A incidência do câncer colorretal vem aumentando cada vez mais pelo mundo, ocupando a quarta maior causa de mortalidade entre as neoplasias mundiais.
O acometimento do reto é comum nesses tipos de tumores e cada vez mais tem conseguido bons resultados para tratamento dessa doença, em virtude do avanço tecnológico e de terapias neoadjuvantes para preservação anal e manutenção da qualidade de vida desses pacientes.
Sabemos que fístulas que ocorrem após anastomose colorretal podem levar a complicações pós-operatórias graves e a reoperações, e até óbitos em alguns casos e muitos fatores estão envolvidos para ocorrência daquelas. A confecção de estoma protetor, com desvio do trânsito intestinal, de forma temporária, é uma alternativa para minimizar essa grave complicação. Mas será que ela deve ser feita em todos os casos?
Um estudo publicado na Revista Mundial de Cirurgia Oncológica (WJSO) neste ano de 2025 teve por objetivo fazer uma análise dos fatores envolvidos e indicativos para confecção ou não de estomas protetores em cirurgias radicais para tratamento de câncer retal e através dessa análise, criar um modelo de predição de risco para confecção dos estomas.
Veja também: Técnicas de colostomia não alteram frequência de hérnia paraestomal
Métodos
Foi realizada uma análise qualitativa com dados extraídos de nove artigos publicados entre os anos de 2017 e 2024, em bases bibliográficas da China, Taiwan e Grécia, envolvendo terapias de tratamento radical em neoplasia de reto. As análises estatísticas foram feitas utilizando uma ferramenta de avaliação de risco de viés e aplicabilidade chamada PROBAST (Prediction Model Risk of Bias Assessment Tool), além dos índices AUC e índice C para qualificação dos artigos.
Resultados
As amostras populacionais nos nove artigos selecionados variaram entre 116 e 1020 casos. Os índices AUC/C variaram entre 0,612 e 0,942, o que demonstra um bom desempenho para os modelos de predição.
Oito dos nove artigos selecionados apresentou alto índice de viés em relação ao desenho do estudo retrospectivo, por registro incompleto dos prontuários, prejudicando a análise dos preditores.
Outro viés destacado foi em relação a um estudo multicêntrico publicado por Yang Su (2024), na China, em que variações e peculiaridades de cada população interferiram neste resultado.
Seis dos nove artigos também destacaram amostragem insuficiente para atender os critérios de razão evento/variável (VPE), encontrando-se inferior a 20, aumentando ainda mais o viés de amostragem.
Discussão
Após análise estatística realizada, destacam-se alguns preditores envolvidos nesse artigo que apresentaram interferência para confecção de estoma temporário, e até definitivo em alguns casos, tais como: estadiamento TNM; quimiorradioterapia prévia; nível sérico do antígeno carcinoembrionário (CEA) e nível do ASA pré-operatório.
Sabemos que pacientes que apresentam estadiamento TNM avançado, apresentam maior disseminação da doença, dificuldade de ressecabilidade e risco aumentado de complicações pós-operatória, necessitando assim de confecção de estomas protetores temporários e, por vezes, definitivos.
A quimiorradioterapia também pode interferir no aumento da resposta inflamatória e fibrose tecidual, promovendo menor vascularização em uma possível anastomose e consequentemente fístula e complicações. O nível de CEA avançado geralmente acompanha uma doença neoplásica com maior avanço também, aumentando mais ainda a chance de um estoma definitivo.
E para finalizar, o nível ASA pré-operatório elevado reflete um paciente em pior condição clínica a submeter ao procedimento cirúrgico, aumentando muito a chance de uma confecção de estoma definitivo.
Importante destacar que esses fatores não devem ser analisados de formas isolada, podendo ocorrer viés de seleção caso isso ocorra. Cada paciente e suas comorbidades devem ser analisadas em um contexto multidisciplinar, entre a equipe cirúrgica, para decisão de uma confecção ou não de um estoma protetor.
Conclusão
A confecção de estoma temporário em cirurgia radical para neoplasia de reto deverá ser discutida e analisada entre a equipe cirúrgica e multidisciplinar, não havendo atualmente um consenso que determine ou não a confecção daquele. Alguns preditores podem ajudar na decisão para confecção desses estomas, mas até o momento, não há uma regra clara. São necessários maiores estudos para futuras decisões.
Mensagem prática:
1 – A confecção de estoma protetor em cirurgia radical em neoplasia de reto não deve ser realizada em todos os casos.
2 – A decisão da confecção ou não do estoma deve ser individualizada e a abordagem deve ser multidisciplinar entre a equipe cirúrgica e o paciente.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.