Como está a saúde mental dos médicos no Brasil? Baixe a pesquisa completa
O Panorama da Saúde Mental 2022 é um estudo inédito conduzido pela Afya, que traz informações a respeito do impacto na saúde mental dos profissionais médicos no Brasil. A pesquisa revela dados exclusivos acerca das percepções de hábitos de vida, estresse, adoecimento psicológico, relação com as instituições empregadoras e satisfação com a vida e o trabalho.
Como foi realizado o estudo?
O estudo contou com a participação de médicos em diferentes momentos de sua carreira, desde os recém-formados com menos de um ano de formação até os mais experientes com trinta anos de formados, compondo um amplo retrato da população médica brasileira, além de contemplar médicos generalistas, especialistas e em especialização. Na ocasião, a amostra foi composta por médicos que em sua maioria apresentavam caga horária de trabalho superior a 40 horas semanais e trabalhavam em uma instituição de saúde pública ou privada.
O que você vai encontrar na pesquisa?
Um panorama completo do estilo de vida de profissionais da medicina no Brasil · A percepção de qualidade de vida dos médicos brasileiros · A percepção de estresse ocupacional dos profissionais médicos e dos principais fatores atribuídos pelos profissionais para o estresse ocupacional · A percepção dos médicos acerca de suas instituições empregadoras e do suporte entre pares · Como os médicos brasileiros declaram diagnósticos de saúde mental e como enfrentam esses diagnósticos · O perfil de uso de substâncias por médicos brasileiros e o acesso a essas substâncias · A percepção de satisfação com a profissão e com a especialidade dos médicos brasileiros.
A pesquisa que deu origem ao estudo sobre o cenário da saúde mental do profissional de medicina foi realizada no período entre junho e julho de 2022 e ouviu cerca de 3.500 participantes, de diversas especialidades, por meio de questionário online com metodologia científica reconhecida e índice de confiança de 95% e margem de erro de 1,66 a 1,76 pontos percentuais.
Mais detalhes sobre o relatório Panorama da Saúde Mental do Médico em 2022
O estilo de vida dos médicos no Brasil
No Brasil, a maioria dos médicos não possui um estilo de vida compatível aos bons desfechos de saúde. A maior parte dos médicos participantes não tem um boa noite de sono, por exemplo, sendo que apenas cerca de 35% afirmaram dormir entre 6 e 8 horas de sono sentindo que dormiram o suficiente para se sentirem descansados. Para médicos em especialização 46% relaram que é raro ou ausente uma noite de sono reparadora.
Além disso, entre os médicos brasileiros 2/3 dos entrevistados afirmaram não ter momentos de lazer nas duas semanas que antecederam a pesquisa. Quando questionados acerca da prática de atividade física, a maioria dos médicos participantes, 70,7%, pode ser considerada sedentária tendo uma prática de atividade física irregular ou ausente em sua rotina. Em relação às estratégias para manejo o estresse, mais de 70% dos médicos nunca praticaram meditação ou mindfulness com regularidade e apenas 6,4% afirmam praticar sempre ou frequentemente. Por outro lado, a maior parte dos médicos no Brasil refere uma rotina alimentar com predominância de alimentos frescos em relação a produtos industrializados, com exceção dos médicos em especialização que relatam o contrário.
Um outro aspecto protetor do estilo de vida e que foi pouco relatado entre os participantes foi a participação em ações de voluntariado. Mais de 75% dos médicos entrevistados raramente ou nunca se dedicam a ações de voluntariado de qualquer natureza. Menos de 4% dos participantes relataram participarem sempre dessas ações.
Os médicos brasileiros parecem tirar em torno de duas semanas de férias no ano, sendo que quase a metade não tem seu período de férias remunerado pelo empregador.
Apresar desses fatores relacionados ao estilo de vida, em 36,9% das avaliações a resposta para a qualidade de vida foi boa ou muito boa.
