No contexto das provas de residência médica, o câncer de mama é um tema recorrente e de extrema importância. É raro encontrar um exame que não inclua ao menos uma questão de mastologia, abrangendo tanto as patologias mamárias benignas quanto o câncer de mama.
Vale ressaltar que a maioria das questões tende a focar em aspectos relacionados à formação essencial do médico generalista, o que exige do candidato um conhecimento sólido e abrangente sobre o diagnóstico, tratamento e acompanhamento dessa patologia tão prevalente na prática clínica.
A mastologia é a especialidade é voltada para o tratamento e os cuidados com as glândulas mamárias. O especialista é responsável por prover o diagnóstico e a prevenção tanto para o câncer de mama quanto para outras doenças. O câncer de mama é o tipo de câncer mais comum entre as mulheres no mundo e no Brasil, depois do câncer de pele não melanoma. Responde, atualmente, por cerca de 28% dos casos novos de câncer em mulheres. Relativamente raro antes dos 35 anos, acima desta idade sua incidência cresce progressivamente, especialmente após os 50 anos.
Propedêutica mamária
A propedêutica mamária se baseia em um tripé de extrema importância: anamnese, exame físico e exames complementares. Desses, os mais importantes são a mamografia, a ultrassonografia e a ressonância nuclear magnética e o exame anatomopatológico.
A anamnese e o exame físico são etapas fundamentais na avaliação clínica. Durante a anamnese, deve-se investigar a idade da paciente, histórico familiar de câncer de mama, uso de hormônios, presença de fatores de risco, alterações mamárias prévias e queixas atuais, como dor, nodulações ou secreção mamilar.
O exame físico é realizado em posição sentada e deitada, com inspeção estática e dinâmica para identificar alterações de simetria, pele e aréola. A palpação é realizada de forma sistemática, avaliando os quadrantes da mama e região axilar, buscando por nódulos, espessamentos ou linfadenomegalias.
A mamografia é o único exame de rastreamento de câncer mamário que afeta comprovadamente os índices de mortalidade a partir da detecção de tumor em fase pré-clínica. O médico generalista precisa estar habituado à leitura e interpretação de laudos desse exame, especificamente entender o significado e conduta do sistema de classificação Bi-RADS.
O sistema BI-RADS (Breast Imaging Reporting and Data System) é uma classificação padronizada criada pelo American College of Radiology para interpretar e descrever achados em exames de imagem das mamas, como mamografia, ultrassonografia e ressonância magnética.
Ele categoriza os achados de 0 a 6, sendo:
- 0 – inconclusivo, necessitando exames adicionais;
- 1 – exame normal;
- 2 – achados benignos;
- 3 – provavelmente benigno, com recomendação de controle em 6 meses;
- 4 – suspeito, com indicação de biópsia;
- 5 – altamente sugestivo de malignidade, também com indicação de biópsia;
- 6 – câncer já diagnosticado.
Cada categoria implica em condutas clínicas específicas, variando desde o seguimento com exames periódicos até intervenções cirúrgicas ou terapêuticas quando há suspeita ou confirmação de malignidade.
Propedêutica invasiva de lesões mamárias
Os procedimentos diagnósticos invasivos mais utilizados na mama são a punção aspirativa por agulha fina (PAAF), as biópsias percutâneas de fragmentos com pistola automática (core biopsy) ou a biópsia a vácuo (ma-motomia). Todos os procedimentos podem ser guiados por mamografia, ultrassonografia (USG) ou ressonância nuclear magnética (RNM).
Prevenção do câncer de mama
A prevenção do câncer de mama não é completamente possível devido à multiplicidade de fatores envolvidos, muitos dos quais não são modificáveis. No entanto, o controle dos fatores de risco modificáveis pode reduzir significativamente a chance de desenvolver a doença. Entre os principais fatores de risco comportamentais estão o excesso de peso, a falta de atividade física e o consumo de álcool.
Estima-se que uma alimentação adequada, a prática regular de exercícios e a manutenção do peso corporal podem reduzir em até 28% o risco de câncer de mama. Amamentar também é considerado um fator protetor. A Terapia de Reposição Hormonal deve ser usada com cautela e sob supervisão médica.
O controle do câncer de mama no Brasil é uma prioridade do Sistema Único de Saúde (SUS), que visa a detecção precoce e o tratamento oportuno da doença. Fatores como idade, histórico reprodutivo, exposição à radiação e predisposição genética também são determinantes importantes no risco de desenvolvimento do câncer.
