O uso da cirurgia robótica tem aumentado de forma global, devido as suas vantagens já conhecidas, tais como ser uma técnica minimamente invasiva, promover melhora da precisão cirúrgica e da ergonomia para o cirurgião, visualização tridimensional e refinamento de suturas.
Países ocidentais, tais como Estados Unidos, Reino Unido e alguns da Europa têm utilizado amplamente a tecnologia robótica, em comparação com países orientais. Mas será que esta disparidade de uso da tecnologia no Ocidente tem um motivo em relação ao Oriente?
O objetivo de uma revisão recentemente sobre o tema foi comparar o uso da tecnologia robótica nos países ocidentais e orientais, destacando seus benefícios e utilização no meio cirúrgico atual nestes países.

Métodos
Trata-se de uma revisão sistemática e metanálise, realizada no período entre janeiro de 2009 a abril de 2025, reunindo 45 estudos, com busca de dados no PubMed, EMBASE e na Biblioteca Cochrane, a respeito de cirurgia robótica e a busca delas feitas no mundo ocidental e oriental, tipos de cirurgia, custos e complicações. As análises estatísticas foram feitas no programa STATA v17.0 e RevMan 5.4 software.
Resultados
Após análises estatísticas, houve um aumento extremamente significativo em cirurgias robóticas nos Estados Unidos, entre 2012 e 2018, em cirurgias colorretais (+950%) e reparo de hérnias (+870%). Na Alemanha e França, as cirurgias robóticas dobraram entre 2015 e 2023, com aumento de 22% em 2023.
No leste asiático, o Japão também apresentou taxas de aumento de cirurgia robótica de 1,5% para 13,2% em um intervalo de 8 anos. A Coréia do Sul e China apresentaram uma aceleração mais lenta, juntamente com países emergentes, tais como Brasil e Emirados Árabes Unidos.
Analisando a perda sanguínea da cirurgia robótica e taxa de conversão para cirurgia aberta, uma metanálise da Cochrane com 3400 pacientes submetidos a cirurgia robótica colorretal, apresentou uma redução da perda estimada de sangue em 85 ml e uma redução de taxa de conversão para cirurgia aberta de 25% (RR 0,75; IC 95%: 0,63–0,89) em comparação com a via laparoscópica.
Uma outra revisão da EMBASE com 17892 pacientes evidenciaram que os pacientes tiveram redução no tempo de internação hospitalar de 1,2 dias após serem submetidos a tratamento cirúrgico de hérnia por via robótica e menor redução de seromas em 30% (RR 0,70; IC 95%: 0,55–0,88), apesar de maior tempo operatório de 32 minutos (IC 95%: + 25 a + 39 minutos).
Em contrapartida, a cirurgia robótica, comparada à laparoscopia, apresenta custos mais elevados com sua manutenção e avanço das novas tecnologias. Dados do Reino Unido evidenciaram um aumento de aproximadamente 4800 dólares em colectomia robótica comparada com a laparoscopia.
Para se ter uma ideia, uma cirurgia de colecistectomia, por via robótica, apresentou um aumento de 20-35% nos custos, comparado com a laparoscopia. Uma alternativa para estes gastos elevados é o surgimento e incentivo de novas plataformas mais econômicas (sistema Senhance; sistema Hugo RAS; sistema Avatera) que as atuais (sistemas daVinci®), com utilização de dispositivos estéreis descartáveis e sistemas reutilizáveis, sem perder a qualidade do procedimento.
Outros custos que foram evidenciados foram o alto tempo de sala cirúrgica, com baixa rotatividade entre as cirurgias, com acréscimo de 20 a 30 minutos por procedimento cirúrgico; além custos elevados de treinamento e curvas de aprendizado, apesar da proficiência ser alcançada de forma mais rápida que a laparoscopia.
Leia também: Eficácia da cirurgia robótica versus laparoscópica e aberta
Discussão
A cirurgia robótica tem se destacado cada vez mais no mundo atual, e as vantagens desta em relação à laparoscopia são inúmeras, tais como a melhora da ergonomia do cirurgião, melhor visualização tridimensional, melhor performance do procedimento e melhor desfecho da cirurgia. Acompanhado desses benefícios, países do Ocidente, tais como Estados Unidos, França e Alemanha, têm utilizado esta tecnologia em ampla escala em relação ao Oriente, com aumento expressivo nos últimos anos.
Isso permitiu concluir e chegar a resultados favoráveis desta tecnologia como benefícios para redução da perda sanguínea em procedimento cirúrgico, redução do tempo de internação hospitalar e redução de seroma pós-operatório.
Por ser uma tecnologia dispendiosa, era esperado que países do Oriente não acompanhassem este avanço, com apenas o Japão se destacando no uso da tecnologia, principalmente em gastrectomias robóticas.
A China e Coréia do Sul seguem estimulando o uso da tecnologia, porém em menor escala. O surgimento de plataformas mais econômicas, como o sistema Hugo RAS, Senhance e Avatera, pode possibilitar que estes países, tanto do Ocidente quanto do Oriente, que ainda carecem de recursos financeiros, possam utilizar e se beneficiar destas tecnologias.
Além do custo elevado, sabemos que a tecnologia robótica também exige uma curva de aprendizado para ser utilizada, e que sua utilização ainda interfere na rotatividade de salas cirúrgicas, com aumento no tempo de procedimento cirúrgico, necessitando de mais estudos e aprimoramentos para atingir melhores resultados e determinação melhor dos benefícios da cirurgia robótica.
Conclusão
A cirurgia robótica é uma tecnologia com inúmeras vantagens em relação a laparoscopia e sua utilização tem crescido expressivamente em países ocidentais.
Ela possibilita menor taxa de sangramento intraoperatório, menor taxa de conversão para cirurgia aberta em relação a laparoscopia e melhora os desfechos cirúrgicos.
Por ser uma tecnologia de alto custo, novas plataformas estão surgindo de forma mais econômica, oferecendo os mesmos resultados, no intuito de ser utilizada em ampla escala global.
Mensagem prática
1 – A cirurgia robótica possui menor taxa de sangramento intraoperatório e menor taxa de conversão para cirurgia aberta.
2 – A cirurgia robótica permite menor tempo de internação hospitalar e menor taxa de seroma pós-operatória.
3 – O custo da cirurgia robótica é mais caro e novas plataformas mais econômicas estão surgindo para oferecer acessibilidade em larga escala.
4 – A utilização da cirurgia robótica no Ocidente avançou mais rápido que países do Oriente.
Autoria

Rodolfo Kalil de Novaes Santos
Graduado em Medicina pelo Instituto Metropolitano de Ensino Superior (IMES), em Ipatinga (MG), no ano de 2017. Residência Médica em Cirurgia Geral no ano de 2020 pela Santa Casa de Misericórdia de Belo Horizonte (MG) e Residência Médica em Cirurgia do Aparelho Digestivo no ano de 2024 pelo Hospital Governador Israel Pinheiro - IPSEMG. • Cirurgião geral na Casa de Caridade Hospital São Paulo; Casa de Saúde Santa Lúcia e Prontocor. Docente da disciplina de anatomia II da Faculdade de Minas (FAMINAS) de Muriaé (MG).
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