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Afinal, qual é a aplicação do uso de probióticos em pacientes graves em CTI, especialmente os portadores de pneumonia? Esse é um dos temas da palestra realizada nesta quinta, 29 de novembro, no Congresso Brasileiro de Medicina Intensiva (CBMI 2018).
Bom, a princípio vamos lembrar apenas como se desenvolve pneumonia associada à ventilação. Você se lembra da fisiopatogenia? Bom, para os que não se recordam, ela se baseia em microaspiração e translocação bacteriana. Os pacientes são tratados com antibioticoterapia.
Olhando a etimologia da palavra, sabemos que antibióticos são “contra a vida”. Como assim? Eles não agem contra os patógenos? Sim, não estamos negando isso. Entretanto, esses medicamentos apresentam uma ação importante contra a flora comensal, diminuindo de forma significativa, contribuindo num processo de disbiose. Logo, ao “atacar” os que causam as doenças nos pacientes, como dano colateral, as bactérias próprias também são destruídas.
No intuito de evitar diminuição drástica a longo prazo dessa flora bacteriana, levantam-se os probióticos. São úteis ao:
- contribuir na formação de uma barreira intestinal,
- atenuar crescimento de superpatógeno,
- diminuir a translocação bacteriana,
- prevenir infecções,
- modular a resposta imune do hospedeiro localmente no trato gastrointestinal e sistematicamente.
Desta forma, a longo prazo teria impacto positivo em pacientes portadores de pneumonia associada à ventilação. Com base em tantos benefícios, seria justificável sua aplicação.
Entretanto, os probióticos são altamente contraindicados, não devendo ser utilizados em nenhuma hipótese em pacientes imunossuprimidos de qualquer etiologia. Somada a esse prejuízo, está a possibilidade de gerar dano quando usado inadequadamente e de não promover impacto na taxa de mortalidade. Dessa forma, só foi encontrado um estudo falando sobre seu uso, Guideline Francês, com nível de evidência moderado.
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A palestrante concluiu que deve-se utilizar probióticos em pacientes criteriosamente selecionados, pela promessa na redução da infecção, incluindo a pneumonia. A especialista questiona a inexistência de um estudo multicêntrico randomizado comparando probiótico e placebo, também reflete que os pacientes das amostras dos pequenos estudos de caso existentes são muito heterogêneos, gerando viés a qualquer das conclusões já propostas.
Enquanto não se protocola o uso destes nos CTIs, e caso onde você trabalha não quiser administrar probióticos enquanto o assunto não estiver tão questionado entre os especialistas, pode-se recorrer à descolonização de orofaringe (enxaguante bucal como Cepacol, 4x/dia), medida já adotada mundialmente, no intuito de se atacar a microaspiração como causa de doença.
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