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Cirurgia2 fevereiro 2021

Ablações por radiofrequência X Hepatectomias: qual a melhor opção?

Meta-análise recente avaliou a eficácia das ablações por radiofrequência versus hepatectomias parciais para lesões primárias do fígado.

Por Felipe Victer

Por características de sua fisiologia, o fígado é sítio de diversos processos neoplásicos, sejam eles primários ou metastáticos. As modalidades terapêuticas destas patologias, também cresceram exponencialmente nos últimos anos e a discussão de qual seria a mais apropriada é sempre pertinente. Por um lado, temos a ressecção hepática, como o método mais tradicional e pelo outro as modalidades ablativas percutâneas que podem utilizar agentes químicos ou físicos. As terapias percutâneas estão cada vez mais difundidas, inicialmente eram apenas utilizadas em situações de exceção, porém hoje com maior segurança sobre o método suas indicações foram ampliadas.

Uma meta-análise publicada na Clinics and Reaserch in Hepatoloogy and Gastroenterology, avaliou a eficácia das ablações por radiofrequência versus hepatectomias parciais para lesões primárias do fígado.

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Ablações por radiofrequência X Hepatectomias: qual a melhor opção?

Métodos

Foram incluídos ensaios clínicos que comparavam hepatectomia parcial e radiofrequência para lesões primárias do fígado, que estivessem incluídas no critério de Milão (lesão única de até 5 cm ou até 3 lesões todas menores de 3 cm). Trabalhos que avaliaram pacientes com lesões extra-hepática foram excluídos deste estudo.

Resultados

Dos 362 artigos inicialmente encontrados apenas 5 apresentavam os critérios de ensaios clínicos envolvendo lesões primária, com um total de 761 pacientes acumulados na análise. A sobrevida global de 1 a 3 anos estava disponível nos 5 estudos, porém 4 anos apenas em 3 e 5 anos em 2 artigos. A comparação da sobrevida global não mostrou diferença estatística entre os dois métodos no intervalo de 1 a 5 anos (p= 0,79; 0,33; 0,28; 0,32; 0,43 respectivamente para cada ano de observação).

Dois estudos fizeram análise separada dos tumores solitários entre menores que 3 cm e ente 3 a 5 cm. Apesar de não ter apresentado diferença na análise global, a sobrevida dos pacientes com lesões entre de 3 a 5 cm no intervalo de 2 a 4 anos parece ser significativamente menor no grupo radiofrequência, quando comparada a hepatectomia parcial.

A taxa de recorrência no primeiro ano é semelhante nos dois métodos, no entanto nos anos subsequentes a recorrência é muito mais frequente quando utilizada a radiofrequência (p < 0,05).

Quanto a segurança dos procedimentos a radiofrequência apresentou melhores resultados que a cirurgia com risco relativo de 0,23 (95% CI: 0,09; 0,56) para complicações relacionadas e 0,12 (95% CI: 0,03; 0,39) para evento adverso grave.

Discussão

Esta meta-análise avaliou aspectos relacionadas ao tratamento de tumores primários do fígado tratado de duas formas distintas. Este estudo não foi capaz de determinar diferenças significativas na sobrevida global entre os dois grupos, o que sugere que ambos os métodos podem ser utilizados no manejo de lesões primárias pequenas do fígado, achado que contraria publicações prévias.

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No que tange ao intervalo livre de doença e recorrência, houve significativa diferença nas observações após 2 anos, com maior vantagem da hepatectomia sobre radioablação, em contrapartida a ressecção hepática apresenta maiores índices de complicações. Esta diferença da recorrência, especialmente intra-hepática, teoricamente pode ser devido a uma ablação incompleta do tumor ou até por migrações celulares decorrentes do processo de ablação. Este pequeno número de células residuais poderia justificar a recorrência após o primeiro ano de observação pela necessidade de crescimento das mesmas. A ablação incompleta se tona ainda mais proeminente nos casos de tumores entre 3-5 cm.

Conclusão

As hepatectomias apresentam menores recorrências a longo prazo, porém a radioablação possui significativa menores taxas de complicações. Apesar destas diferenças a sobrevida global é semelhante entre os métodos. As lesões solitárias de até 3 cm devem ser tratadas preferencialmente por radioablação.

Para Levar para Casa

Este trabalho resume a complexidade do tratamento das lesões hepáticas, pois a cirurgia apesar de melhores taxas de recorrência apresenta piores resultados referentes a complicações e, com isto, a longo prazo os métodos se equivalem em relação a sobrevida. A decisão, portanto, deve ser individualizada, visto que na maioria dos casos os pacientes também apresentam hepatopatias crônicas.

Referências bibliográficas:

  • Yu C, Wu S, Zhao J, Lu J, Zhao T, Wei Y, Long C, Lin T, He D, Wei G. Evaluation of efficacy, safety and treatment-related outcomes of percutaneous radiofrequency ablation versus partial hepatectomy for small primary liver cancer meeting the Milan criteria: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Clin Res Hepatol Gastroenterol. 2020 Oct;44(5):718-732. doi: 1016/j.clinre.2019.12.012.
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