O cistadenoma seroso do pâncreas (CSP) é uma lesão benigna, que corresponde a cerca de 15% dos cistos pancreáticos. Tem crescimento lento e ocorre, na maioria das vezes (60%) em mulheres entre a 5ª e 7ª década de vida. O desafio diagnóstico ainda é um fator importante no manejo dessa patologia que, na maioria das vezes é assintomática. Entretanto, em alguns casos, pode cursar com dor, pancreatite e obstrução do ducto pancreático.
O diagnóstico correto do cistadenoma é importante diante da necessidade de excluir doenças com potencial de malignização, como as neoplasias císticas mucinosas e, além disso, evitar cirurgias com alta morbidade para quadros puramente benignos e assintomáticos. Dessa forma, a recomendação atual para ressecção cirúrgica é em casos sintomáticos ou com dúvida diagnóstica.
Um artigo publicado em março de 2025 fez um levantamento em centro de expertise de cistoadenoma em um hospital vinculado a Havard Medical School em Boston, EUA. O estudo envolveu 250 pacientes com cistoadenoma seroso do pâncreas tratados com cirurgia ou com seguimento conservador e teve como objetivo descrever as características clínicas e epidemiológicas, bem como os padrões morfológicos e taxa de crescimento desse tumor.
Métodos
Trata-se de um estudo retrospectivo, no qual os pacientes foram divididos em dois grupos, sendo um correspondente a diagnóstico certo, que englobou pacientes com característica típica de cistoadenoma em exames de imagem (cicatriz central em corte transversal) e/ou anatomopatológico comprovando CSP ou análise molecular com mutação von Hippel-Lindau.
O outro grupo, diagnóstico provável, envolveu pacientes com exames de imagem apresentando lesão com aparência microcística ou níveis baixos de antígeno carcinoembrionário (CEA) no fluido do cisto.
Aspectos observados
Dentre os 250 pacientes avaliados, 65% eram mulheres e 34% foram sintomáticos, sendo que em 29% dos pacientes os sintomas já estavam presentes no momento do diagnóstico e, nos outros 5%, os sintomas apareceram ao longo do acompanhamento.
Dor abdominal foi o sintoma predominante (25%), seguido por perda ponderal (9%), pancreatite (6%) e icterícia (3%). A média do tamanho da lesão foi de 3,4cm, com variação entre 0,6 cm e 20 cm. Em relação à localização, a maioria (64%) foi encontrada na parte distal do pâncreas. Os padrões morfológicos foram, para a maioria (58%), microcísticos, seguido por macrocísticos (16%), padrão misto (23%) e sólido (3%). Em 62% dos pacientes o padrão era de crescimento e, nos outros 38%, exofítico. Foram identificados dilatação do ducto pancreático em 22% dos pacientes e atrofia do pâncreas em 14%. A ressecção cirúrgica foi realizada em 69% dos pacientes e seguimento conservador foi realizado em 31%.
Os dados obtidos revelaram associação entre o tamanho do tumor e alguns aspectos chaves, sendo que em pacientes com lesões maiores do que 4,0 cm houve maior taxa de sintomas (48% vs 24%, p<0,001), cicatriz central (44% vs. 22%), dilatação do ducto biliar e pancreático (11% vs 2%, p=0,011 e 32% vs. 15%, p<0,001; respectivamente), calcificação (34% vs 16%, p=0,001), atrofia do pâncreas (23% vs. 8%, p< 0,001), ressecção cirúrgica (78% vs. 62%, p=0,005) e menores taxas de realização de ultrassom endoscópico (45% vs. 62%, p= 0,013).
Dentre 172 pacientes submetidos à cirurgia, a duodenopancreatectomia foi realizada em 46%. Assim, 37% foram submetidos à pancreatectomias distal e 17% a pancreatectomias total. A suspeita inicial de cistoadenoma pancreático foi levantada em 33% desses pacientes.
O que podemos levar para casa?
O cistoadenoma seroso do pâncreas é uma lesão benigna, na maioria das vezes assintomática e com crescimento lento. Entretanto, alguns pacientes, especialmente os com tamanhos maiores, são sintomáticos.
Apesar de existir um sinal patognomônico dessa lesão, tumor composto por múltiplo cistos com uma cicatriz central, esse sinal está presente apenas na minoria. Outros fatores devem ser considerados no diagnóstico do cistoadenoma.
A dúvida em relação ao diagnóstico é uma indicação para cirurgia. Entretanto, deve-se considerar a morbidade associada à cirurgia, em se tratando de pancreatectomias e, principalmente, duodenopancreatectomias, que apresentam alta morbidade. Quanto maior a acurácia no diagnóstico, menos indicação de cirurgias agressivas para causas benignas e assintomáticas.
Veja também: Cistos pancreáticos: 7 perguntas essenciais para vigilância
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