O uso de drenos e tratamento de hérnias ventrais sempre andam em conjunto. As ocorrências de sítio cirúrgico, incluindo as infecções de sítio cirúrgico, sem dúvida são as complicações mais frequentes após as hernioplastias. O uso de dreno possui algumas correntes e ambas com algum grau de razão.
Por um lado, a utilização de dreno pode diminuir a formação de seromas e hematomas e com isso diminuir eventuais complicações infecciosas posteriores diminuindo o sucesso do tratamento das hérnias ventrais. Por outro lado, alguns autores advogam que o uso do dreno pode proporcionar uma porta de entrada com a formação de biofilme e posterior infecção do seroma que se formou.
Quando estamos falando de um posicionamento de uma tela retromuscular, há algumas vertentes que devem ser apuradas. A tela retromuscular é rapidamente incorporada pelo músculo, em parte por sua grande vascularização, e com isto pode ser esperado uma menor ocorrência de seromas. Questiona, assim, o uso rotineiro de drenos nesse cenário.
Um recente trabalho publicado sobre o tema teve por objetivo averiguar se a não drenagem do espaço retromuscular traz alguma repercussão para o paciente.
Métodos
Ensaio clínico randomizado em dois braços: drenagem e não drenagem de pacientes submetidos à hernioplastia ventral com implante de tela retromuscular. Todos os pacientes possuíam hérnias da linha média até 4 cm de extensão. O dreno era retirado quando a drenagem era inferior a 20 mL/dia.
O desfecho analisado foi a presença de seroma e/ou hematoma com 14 e 30 dias de pós-operatório. Os seromas foram analisados com a utilização de ultrassom durante a consulta. Como de rotina, os desfechos secundários incluíram as complicações associadas.
Resultados
Ao total, foram randomizados 42 pacientes para cada braço. Houve um equilíbrio dos dados epidemiológicos entre os grupos, com um IMC médio de 30,2 kg/m2 e idade média de 57,8 anos.
O grupo drenagem apresentou um volume residual de líquido significativamente menor nos 14 e 30 dias de observação, com 75% de redução com 14 dias e praticamente nenhum volume residual aos 30 dias sendo 0,2 ml e 25,8 mL (p<0,001).
Ademais, 2 pacientes do grupo sem drenagem necessitaramm de intervenção para evacuação hematoma. Não houve infecção de sítio cirúrgico em nenhum paciente do estudo. O tempo médio de internação foi de 6,5 dias no grupo drenagem e 4 dias no grupo sem dreno (p=0,01). No grupo sem dreno, também houve uma menor demanda de uso de medicações para controle álgico.
Discussão
Esse estudo evidenciou que o uso de drenos no espaço retromuscular diminui a ocorrência de eventos da ferida operatória. O mesmo achado foi encontrado em alguns outros estudos, porém esses estudos não diferenciavam o posicionamento do dreno. O fato desse estudo ter um dreno exclusivo para o espaço retromuscular diminui fatores confundidores.
Não houve infecção de sítio cirúrgico e em parte pode ser ao menor porte das cirurgias do estudo, que não realizaram liberação da musculatura lateral. Vale frisar que dois pacientes necessitaram de reintervenção e ambos estavam no grupo sem drenagem, complicação essa que teoricamente poderia ter sido evitada com o uso de dreno.
Apesar do uso de dreno ter diminuído as ocorrências de sítio cirúrgico, com os drenos, os pacientes permaneceram maior tempo internados e com maiores doses de analgesia.
Em conclusão, os drenos não são inócuos e permitem um melhor controle das ocorrências adversas de sítio cirúrgico. No entanto, carreiam um maior tempo de internação hospitalar assim como maiores doses de analgésicos.
Para levar para casa
Os drenos possuem um benefício e uma comorbidade associada, e, portanto, o uso do dreno deve ser criterioso. No referido estudo, a utilização de drenos diminui coleções a um preço de uma maior interação. Particularizar o uso é fundamental, pois uma internação prolongada pode ser extremamente ruim para uma parcela da população.
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