Atualmente, a avaliação da resposta ao tratamento anti-hipertensivo é realizada através de medidas de pressão arterial em consultório e através de medidas domiciliares (MRPA ou MAPA), quando disponíveis. Sabe-se que esses atuais métodos são limitados e não capazes de avaliar de forma objetiva a dinâmica da oscilação e variabilidade da pressão arterial ao longo do tempo e trabalhos recentes têm mostrado que esses novos fatores apresentam implicações prognósticas.
Novas metodologias com propósito de avaliar essa variabilidade da pressão arterial ao longo do tempo estão sendo estudas. Entre elas, a variabilidade da pressão arterial sistólica (VPAS) e o tempo na faixa terapêutica (TTR). A VPAS mensura o grau de oscilação dos valores pressóricos entre diferentes visitas e o TTR estima a proporção do tempo em que a pressão arterial permanece dentro de uma faixa considerada ideal (por exemplo, entre 110 e 140 mmHg para a pressão sistólica). Quando usadas em conjunto com as médias isoladas da pressão arterial, essas medidas de variabilidade podem refinar à avaliação do risco cardiovascular dos pacientes hipertensos.
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Estudo
Nesse contexto, o artigo publicado este ano no European Heart Journal por Cheng e colaboradores (Systolic Blood Pressure Variability: Risk Of Cardiovascular Events, Chronic Kidney Disease, Dementia, And Death) investigou se o aumento da VPAS ao longo do tempo resultaria em maiores riscos de eventos cardiovasculares, doença renal crônica, demência e mortalidade. Trata-se de um estudo de coorte prospectivo com dados de 36.251 participantes extraídos do UK Biobank. Para inclusão foram necessários pelo menos três registros de pressão arterial sistólica em dois períodos distintos: registros entre cinco e dez anos antes da inclusão e medições realizadas nos cinco anos imediatamente anteriores à inclusão.
A variabilidade pressórica foi calculada através do desvio padrão das medidas de pressão arterial realizadas nos dois períodos; os participantes foram divididos de acordo a magnitude de variabilidade entre as medidas e duas categorias foram definidas: variabilidade consistentemente alta ou baixa. Os desfechos clínicos avaliados foram: doença cardiovascular (doença coronariana, doença vascular cerebral, fibrilação atrial, insuficiência cardíaca), doença renal crônica, demência e mortalidade geral.
Resultados: variabilidade da pressão arterial sistólica
O estudo mostrou que o aumento da variabilidade sistólica foi associado a um risco (razão de risco, Hazard Ratio – HR) maior de doença cardiovascular (HR de 1,23), doença coronariana (HR de 1,30), AVC (HR de 1,24), doença renal crônica (HR de 1,33) e mortalidade por todas as causas (HR de 1,25), mesmo após ajustes para a média da pressão arterial e fatores de confusão. Houve ainda uma tendência sem significância estatística da associação com demência, fibrilação atrial e insuficiência cardíaca. Participantes com variabilidade persistentemente elevada ao longo dos anos apresentaram um risco ainda maior, com aumentos de 28% a 46% para esses desfechos.
Esse estudo fortalece o pensamento de que novas métricas como a VPAS e o TTR podem contribuir na melhor estratificação de risco de pacientes com hipertensão arterial. Além do valor clínico reconhecido das médias de pressão arterial domiciliares e de consultório, uma maior estabilidade do controle pressórico ao longo do tempo parece ser igualmente relevante. Novos estudos deverão ser conduzidos para avaliar quais intervenções clínicas poderão oferecer uma maior estabilidade pressórica e capacidade de redução de eventos cardiovasculares.
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