Na era da hiperconectividade, em que notificações, vídeos curtos e múltiplas abas disputam a concentração a cada minuto, a atenção tornou-se um bem escasso – e, diga-se, muito valioso. No campo da medicina, isso se traduz em um desafio crescente: como formar médicos capazes de raciocinar com profundidade, desenvolver empatia e construir saberes complexos em um mundo dominado pela dispersão?
É a partir dessa inquietação que surge a Pós 2.0 Afya, um programa que propõe repensar o ensino médico sob a ótica da economia da atenção. A proposta é simples, mas ambiciosa: fazer com que o estudante volte a se engajar genuinamente com o aprendizado, transformando a informação em sabedoria clínica.
“O excesso de estímulos e a hiperconectividade afetam profundamente o aprendizado dos estudantes. A aceleração e a fragmentação impostas pelas formas tecnológicas de vida reduzem o tempo necessário para a elaboração de pensamentos profundos, fazendo com que o cérebro se acostume a processar informações de modo rápido e superficial”, explica Gustavo Ribeiro, coordenador de conteúdo da Pós 2.0 Afya.
Segundo ele, esse ritmo intenso e a sobrecarga de dados comprometem o desenvolvimento de competências essenciais à medicina, como o raciocínio clínico, a empatia e a capacidade de reflexão. “A dispersão empobrece os processos cognitivos, levando o estudante a se tornar um consumidor passivo e acrítico das informações”, completa.

Uma pedagogia do foco e do sentido
A Afya reconhece que, diante da abundância informacional, ensinar é também um ato de curadoria e de mediação da atenção. Por isso, o programa Pós 2.0 foi desenhado para criar ambientes de aprendizagem que combinam estímulo, diálogo e profundidade.
Na prática, isso significa substituir a lógica linear e hierárquica do ensino tradicional por uma estrutura dinâmica e descentralizada. O aluno percorre trilhas temáticas personalizadas, que conectam teoria, prática e ética, sempre com o apoio ativo do professor, que deixa de ser apenas transmissor de conteúdo para tornar-se “facilitador de conexões”.
“A economia da atenção na educação médica exige métodos que promovam foco ativo e reflexivo, alinhado à construção de conhecimento significativo, e não à mera repetição de dados”, explica Rodrigo Ladeira, gerente de Ensino da Afya Educação Continuada e idealizador da Pós 2.0.
Segundo ele, o objetivo é respeitar o tempo e a curiosidade natural do médico em formação, permitindo que o aprendizado aconteça de forma orgânica, conectada à prática clínica e sustentada pela reflexão. “A Pós 2.0 foi pensada para honrar as singularidades do aprendiz, promovendo experiências que respeitam seu ritmo e estimulam insights genuínos”, afirma.
Entre o digital e o humano
Na busca pelo equilíbrio entre tecnologia e contato humano, a Pós 2.0 aposta em experiências híbridas. Recursos digitais e atividades presenciais se complementam, criando uma continuidade entre o estudo individual e o coletivo.
O design dos conteúdos – curtos, interativos e visualmente estimulantes – dialoga com o perfil contemporâneo do estudante, sem abrir mão da profundidade. “Nosso desafio é combinar a agilidade da forma digital com a lentidão produtiva do pensamento profundo”, destaca Ribeiro.
Essa proposta reflete uma convicção comum aos dois educadores: a tecnologia deve servir à formação, não à dispersão. A intenção é que o estudante use o digital como meio para ampliar o olhar e não para fragmentá-lo. “A tecnologia oferece ferramentas indispensáveis à prática médica, mas é o contato humano que preserva o essencial no ato de aprender: a capacidade de pensar criticamente, com empatia e criatividade”, complementa.
Aprendizado que vira experiência
Para além do conteúdo, o foco da Pós 2.0 está em transformar o aprendizado em experiência, conceito que se traduz tanto na vivência clínica quanto no diálogo entre pares. “O engajamento sustentável nasce da conexão real do conteúdo com a prática e com a ética. É nessa relação que o aprendizado se torna significativo e duradouro”, afirma Ladeira.
Ele explica que, ao contrário dos modelos tradicionais que valorizam o acúmulo de informações, a Pós 2.0 aposta no que chama de sabedoria clínica: um tipo de conhecimento que integra razão, experiência e sensibilidade. “Queremos que o estudante recupere o sentido profundo do aprender, aquele que vai além da informação e se transforma em sabedoria aplicada à prática médica”, resume.
Atenção como prática ética
Ao final, a economia da atenção aplicada à educação médica revela algo maior do que uma mudança metodológica: é um compromisso ético. Cuidar da atenção do estudante é, em última instância, cuidar da qualidade do cuidado que ele oferecerá no futuro.
“Quando o aluno aprende a concentrar-se, a refletir e a compreender o outro, ele não apenas melhora seu desempenho acadêmico, ele se torna um médico mais humano”, conclui Ladeira.
Autoria

Redação Afya
Produção realizada por jornalistas da Afya, em colaboração com a equipe de editores médicos.
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