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Carreira13 julho 2025

Como gerir conflitos de opiniões médicas

Dialogar de forma respeitosa, considerando todas as perspectivas, é o melhor caminho para resolver conflitos
Por Ester Ribeiro

“- O paciente vai melhorar se for operado”, diz o clínico.

“- Se o paciente melhorar, terá condições de ser operado”, responde o cirurgião.

Essa cena é comum em hospitais e clínicas, onde frequentemente surgem embates entre especialidades médicas. Embora sejam reflexo de visões complementares, esses conflitos podem gerar desorientação no paciente e seus familiares, comprometendo a confiança no tratamento e na instituição.

Além disso, a relação médico-paciente pode ser seriamente abalada.

Com uma nova geração de médicos acostumada a interações rápidas e objetivas, como as feitas no ambiente on-line, há uma crescente dificuldade em estabelecer conversas honestas e profundas no ambiente profissional.

Como, então, gerir opiniões médicas divergentes, especialmente em equipes formadas por profissionais de diferentes idades, especialidades e visões de mundo?

Leia mais: Como criar um relacionamento saudável com os colegas médicos no trabalho?

médicos conversando

Priorize o paciente

Antes de qualquer debate, é fundamental lembrar que o principal objetivo é o bem-estar do paciente. Avaliar a situação de forma individualizada é o ponto de partida:

  • O paciente é jovem e precisa de intervenções ativas?
  • O paciente está em cuidados paliativos e prefere priorizar conforto e qualidade de vida?

Essas metas devem ser claras não apenas para os profissionais envolvidos, como também para os familiares, que precisam entender o propósito e os limites do tratamento proposto.

Comunicação clara e direta

A comunicação entre equipes deve ser honesta e frequente. Trocas rápidas de mensagens ou notas escritas em prontuários, embora práticas, não substituem uma conversa franca entre colegas.

Se não houver consenso durante discussões formais, uma reunião presencial pode ser a chave para resolver impasses. Nessas situações, é válido incluir:

  • Outras especialidades médicas, que podem trazer uma visão mais abrangente.
  • Profissionais de saúde, como enfermeiros, fisioterapeutas e assistentes sociais, que frequentemente têm informações adicionais valiosas sobre o paciente.
  • A participação dos familiares, quando apropriado, para alinhar expectativas e prioridades.

Exemplos práticos

Considere o seguinte cenário: Um paciente idoso chega ao pronto-socorro com infecção urinária grave. O clínico sugere internação e tratamento intensivo com antibióticos, mas o geriatra pondera sobre o histórico do paciente, que inclui múltiplas hospitalizações e fragilidade extrema. O geriatra acredita que o melhor seria um cuidado paliativo domiciliar, com foco no conforto.

Sem consenso, ambos os médicos organizam uma reunião com a equipe multiprofissional. O fisioterapeuta relata que o paciente vinha apresentando dificuldade crescente em se levantar da cama. A enfermeira menciona que a esposa do paciente está exausta e sem apoio suficiente para os cuidados em casa. Após ouvir os relatos e os familiares, a equipe decide combinar cuidados paliativos e internação de curta duração, garantindo conforto e suporte à família.

 

Valor do diálogo

Uma antiga fábula pode ilustrar a importância de ouvir e ponderar diferentes perspectivas: Dois homens encontram uma criança disputando com outra por uma maçã. Um dos homens sugere dividir a maçã ao meio. O outro, mais sábio, pergunta às crianças por que brigam. Uma queria a maçã para comer; a outra queria as sementes para plantar e obter mais frutos no futuro. Em vez de simplesmente cortarem a maçã ao meio, eles chegam a um acordo: uma das crianças fica com a polpa da fruta para saciar sua fome, enquanto a outra guarda as sementes para plantar.

Assim como na fábula, um consenso muitas vezes só é alcançado quando ouvimos as partes envolvidas, compreendemos seus objetivos e buscamos soluções que atendam às necessidades de todos.

Uma opinião inicial, por mais convincente que pareça, deve ser avaliada sob outras perspectivas. No contexto médico, isso ressalta a importância de discutir diferentes pontos de vista e esclarecer todos os aspectos antes de tomar decisões definitivas.

Conclusão

Embora as tecnologias e os métodos modernos facilitem as comunicações rápidas, o velho hábito da conversa franca ainda é insubstituível.

Dialogar de forma respeitosa, considerando todas as perspectivas, é o melhor caminho para resolver conflitos, alinhar metas e garantir o melhor cuidado ao paciente.

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