Esta matéria dá continuidade à série sobre ética médica, abordando alguns dilemas éticos enfrentados pelos médicos mais experientes. Convidamos o Dr. Yuri Salles Lutz, membro do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, para discutir a temática.
Uso de novas tecnologias
Em relação aos principais dilemas éticos enfrentados pelos médicos experientes, o Dr. Lutz afirma ser importante considerar as novas tecnologias e como elas vêm impactando a rotina médica. Hoje a medicina não é mais a mesma do passado, haja vista o uso de novos equipamentos, exames complementares e que nem sempre estão alinhados ao que foi aprendido na academia, como a importância da propedêutica e da semiologia.
O conselheiro afirma: “Alguns médicos possuem dificuldade para entender que, mesmo com o acesso a essas novas tecnologias, exames complementares e formas de diagnosticar, não podemos deixar de considerar o básico do cuidado médico: uma boa anamnese e realizar o exame físico”
O uso intensivo de tecnologias, sem a devida regulação e sem estar baseado em informações da propedêutica adequada, impactam diretamente no aumento do custo da assistência, muitas vezes sem que gere resultados positivos para a saúde do paciente.
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Organização do trabalho médico
Segundo Dr. Lutz, as relações de trabalho vêm mudando muito. Em termos de saúde pública, antes havia concursos públicos, com continuidade na posição e na carreira. Hoje, observam-se novos formatos de contratação, com perda de continuidade do contrato de trabalho do médico.
Esse fato pode gerar questões como problemas com o contrato trabalhista ou o gestor não realizar o pagamento para a administração do serviço no prazo adequado, repercutindo em atraso dos salários, por exemplo.
No final, isso compromete o atendimento ao paciente, já que as consequências possíveis são a perda da continuidade de atenção e a evasão de profissionais, ambos com comprometimento da qualidade de prestação de serviços.
Já no setor privado, o médico antes tinha mais poder e autonomia.
Com o tempo, ambos vêm se perdendo. Isso ocorre, por exemplo, por uma maior restrição do exercício da medicina devido a certos protocolos, ou por uma dificuldade em obter autorização para a realização de procedimentos, entre outras práticas que ocorrem no contexto da saúde suplementar.
O resultado pode envolver, por exemplo, a modificação do procedimento original indicado pelo médico por não autorização do plano, resultando num excesso de judicialização dos casos.
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Como resolver as questões?
A sociedade precisa refletir sobre os rumos da medicina, especialmente em relação à remuneração e às condições de trabalho dos médicos. Atualmente, muitos profissionais dependem exclusivamente do próprio esforço para garantir o sustento, o que gera competição, insegurança e possíveis desvios éticos.
Uma alternativa seria a criação de uma carreira de Estado para médicos, garantindo estabilidade, remuneração desvinculada do número de procedimentos e foco na eficiência e nos resultados.
Com uma carreira estruturada, o médico se torna parte integrante do sistema público de saúde, podendo oferecer um atendimento de maior qualidade, sem a preocupação constante com contratos e pagamentos.
A eficácia do profissional poderia ser avaliada por meio de auditorias e outros mecanismos objetivos, valorizando a real capacidade de promover saúde. Além disso, é fundamental assegurar uma remuneração justa, compatível com a carga horária e a responsabilidade da função.
Outras discussões sobre ética médica podem ser encontradas na parte de carreira do Portal Afya.
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