Diagnóstico e tratamento do câncer de bexiga
O câncer de bexiga é a segunda neoplasia urológica em termos de prevalência, sendo mais frequente na faixa etária 50-70 anos e em homens.
O câncer de bexiga é a segunda neoplasia urológica em termos de prevalência, sendo mais frequente na faixa etária 50-70 anos e no sexo masculino. Mais de 90% dos casos de câncer de bexiga consistem de tumores derivados de células transicionais, sendo o restante CEC e adenocarcinomas.
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Quais são os fatores de risco?
- Tabagismo cumulativo e dose-dependente;
- Radioterapia pélvica
- Anilina, benzina;
- Corantes;
- Ciclofosfamida;
- Corpo estranho intravesical.
Em geral, o principal responsável pela neoplasia de bexiga é o tabagismo, assumindo quase 50%. Demais fatores de risco são aqui listados e conferem risco para desenvolvimento da neoplasia por causarem agressão à mucosa.
Qual a apresentação clínica?
Hematúria macro ou microscópica, indolor, recorrente, não justificada por demais causas.
Sintomas irritativos no quadro inicial, a saber: urgência, disúria, polaciúria. Sintomas obstrutivos pelo caráter mais agressivo e invasivo de algumas lesões também podem sobrevir.
Como é realizado o diagnóstico?
Citoscopia mais biópsia. Complementar investigação com TC. EAS também complementa investigação e auxilia seguimento, devido a citologia oncótica (atenção para similaridade com carcinoma urotelial como foi abordado no texto sobre câncer renal).
Como é o estadiamento?
Ta | Tumor papilífero não invasivo |
T1 | Invasão de tecido conectivo subepitelial. |
T2 | a Invasão do tecido muscular superficial. b Invasão do tecido muscular profundo. |
T3 | a Invasão do tecido perivesical microscopicamente. b Invasão do tecido perivesical macroscopicamente. |
T4 | a Invasão de tecidos adjacentes: próstata/útero/vagina. b Invasão do parede abdominal/pélvica. |
N1 | Único na pelve verdadeira: obturador, hipogástrico, ilíaco externo, pré-sacral. |
N2 | Múltiplos na pelve verdadeira. |
Como se trata?
Ta | Ressecção transuretral + tratamento intravesical adjuvante, mediante características de lesão agressiva:
– Recidiva; – Tis associado; – > 3 cm; – Alto grau; – Multiplicidade; – Indiferenciada. |
T1 | |
T2 | Cistectomia radical + linfadecentomia pélvica bilateral + derivação urinária. |
T3 | Cistectomia radical + linfadecentomia pélvica bilateral + derivação urinária + quimioterapia adjuvante. |
T4 | Quimioterapia, derivação urinária se necessária. |
Além da cessação do tabagismo.
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Observações:
80% das lesões são superficiais, entretanto há importante risco de recidiva, principalmente, se as lesões forem multifocais, de grande volume e indiferenciadas. Além disso, essas características determinam um risco que pode chegar até a 20% de evolução das lesões superficiais para tumores invasivos da camada muscular.
Após 2-4 semanas de ressecção transuretral, deve-se repetir o procedimento em pacientes T1, quando a amostra da biópsia não teve tecido muscular, ressecção inicial incompleta.
No que consiste a cistectomia radical?
Nos homens, implica na retirada da bexiga + próstata + vesículas seminais = cistoprostatectomia radical.
Nas mulheres, implica na retirada da bexiga + útero + anexos = exenteração pélvica.
Quais são as formas de se realizar a derivação urinária?
A escolha pelo método de derivação urinária depende da idade do paciente, comorbidades que ele apresenta e grau de invasão da lesão localmente.
A derivação mais próxima do fisiológico é a neobexiga ortotópica:
– Indicações: pacientes jovens, segmento intestinal a ser utilizado sem alterações, sem comprometimento linfonodal ou do colo vesical ou da uretra (especialmente prostática), competência esfincteriana, o tumor não é avançado localmente; função renal adequada;
– É caracterizada por manutenção das funções de armazenamento e esvaziamento urinário, sem exclusão do trato urinário, a partir de um segmento de alça intestinal no qual são anastomosados ureteres e uretra.
Se houve lesão na uretra/colo vesical, opta-se por derivação externa.
Outra derivação possível é a cirurgia de Bricker:
- Indicações: idosos, portadores de múltiplas comorbidades, tumor localmente avançado;
- É caracterizada por anastomose dos ureteres ao reservatório ileal, porém não a uretra. Diferentemente da neobexiga ortotópica, aqui realiza-se uma ileostomia cutânea.
Quais são as indicações para realização de cistectomia parcial?
- Solitários;
- Não recidivados;
- Margens livres e bem definidas;
- Longe do trígono vesical;
- Sem carcinoma in situ
O grande risco é que o tecido vesical remanescente continua exposto ao fator de risco que levou ao aparecimento da lesão primária, levando a possibilidade real de recidiva.
Quais as complicações esperadas das derivações urinárias?
- Utilização do jejuno: acidose metabólica hipercalêmica, hiponatrêmica e hipoclorêmica.
- Utilização do íleo: acidose metabólica hiperclorêmica.
Quais são os tratamentos intravesicais?
Todos os tratamentos visam aumentar o intervalo de evolução de lesão recidivante.
- Quimioterapia intravesical: realizada com tiotepa, mitomicina, epirrubicina. Dose única e imediatamente após ressecção (até 24 horas após).
- BCG: cepas atenuadas do Mycobacterium bovis. É mais efetiva que a quimioterapia intravesical, principalmente em tumores de alto risco.
Se não responsivo a essas terapias, opta-se por cistectomia radical.
Referências bibliográficas:
- Wein AJ, et al. Campbell Walsh Urologia. Rio de Janeiro: Elsevier. 2019.
- Bellucci CHS, et al. Urologia MEDCEL. São Paulo: Medcel. 2019.
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