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Carreira9 setembro 2025

Dicas para alimentação saudável no plantão

Dicas práticas para melhorar a sua rotina alimentar no dia a dia corrido do plantão
Por Ester Ribeiro

Você passa o dia cuidando dos outros — no consultório, no hospital, nos corredores do pronto-socorro. E, quando sai de lá, continua cuidando: dos filhos, da casa, das contas. Entre uma intubação e um banho de criança, entre um prontuário e uma mochila escolar, sobra pouco — ou quase nenhum — tempo para cuidar de si. A alimentação, quase sempre, é a primeira a sofrer.

Quantas vezes você almoçou um pão de queijo às 16h na copa do hospital? Se fez residência mais puxada, sabe bem o que é engolir um pacote de bolacha em pé na copa do hospital ou pedir mais uma marmita de app com a culpa de quem sabe que poderia fazer melhor — mas não consegue. E está tudo bem. Você não está sozinho.

Mas aqui vai a boa notícia: se alimentar de forma equilibrada e nutritiva, mesmo na correria, é possível. E não precisa ser caro, difícil ou gourmet. Este texto é para você: médico ou médica que quer se cuidar, mas precisa de um plano prático e possível. Vamos lá?

Leia mais: Como seguir uma alimentação saudável para o coração?

A base de tudo: parar de buscar perfeição

Antes de qualquer dica prática, vale um lembrete essencial: não espere comer “100% saudável o tempo todo”. Essa régua só gera frustração e culpa. O foco deve ser em constância, não em perfeição.

Se você conseguir estruturar 70% das suas refeições de forma equilibrada, já estará muito à frente da média.

Agora vamos ao que interessa: o que você pode fazer na prática.

 

Planejamento mínimo. Refeições boas não precisam ser elaboradas

Você não precisa fazer marmitas para a semana toda no domingo (embora isso ajude, como veremos adiante). Mas ter algumas decisões pré-tomadas reduz muito a chance de cair em escolhas ruins no impulso.

O que você pode fazer com pouco tempo:

  • Escolha um dia da semana (pode ser domingo à noite ou segunda de manhã) para pensar em 3 a 4 refeições base que vai repetir ao longo da semana. Com um pouco de prática você não precisará de muito mais que 1h pra isso.
  • Coloque na sua lista de mercado para sempre ter em casa: ovos, atum ou sardinha em lata, legumes congelados – legumes tipo “jardineira”, brócolis, couve-flor, ervilha -, azeite, grãos prontos enlatados ou congelados (feijão cozido, lentilha, grão de bico) e uma proteína fácil (frango desfiado, carne moída, tofu grelhado). Isso é modificável a considerar seus gostos pessoais, mas seja sincero, doutor, você sabe onde encontrar equivalentes proteicos. Não vale trocar o tofu por queijo cheddar, ok?
  • Cozinhe uma base versátil: arroz integral, quinoa, batata inglesa ou batata doce já cozida — isso pode virar bowl, marmita, complemento para um lanche.
  • Use potes prontos para montar saladas no pote ou marmitas para levar ao plantão. Invista em potinhos de vidro com tampa.

Monte um cardápio mínimo base (de emergência)

Tenha 3 ou 4 opções de café da manhã, almoço, jantar e lanche que:

  • Você gosta.
  • São nutritivas.
  • São fáceis de preparar ou pedir.

Exemplo:

  • Café da manhã: Pão integral com ovo mexido; Iogurte natural com frutas e granola; Vitamina com leite, banana e aveia.
  • Almoço: Marmita caseira com arroz, feijão, carne e legumes; Prato do dia do restaurante natural perto do hospital; Bowl de salada com proteína.
  • Jantar: Omelete com legumes; Sopa congelada caseira; Wrap integral com frango desfiado e folhas.
  • Lanche: Mix de castanhas; Fruta com pasta de amendoim; Iogurte; Barrinha de nuts sem açúcar.

Deixe essa lista visível: num post-it na geladeira, no celular ou no planner. Na hora do cansaço a gente não consegue pensar no que comer e acaba pedindo qualquer bobeira pelo delivery.

 

Marmitas: uma aliada sofisticada

Foi-se o tempo que a marmita era apenas a opção mais barata mas muitos acham que dão trabalho demais —com a abordagem certa, elas se tornam libertadoras. Evite montar refeições elaboradas — o simples funciona, o complexo surpreende inicialmente e cansa na segunda tentativa.

