A dexametasona é um medicamento largamente utilizado na indução anestésica como primeira linha para profilaxia de náuseas e vômitos para o período pós-operatório e alguns estudos mostram que o seu uso está associado à hiperglicemia. Estudos observacionais mostram que a hiperglicemia durante o período perioperatório está associada a maior risco de infecção de ferida operatória, pneumonia, sepse e eventos adversos cardiovasculares.
Estudo
Mediante essa questão, foi realizado um ensaio triplo-cego, randomizado e multicêntrico, com o objetivo de responder 2 questões principais: a glicemia perioperatória é diferente após a administração de uma dose única de 4 mg de dexametasona, 8mg de dexametasona ou um placebo na indução anestésica? Existe uma correlação entre o controle hiperglicêmico pré-operatório de um paciente (avaliado pela hemoglobina glicada) e o efeito da dexametasona nas concentrações máximas de glicose no sangue no período pós-operatório?
Pacientes foram selecionados e randomizados em dois grupos: diabéticos e não-diabéticos. Cada grupo foi subdividido em controle, Dexa4 e Dexa8 (administração de placebo, 4mg e 8mg de dexametasona na indução anestésica, respectivamente). Foram analisados os níveis de glicemia perioperatória e a correlação entre a hemoglobina glicada (Hbc) pré-operatória e os valores máximos de glicemia no pós-operatório, além de outras variáveis secundárias.
Resultados e discussão
Um aumento progressivo da glicemia durante o período perioperatório foi comum em todos os pacientes que receberam placebo, tanto do grupo dos diabéticos quanto dos não-diabéticos. Uma dose única de dexametasona (4 ou 8mg) não influenciou significativamente essas alterações em pacientes não-diabéticos e na maioria dos pacientes diabéticos 24h após a cirurgia.
Já a correlação entre Hbc e glicemia pós-operatória mostrou que pacientes com Hbc controlada (<6,5%) no pré-operatório não apresentaram aumentos significativos de glicemia após a cirurgia nos 3 grupos (placebo, 4mg, 8mg). Entretanto, pacientes com Hbc não-controlada no pré-operatório tiveram aumentos significativos da glicemia na dose de 8mg de dexametasona, não havendo diferenças para placebo e dose de 4mg.
Como as doses de 4mg e 8mg de dexametasona possuem eficácia similar na prevenção e tratamento de náuseas e vômitos no pós-operatório, o estudo sugere que a dose de 4mg seja preferida nesta abordagem.
Vale lembrar, que por medida de segurança, foram excluídos do estudo pacientes que apresentavam Hbc muito elevada no pré-operatório (> 9,1%), portadores de hemoglobinopatias, doença hepática moderada a grave, doença renal terminal e doença maligna.
Leia também: Dexametasona em baixa dose como tratamento para sangramento menstrual intenso
Conclusão
Embora o mecanismo antiemético da dexametasona permaneça incerto, as diretrizes para profilaxia e tratamento de náuseas e vômitos pós-operatórios recomendam seu uso durante a indução anestésica como agente de primeira linha. Na realidade do sistema único de saúde do Brasil, onde pacientes penam por conseguir atendimento ambulatorial e realização de exames, a dose de 4mg de dexametasona seria mais acertiva, evitando que doses maiores sejam administradas em pacientes com descontrole glicêmico pré-operatório (Hbc elevadas) e dessa forma diminuindo o risco de complicações.
Referências bibliográficas:
- Corcoran TB, O’Loughlin E, Chan MTV, Ho KM. Perioperative ADministration of Dexamethasone And blood Glucose concentrations in patients undergoing elective non-cardiac surgery – the randomised controlled PADDAG trial. Eur J Anaesthesiol. 2021 Sep 1;38(9):932-942. doi: 10.1097/EJA.0000000000001294. PMID: 32833858.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.