFRJ e R4 de Radiologia do Centro de Imagem do Copa Dor, com ênfase em Ressonância Magnética de Medicina Interna, e mestrado em Medicina na UFRJ concluído em 2023. Tem experiência na área de Clínica Médica, Oncologia Clínica e Diagnóstico por Imagem em Tórax, Medicina Interna e Radiologia Oncologica. Pos-Graduação em curso de Inteligencia Artificial aplicada a Saúde.

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