O médico e o digital: por que o silêncio pode ser uma ameaça à saúde

Por muito tempo, a comunidade médica viu as redes sociais como algo distante, incompatível com a rotina intensa e complexa da profissão. O receio de expor a prática médica ao julgamento público, de lidar com haters ou mesmo de parecer pouco ético também colaborou com esse “silêncio digital” por parte dos médicos.

Acontece que esse vácuo acabou sendo preenchido por vozes perigosas — pessoas sem formação adequada, que propagam desinformação sob o disfarce de autoridade em saúde. E, quando o assunto é saúde pública, desinformação não é só um erro inocente: pode custar vidas.

Palavras da geriatra Monica Campanha, que, ao perceber esses riscos, decidiu se posicionar nas redes. Palestrante da Afya e referência na área do envelhecimento saudável, ela viu no digital uma oportunidade não só de ampliar o cuidado com seus pacientes, mas de ajudar a conter a maré de fake news. “Hoje, ser uma fonte de informação confiável virou uma responsabilidade”, afirma.

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Extensão do cuidado

Para a Dra. Monica, médicos que se comunicam com ética e clareza nas redes sociais não estão apenas “se promovendo”. Eles estão, na verdade, suprindo uma necessidade urgente de comunicação em saúde. “Estamos vivendo um envelhecimento populacional sem precedentes, com aumento da solidão, das doenças crônicas e da sarcopenia. Nesse cenário, surgem ‘gurus da saúde’ e ‘especialistas em longevidade’ ocupando o espaço com desinformação. Esse espaço deveria ser ocupado por informação médica, baseada em evidência”, destaca.

A médica acredita que um conteúdo bem feito nas redes sociais melhora a vida do paciente antes mesmo da consulta. “O paciente chega mais informado, mais engajado, com mais adesão ao tratamento. O cuidado começa antes do consultório e continua depois dele”, diz.

Ato de cuidado

Para muitos médicos, a ideia de produzir conteúdo digital pode parecer incompatível com a prática clínica. Mas Monica defende que o digital não é inimigo da medicina — pelo contrário. “Estar no digital é uma forma de melhorar a saúde dos nossos pacientes. A gente corrige desinformação, previne danos e amplia o alcance do cuidado.”

Ela também destaca que médicos ativos nas redes podem obter retorno em diversas frentes: “Em saúde pública, em autoridade e até mesmo financeiro. Mas tudo começa com um posicionamento ético e genuíno.”

Como começar?

Apesar dos desafios — como administrar o tempo, lidar com críticas ou aprender a usar as plataformas —, a médica acredita que é possível construir uma presença digital consistente, mesmo sem grandes estruturas. “Já tive agência, mas percebi que minha conexão com o público é muito melhor quando sou eu mesma que assumo meu digital”, conta. Hoje, ela é mais ativa no Instagram e Facebook, mas também marca presença no YouTube, WhatsApp, Telegram e no próprio site.

Monica resume sua atuação com base em três pilares da credibilidade digital:

• Conteúdo: transformando ciência em informação acessível;
• Conexão: com o uso de uma linguagem que crie vínculo com o seguidor;
• Constância: mantendo uma presença relevante e frequente no virtual.

Além disso, ela destaca o apoio de ferramentas como o Whitebook e os cursos da Afya, que têm ajudado a otimizar tempo e traduzir conhecimento técnico para o público de forma prática e eficiente.

Silêncio que ameaça

A pandemia da covid-19 escancarou os efeitos nocivos da ausência de médicos no debate público digital. “Foi uma verdadeira ameaça à saúde coletiva”, lembra. Para Dra. Monica, o médico que se ausenta das redes pode, ainda que sem querer, estar colaborando com a desinformação.

Sua dica para quem está começando é simples, mas poderosa: “Comece. Mesmo que de forma simples. Estabeleça um propósito, crie uma rotina leve e constante. E entenda que o digital não é uma ameaça para nós, médicos — a verdadeira ameaça pode ser justamente o nosso silêncio.”

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