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Cirurgia11 maio 2020

Devemos ensinar à população como se utiliza o torniquete?

O uso de desfibriladores automáticos e ensinamentos de como agir em paradas cardíacas deu margem para dois estudos sobre o uso de torniquetes por leigos.

Por Felipe Victer

A compressão do local de sangramento tem sido a manobra mais difundida para o controle da hemorragia, com ótimos resultados na grande maioria dos casos. No entanto, durante as guerras do Iraque e Afeganistão o exército americano conseguiu reduzir o número de mortes evitáveis com o uso de torniquetes em sangramentos vultuosos de extremidade. Junto a isto temos um aumento do número de ataques com arma de fogo a alvos civis especialmente com aglomerações de pessoas e com uso de projetis de alta velocidade e bombas.

Isto fez com que a o governo dos Estados Unidos lançasse uma campanha para “Parar o Sangramento” (Stop the Bleed), com o intuito de informar sobre atitudes que poderiam ser benéficas em caso de ataques em massa. O sucesso do uso de desfibriladores automáticos e ensinamentos de como proceder em paradas cardíacas baseou o início desta ideia.

Torniquete

Dois estudos com desenho bastante semelhantes foram publicados no início deste ano de 2020 que podem basear ainda mais o uso de torniquetes por leigos.

Estudo A

Grupo de voluntários sem nenhum tipo de ensino na área de saúde e/ou emergência foram distribuídos em 4 grupos. Cada grupo recebia um tipo de torniquete disponível comercialmente. Os voluntários teriam acesso ao manual de instrução do torniquete e deveriam aplicar em um manequim que simulava um membro com sangramento ativo.

Estudo B

Também utilizando grupos de voluntários, desta vez em três grupos. Não haveria manual de instruções, porém as informações seriam passadas por um telefone, sendo que dois grupos receberiam um kit comercialmente disponível e o terceiro grupo faria um torniquete improvisado utilizando tiras de pano ou uma camisa que estivesse disponível. Este tipo de torniquete com pano se mostrou mais efetivo que o torniquete com cintos. Alguns voluntários já haviam recebido treinamento de primeiros socorros.

Apesar de algumas pequenas diferenças, os dois estudos tinham como objetivo avaliar em quanto tempo o voluntário colocaria o torniquete e se este estaria eficaz, visto que o manequim possuía um sistema de verificação da pressão aplicada e efetiva parada do sangramento.

Leia também: Quais as possíveis causas da lesão nervosa pós-operatória?

Resultados

Ambos estudos descrevem alguma dificuldade dos voluntários em aplicarem o torniquete. A instrução por telefone foi efetiva para esclarecer dúvidas (estudo B) e até o modelo improvisado apresentou bons resultados de controle da hemorragia. No entanto um modelo comercial utilizado no estudo A apresentou um alto nível de falha. Este modelo específico é baseado no uso de um tecido elástico associado a aplicação de velcron. Os demais modelos comerciais e até o modelo improvisado utiliza algum tipo de alavanca para uma melhor aplicação da força.

Discussão

Os dois estudos reforçam a ideia que os torniquetes podem ser aplicados pela população leiga. Isso se torna especialmente útil em situações de calamidade como tiroteios, que o tempo de resposta pode ser mais longo devido a grande demanda de casos. Também foi evidenciado nos resultados que alguns tipos de torniquetes podem não apresentar resultados satisfatórios e que houve dificuldades na aplicação dos diferentes tipos de torniquete. Isso poderia ser melhorado com uma política de conscientização pública de como aplicar corretamente o torniquete, visto que é um método eficaz para a espera do socorro médico.

Veja também: Controle o sangramento! Segundos fazem a diferença

Na realidade do Brasil

Os tipos de acidentes e necessidades de uso do torniquete no Brasil pode diferenciar um pouco daquela utilizada nos EUA. Devemos lembrar que grande parte dos acidentes de extremidades ocorrem nos locais de trabalho e que muitos destes são informais ou autônomos. Usualmente as grandes empresas, especialmente aquelas que utilizam maquinário pesado, possuem uma equipe de resposta a acidente de trabalho com paramédicos habilitados a atuarem nesta situação. É impossível determinar quanto tempo uma pessoa pode esperar enquanto possui um sangramento ativo. Em resumo o uso de torniquetes é método que auxilia a espera do socorro, ou até mesmo o transporte para o local adequado e com isto um número de óbitos podem ser evitados.

Referências bibliográficas:

  • Portela RC, et al. Application of different commercial tourniquets by laypersons: Would public-access tourniquets work without training? Acad Emerg Med 2020 Apr; 27:276. https://doi.org/10.1111/acem.13857
  • Scott G, et al. Ability of layperson callers to apply a tourniquet following protocol-based instructions from an emergency medical dispatcher. Prehosp Emerg Care 2020 Mar 3; [e-pub]. https://doi.org/10.1080/10903127.2020.1718259
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