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Carreira29 maio 2025

Análise de dilemas éticos enfrentados por médicos experientes

O uso intensivo de tecnologias, sem a devida regulação, impacta diretamente no aumento do custo da assistência

Esta matéria dá continuidade à série sobre ética médica, abordando alguns dilemas éticos enfrentados pelos médicos mais experientes. Convidamos o Dr. Yuri Salles Lutz, membro do Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro, para discutir a temática.

Uso de novas tecnologias

Em relação aos principais dilemas éticos enfrentados pelos médicos experientes, o Dr. Lutz afirma ser importante considerar as novas tecnologias e como elas vêm impactando a rotina médica. Hoje a medicina não é mais a mesma do passado, haja vista o uso de novos equipamentos, exames complementares e que nem sempre estão alinhados ao que foi aprendido na academia, como a importância da propedêutica e da semiologia.

O conselheiro afirma: “Alguns médicos possuem dificuldade para entender que, mesmo com o acesso a essas novas tecnologias, exames complementares e formas de diagnosticar, não podemos deixar de considerar o básico do cuidado médico: uma boa anamnese e realizar o exame físico”

O uso intensivo de tecnologias, sem a devida regulação e sem estar baseado em informações da propedêutica adequada, impactam diretamente no aumento do custo da assistência, muitas vezes sem que gere resultados positivos para a saúde do paciente.

Leia mais: Evoluções e descobertas da medicina em 2024 e promessas para 2025

Organização do trabalho médico

Segundo Dr. Lutz, as relações de trabalho vêm mudando muito. Em termos de saúde pública, antes havia concursos públicos, com continuidade na posição e na carreira. Hoje, observam-se novos formatos de contratação, com perda de continuidade do contrato de trabalho do médico.

Esse fato pode gerar questões como problemas com o contrato trabalhista ou o gestor não realizar o pagamento para a administração do serviço no prazo adequado, repercutindo em atraso dos salários, por exemplo.

No final, isso compromete o atendimento ao paciente, já que as consequências possíveis são a perda da continuidade de atenção e a evasão de profissionais, ambos com comprometimento da qualidade de prestação de serviços.

Já no setor privado, o médico antes tinha mais poder e autonomia.

Com o tempo, ambos vêm se perdendo. Isso ocorre, por exemplo, por uma maior restrição do exercício da medicina devido a certos protocolos, ou por uma dificuldade em obter autorização para a realização de procedimentos, entre outras práticas que ocorrem no contexto da saúde suplementar.

O resultado pode envolver, por exemplo, a modificação do procedimento original indicado pelo médico por não autorização do plano, resultando num excesso de judicialização dos casos.

Leia também: As transformações da saúde pela IA e os desafios para a sua regulação

Como resolver as questões?

A sociedade precisa refletir sobre os rumos da medicina, especialmente em relação à remuneração e às condições de trabalho dos médicos. Atualmente, muitos profissionais dependem exclusivamente do próprio esforço para garantir o sustento, o que gera competição, insegurança e possíveis desvios éticos.

Uma alternativa seria a criação de uma carreira de Estado para médicos, garantindo estabilidade, remuneração desvinculada do número de procedimentos e foco na eficiência e nos resultados.

Com uma carreira estruturada, o médico se torna parte integrante do sistema público de saúde, podendo oferecer um atendimento de maior qualidade, sem a preocupação constante com contratos e pagamentos.

A eficácia do profissional poderia ser avaliada por meio de auditorias e outros mecanismos objetivos, valorizando a real capacidade de promover saúde. Além disso, é fundamental assegurar uma remuneração justa, compatível com a carga horária e a responsabilidade da função.

Outras discussões sobre ética médica podem ser encontradas na parte de carreira do Portal Afya.

Autoria

Foto de Paula Benevenuto Hartmann

Paula Benevenuto Hartmann

Médica pela Universidade Federal Fluminense (UFF) ⦁ Psiquiatra pelo Hospital Universitário Antônio Pedro/UFF ⦁ Mestranda em Psiquiatria e Saúde Mental pela Universidade do Porto, Portugal.

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