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Cirurgia19 novembro 2020

Dieta no perioperatório: o uso de chicletes é recomendável em cirurgias colônicas?

Apesar de recomendado, o uso de chicletes em cirurgias numa revisão da Cochrane de 2015 foi inconclusiva. Este estudo reavaliou a questão.

Por Felipe Victer

Existem diversos mitos na cirurgia que, felizmente, estão sendo quebrados ao longo destes últimos anos; mais notadamente sobre a dieta no período perioperatório. Os novos protocolos, como o ERAS, estão propondo cada vez mais jejuns mais curtos, e reintrodução da dieta ao despertar da anestesia em diversos procedimentos.

Porém, nem todos os procedimentos cirúrgicos são plausíveis de terem a dieta liberada tão precocemente. Outros podem apresentar íleo pós-operatório não sendo possível a reintrodução da dieta. O íleo é a complicação mais frequente após cirurgia que envolva anastomoses digestivas e corresponde a um grande aumento do tempo de internação hospitalar. Uma manobra interessante do ponto de vista fisiológico é a estimulação do tubo digestivo através do reflexos mastigatório, sem a oferta de alimentos como ocorre no uso de balas e chicletes.

Apesar de recomendado por diversos artigos, o uso de chicletes numa revisão da Cochrane de 2015 foi inconclusiva. O objetivo deste trabalho publicado por Roslan e cols. foi prover uma melhor fonte de dados para que possa prover um melhor substrato estatístico. Utilizou como parâmetros cirurgia colônica com ou sem anastomose e o principal ponto a ser observado seria o desenvolvimento de íleo pós-operatório.

médico em cirurgias

Chicletes e cirurgias

O estudo foi uma meta-análise com artigos publicados no medline de 2000 a 2019, com ensaios clínicos que comparavam o uso de chiclete com o controle em pacientes submetidos a colectomias, seja aberta ou convencional.

Resultados

Um total de 16 artigos encontrados, 10 foram analisados de forma quantitativa, perfazendo um total de 970 pacientes sendo 481 do grupo chiclete e 489 controle. Os estudos analisados apresentaram resultados dispares em relação a íleo e ao tempo para eliminação de flatos sendo alguns favoráveis e outros não favoráveis ao uso de chicletes.

Na análise do conjunto dos artigos e compilação dos pacientes, houve uma melhor evolução ao utilizar chiclete com taxas de íleo pós-operatório variando de 6 a 27 % versus 14 a 48% sem chiclete (razão de chance de 0,55; p=0,0009). Da mesma forma o tempo para a eliminação de gases e para eliminação de fezes foram menores nos pacientes que mascaram chicletes.

Mais do autor: Impacto do diâmetro de grampeadores circulares nas taxas de fístulas e estenoses

Discussão

Nesta revisão sistemática, o uso de chiclete no pós-operatório de cirurgias colônicas se mostrou eficaz para diminuir íleo pós-operatório assim como o tempo necessário para a eliminação de flatos. No entanto não houve diminuição significativa no tempo total de internação ou mortalidade.

A seleção apenas de paciente adultos submetidos a colectomias, diminui fatores confundidores uma vez que a amostra analisada se torna mais homogenia. No entanto, um limitante deste estudo é que não existe uma definição clínica para íleo pós-operatório e com isto algumas divergências podem ocorrer entre os artigos. Uma forma de mitigar esta questão foi a análise dos critérios utilizados por cada artigos, e após isto foi verificado que não havia grandes diferenças de definição.

Também não houve definição de quanto tempo o paciente deveria mascar o chiclete e quantas vezes ao dia.

Conclusão

Esta meta análise com dez ensaios clínicos de boa qualidade, mostrou a eficácia do uso de chiclete na diminuição do íleo pós-operatório. Esta patologia é multifatorial e não podemos apenas creditar no uso de chiclete para a solução deste complexo problema.

Para levar para casa

Sem dúvida a utilização de reflexos fisiológico, sem o uso de fármacos para a melhoria, ou evitar, condições patológicas é uma solução bastante coerente. Entretanto, existem cautelas para o seu uso, como, por exemplo, o nível de consciência, uso de próteses dentárias e até mesmo o gosto pessoal do paciente. Não acredito ser producente forçar mascar chicletes em pacientes que não gostem ou que nunca tenham feito.

Porém, acredito que devemos ter sempre isto no nosso arsenal e quando utilizado toda a equipe deve estar acostumada com o uso uma vez que o paciente deve ser monitorado para não deglutir o chiclete ou até para não dormir com o mesmo na boca.

Referência bibliográfica:

  • Roslan, F., Kushairi, A., Cappuyns, L. et al. The Impact of Sham Feeding with Chewing Gum on Postoperative Ileus Following Colorectal Surgery: a Meta-Analysis of Randomised Controlled Trials. J Gastrointest Surg 24, 2643–2653 (2020). https://doi.org/10.1007/s11605-019-04507-3
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