Trocar telefone pessoal com o paciente fere a ética médica?
Nos últimos anos, debates sobre a relação médico-paciente têm ganhado mais espaço principalmente em fóruns virtuais. E a troca de número pessoal de telefone entre as partes é um dos mais comentados. Para uns, trata-se de uma forma de oferecer um cuidado mais acessível e personalizado; para outros, a preocupação sobre os limites apropriados chamam atenção.
Tradicionalmente, a relação médico-paciente é definida por uma dinâmica específica, na qual o médico detém o conhecimento e a expertise, enquanto o paciente é o receptor do cuidado. No entanto, a modernidade tem encurtado distâncias e chacoalhado um pouco a tradição, aproximando o prestador do serviço de seu receptor – e vice-versa. Dentro da medicina não é diferente.
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Urgência e emergência
Em defesa da prática, alguns médicos argumentam que a comunicação direta pode ser crucial em certos casos, especialmente em situações de emergência ou quando os pacientes têm dúvidas urgentes sobre sua saúde.
Para o Dr. Diogo di Battista, a troca de números de telefone pode também ajudar a construir uma relação mais próxima e de confiança entre médico e paciente, oferecendo acolhimento ao atendido e que se estende aos familiares. “Acredito que tudo que o médico puder fazer para ajudar o paciente deve ser feito. Para mim, ética está em justamente atender às dores dessas pessoas”, diz o angiologista.
Bom senso
No entanto, há quem critique a prática e alerte para os riscos de uma comunicação excessiva ou inadequada. A disponibilidade constante do médico pode criar expectativas irreais por parte do paciente e sobrecarregar o profissional de saúde. “É uma prática comum na saúde, a depender da vontade e disponibilidade do profissional em atendimento, claro, pois exige cuidado nas relações”, diz Dra. Marina Mendes, gastroenterologista e intensivista. Ela frisa ainda sobre a questão da confidencialidade das informações compartilhadas por meio de canais pessoais, que podem não estar tão seguras quando merecem estar.
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Com filtro
No entanto, há especialidades em que o mais indicado é que haja um intermédio nessa relação, como por exemplo aquelas que lidam diretamente com o aspecto mais emocional das pessoas.
“Existem pacientes que fazem contato para pedir receitas e laudos, ou então para que seja solicitado exame ou mesmo porque precisam de um acolhimento maior. Essas mensagens se acumulam e, às vezes, podem deixar passar aquelas mais relevante para a saúde, como a de pacientes que tiveram reação adversa a medicamento, ou que estejam de fato em uma situação de urgência”, diz a Dra. Camille Domingues, que conta com a ajuda de uma assistente, responsável pelo repasse das mensagens e recados.
A Associação Médica Brasileira (AMB) e o Conselho Federal de Medicina (CFM) ainda não emitiram uma diretriz específica sobre a troca de números de telefone pessoal entre médicos e pacientes. No entanto, muitas instituições médicas e hospitais têm políticas claras sobre comunicação e interação com os pacientes, incentivando o uso de canais seguros e profissionais.
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