Rastreio e diagnóstico
O rastreamento do câncer de mama no Brasil é uma estratégia fundamental para a detecção precoce, com o objetivo de reduzir a mortalidade pela doença. O Ministério da Saúde recomenda a realização da mamografia de rastreamento para mulheres assintomáticas entre 50 e 69 anos, com periodicidade bienal. Essa faixa etária é considerada prioritária devido à maior incidência da doença nesse grupo, e o rastreamento tem mostrado ser eficaz em detectar lesões em estágios iniciais, quando as chances de cura são significativamente maiores.
Para mulheres com fatores de risco elevados, como histórico familiar de câncer de mama ou mutações genéticas (BRCA1 e BRCA2), a recomendação pode incluir o início do rastreamento mais cedo e a utilização de exames complementares, como a ressonância magnética.
O diagnóstico do câncer de mama envolve um processo integrado entre avaliação clínica, exames de imagem e biópsia. A mamografia é o principal exame de triagem, permitindo identificar alterações suspeitas que necessitam de investigação adicional. Em casos de achados indeterminados ou suspeitos na mamografia, a ultrassonografia e a ressonância magnética podem ser indicadas como exames complementares.
O diagnóstico definitivo é feito por meio de biópsia. No Brasil, o acesso a esses exames varia conforme a região e o nível de desenvolvimento das redes de saúde, sendo um desafio garantir o tratamento oportuno em todo o território.
Tratamento
O tratamento do câncer de mama no Brasil, oferecido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), engloba diversas modalidades terapêuticas, adequadas ao tipo, estágio e localização da doença. As opções incluem cirurgias, como mastectomias e procedimentos conservadores, além de reconstrução mamária, disponível para mulheres que precisaram remover parcial ou totalmente a mama.
Além das intervenções cirúrgicas, o tratamento pode envolver quimioterapia, radioterapia, hormonioterapia e terapias com anticorpos, selecionadas conforme as características do tumor e a resposta da paciente. A combinação dessas modalidades é frequentemente adotada para otimizar os resultados e melhorar as chances de cura.
A legislação brasileira, por meio da Lei nº 12.732/2012, assegura que todo paciente com diagnóstico de câncer de mama tem o direito de iniciar o tratamento no SUS em até 60 dias após a confirmação diagnóstica, ou antes, conforme a necessidade terapêutica.
O cumprimento desse prazo depende da organização e regulação dos serviços de saúde em nível estadual e municipal, destacando a importância da gestão eficiente para garantir o acesso oportuno às terapias. A decisão sobre o tratamento mais adequado é tomada com base em critérios clínicos, considerando a extensão da doença e a individualidade de cada paciente, visando maximizar a eficácia terapêutica e a qualidade de vida.
Questões em prova de residência
Concluindo, nas provas de residência médica, mastologia é um tema amplamente explorado, principalmente devido à alta prevalência de doenças mamárias na prática clínica. Entre os temas mais frequentes, o câncer de mama é o destaque, abordando desde os fatores de risco, rastreamento e diagnóstico até o tratamento e seguimento.
As questões sobre rastreamento, especialmente o sistema BI-RADS, a indicação de mamografia em diferentes faixas etárias, e os critérios de risco elevado, são muito comuns. Além disso, patologias benignas da mama, como fibroadenoma, mastite e doenças inflamatórias, também são recorrentes nas questões, uma vez que fazem parte do dia a dia do médico generalista.
O formato das questões costuma ser em casos clínicos, exigindo do candidato a capacidade de interpretar sinais e sintomas, bem como exames de imagem, para chegar ao diagnóstico correto. Perguntas de múltipla escolha são as mais frequentes, onde o candidato deve selecionar a melhor conduta ou diagnóstico entre as alternativas.
Questões de associação de colunas ou afirmativas verdadeiras ou falsas também podem aparecer, testando o conhecimento detalhado dos protocolos de tratamento e diagnóstico. A abordagem integrada de temas como ginecologia, oncologia e saúde da mulher também é comum, refletindo a necessidade de um conhecimento interdisciplinar sobre mastologia nas provas de residência médica.
Sugestões de estudo
Textos importantes para a prática clínica:
- INSTITUTO NACIONAL DE CÂNCER JOSÉ ALENCAR GOMES DA SILVA. Diretrizes para a detecção precoce do câncer de mama no Brasil. Rio de Janeiro: INCA, 2015. Disponível em: https://www.inca.gov.br/publicacoes/livros/diretrizes-para-deteccao-precoce-do-cancer-de-mama-no-brasil
- MIGOWSKI, A. et al. Diretrizes para detecção precoce do câncer de mama no Brasil. Cad Saúde Pública, v. 34, n. 6, 2018. Doi: https://doi.org/10.1590/0102-311X00074817;
- SILVA, Carlos Henrique M.; COUTO, Henrique L.; JUNIOR, Waldeir José de A. Manual SOGIMIG de mastologia. Rio de Janeiro: MedBook Editora, 2018.
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