  1. Faça o “batch cooking” inteligente no domingo
  • Cozinhe em quantidade:
    • Meio quilo de arroz – use uma receita da internet – com a prática, em 15 minutos fica pronto.
    • Meio quilo de Feijão – refogue 3 dentes de alho, coloque uma colher de sobremesa de sal; não esqueça de deixar de molho no dia anterior. Em cerca de 10 min na pressão da panela já estará pronto.
    • Legumes assados com um pouco de azeite e alecrim – fica show de bola. Corte em pedaços grandes abóbora, batata, cenoura, batata doce, abobrinha e o que mais gostar, coloque um pouco de azeite e salpique alecrim por cima. Deixe em 160 graus por 1-2h.
    •  Carne moída e peito de frango já temperado com cebola, alho e sal. Desfie o frango.
  • Use potes ou divisórias para separar em porções individuais. Arroz, feijão, legumes e proteína.
  • Congele 3 ou 4 porções, mantenha outras 2 na geladeira.
  • Na primeira vez pode ser que você erre nas quantidades, depois você vai ajustando conforme sua demanda.

Dica prática: invista em uma marmiteira elétrica ou bolsa térmica boa. Facilita MUITO a vida no plantão.

 

Quando pedir é o melhor plano: como escolher melhor fora de casa

Você não precisa cozinhar tudo. Mas precisa escolher com mais consciência.

  1. Apps de delivery: dicas para pedidos mais inteligentes
  • Busque por termos como “comida saudável”, “prato executivo” ou “low carb” — mesmo que você não siga low carb, os pratos costumam ter vegetais e proteína.
  • Prefira pratos com nome claro e simples: “Frango grelhado com arroz e salada” é melhor que “Delícia de frango empanado com molho secreto”.
  • Evite bebidas doces e sobremesas por impulso no app. Beba água ou chá, e se quiser doce, opte por frutas secas ou um quadradinho de chocolate amargo depois. Se não tiver nenhuma dessa opções, use a versão zero.
  1. Restaurantes de rua ou de quilo
  • Monte seu prato com o esquema simples: 50% vegetais, 25% proteína, 25% carboidrato.
  • Evite molhos prontos, frituras e sucos adoçados.
  • Cuidado com “aparência saudável” — quiche de legumes pode ser super gorduroso. Pergunte ou observe o preparo. Fique atento à algo que não “caia” muito bem; pode ser excesso de temperos prontos ou gordura.

 

Alimentação no plantão: estratégias de sobrevivência

Plantão noturno, 12h, 24h… todo mundo que já passou por isso sabe como é fácil se perder na alimentação. Aqui vão dicas para evitar o caos alimentar:

  1. Leve seu próprio lanche

Prepare um “kit lanche” com:

  • Castanhas e nozes;
  • Frutas fáceis (banana, maçã, mexerica);
  • Iogurte em pote térmico;
  • Sanduíche integral com pasta de ricota ou ovo.
  1. Mantenha a hidratação

Ande com uma garrafinha. A desidratação aumenta a fome e piora o cansaço. Se não gosta de água pura, adicione rodelas de limão, pepino ou hortelã.

  1. Tenha um “estoque de emergência” no hospital ou na mochila. Alguns industrializados podem não ser a melhor opção entre todas, mas podem ser uma opção melhos aos chocolates da lanchonete.
  • Barrinhas de castanha;
  • Cookies integrais com poucos ingredientes;
  • Sachês de chá;
  • Pacotinhos de grão-de-bico torrado ou edamame.

 

Se você cuida de todo mundo, precisa cuidar de você

A alimentação é um dos pilares da saúde mental, do foco e da disposição. Não se trata de estética, mas de resiliência física e emocional.

Comer bem te dá clareza. Reduz ansiedade. Previne quedas bruscas de energia. Te ajuda a ser um profissional melhor e uma pessoa mais presente seja com os amigos ou com a família.

E o mais importante: te ajuda a durar nessa jornada longa, bonita e exaustiva que é cuidar dos outros.

Você não precisa mudar tudo de uma vez. Comece por um hábito. Depois outro. Em pouco tempo, verá que sua alimentação pode ser uma aliada — e não mais uma cobrança na lista sem fim de tarefas.

E só de chegar ao final do texto, deu pra ver que você está interessado em melhorar sua alimentação. Isso já é incrível. Vamos melhorar agora? Chame um amigo pra ser companhia nessa jornada; quem sabe vocês não revezam os preparos alimentares semanais? Bora?

Autoria

Foto de Ester Ribeiro

Ester Ribeiro

Graduada em Medicina pela PUC  de Campinas. Médica Nefrologista pelo Hospital Santa Marcelina de Itaquera. Título em Nefrologia pela Sociedade Brasileira de Nefrologia.

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