A relação com as instituições
A maior parte dos médicos trabalha em alguma instituição de saúde, seja ela pública ou privada. Apenas 11,3% trabalham em seu próprio negócio. Quase metade dos médicos entrevistados afirmaram que suas instituições empregadoras não limitam jornadas de trabalho maiores do que 24h de modo ininterrupto. Ainda sobre as condições de trabalho, cerca de 61,4% dos participantes não percebem que as instituições empregadoras ofertam treinamento técnico para equipe. Em relação a suporte para adoecimento mental ou sofrimento emocional, 3 em cada 4 médicos não percebem suporte das instituições empregadoras nesse aspecto.
Além disso, a relação entre pares também não parece amistosa. Quase metade, 47%, dos participantes referiram que não podem contar com uma rede de apoio com seus colegas de trabalho. Arelação com eventos adversos na assistência também é um ponto de destaque. Em mais da metade, 50,4 %, dos relatos há uma percepção de abordagem punitiva e não formativa diante de eventos adversos relacionados à assistência.
O estresse no trabalho
Ao responderem a escala de percepção de estresse EPS-10, validada para língua portuguesa, os participantes da pesquisa apresentaram uma média de percepção de estresse considerada alta. A média de respostas gerou uma pontuação de 23,4 (+/- 7,6). Os médicos especialistas parecem ter uma média de percepção de estresse menor (22,2) em relação aos médicos generalistas (24,9) ou em especialização (25,6).
O fator a que os participantes mais atribuem sua percepção de estresse é ao descontentamento com o sistema de saúde e as condições de trabalho, seguidos da elevada demanda de trabalho e poucas recompensas profissionais.
Mais da metade, 57%, dos entrevistados referem perceber que o nível de estresse impacta no desempenho no trabalho. Em consonância a isso, em 29,4% dos respondedores há uma percepção de o nível de estresse já levou a erros médicos.
Para além das relações de trabalho, os médicos também percebem que o estresse atrapalha nos relacionamentos pessoais. A maioria, aproximadamente 72% dos participantes, refere que o nível de estresse compromete seus relacionamentos fora do ambiente de trabalho. Uma grande parte também percebe que houve um aumento do nível de estresse no último ano.
Diagnósticos de Saúde Mental
Apenas 30,6% dos participantes nunca apesentaram sintomas de depressão. Para mais de 1/3 os sintomas de depressão surgiram os últimos 12 meses anteriores a pesquisa. Ainda mais prevalente são os sintomas ansiosos. Apenas 20,4% dos médicos nunca apresentaram sintomas. Quase 1 em cada 3 médicos apresenta sintomas de transtornos de ansiedade, mas não acompanham com ajuda especializada.
Quando o foco é o esgotamento profissional, o cenário não é menos preocupante. Mais de 1 em cada 3 médicos apresenta sintomas de burnout, mas ainda não buscaram ajuda. Em 67% das respostas o surgimento da síndrome de burnout aconteceu nos 12 meses que antecederam a pesquisa. O fator que for relatado como maior atribuído pelos participantes aos sintomas de burnout foi o número excessivo de horas de trabalho, seguido de salários insuficientes e falta de realização profissional.
Como estratégia de enfrentamento para o quadro o uso de substâncias parece um fator importante entre os médicos, especialmente no que diz respeito ao uso do álcool. Cerca de 48,5% dos entrevistados relataram o uso do álcool, sendo que álcool e tabaco tiveram um aumento expressivo de consumo nos últimos 12 meses.
Satisfação Profissional
A maior parte dos profissionais tem uma avaliação neutra em relação à satisfação profissional. A maior frequência de respostas (35,8%) foi nem satisfeito nem insatisfeito, apenas 14,1% consideram-se muito satisfeitos com a profissão. A satisfação profissional tende a ser maior entre os participantes com maiores tempo de formação (acima de 20 anos).
Para uma grande parte dos participantes, 45,9%, a satisfação profissional diminuiu no último ano. Entre os especialistas, 40,5% referem estarem satisfeitos ou muito satisfeitos com a especialidade médica, embora para 38,6% dos participantes a satisfação tenha diminuído no último ano.
Curiosamente, diante de todo o cenário pouco mais da metade 51,7% não mudaria nada em relação a formação e apenas 21,1% teriam seguido outra carreira que não a medicina.
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