SOCESP 2024: Highlights do segundo dia de congresso
No segundo dia de congresso da SOCESP, tivemos mesas com temas diversos, apresentação de casos clínicos, discussões de como abordar pacientes com características específicas, como idosos, oncológicos, com alto risco de sangramento, entre outros.
Um assunto bastante relevante e que tem chamado cada vez mais a atenção é o tratamento da obesidade como aliado na redução de risco das doenças cardiovasculares. Esse tema fez parte de várias palestras e, provavelmente, ainda será bastante discutido. De forma geral, o tratamento da obesidade tem se mostrado auxiliar na redução do risco cardiovascular. Além disso, com medicações específicas, como os análogos do GLP-1, o tratamento aponta benefício importante, pela própria redução do peso, mas também por outros outros mecanismos, ainda não bem elucidados, que levam à redução dos eventos cardiovasculares.
Tema que sempre faz parte dos congressos de cardiologia é o referente à síndrome coronariana aguda (SCA) e seu tratamento antiplaquetário, anticoagulante e relacionado à intervenção. Um ponto relevante abordado na discussão sobre SCA em situações especiais é o que se refere ao tratamento dos pacientes com doença renal crônica.
Esses pacientes costumam ser tratados de forma subótima e, geralmente, têm apresentação clínica mais grave, mas, mesmo assim, recebem menos beta-bloqueadores e heparina e são menos revascularizados quando se apresentam com infarto sem supra de ST. No caso do infarto com supra de ST, costumam receber menos trombólise e tratamento percutâneo. A mensagem final é que esses pacientes são de maior risco cardiovascular, tendo maior risco de complicações relacionadas ao infarto e devem ser tratados da mesma forma que os pacientes que não têm doença renal em relação às medicações.
Quanto ao tratamento intervencionista, também seguem as mesmas indicações dos outros pacientes, e alguns cuidados podem ser tomados para reduzir o risco de nefropatia induzida pelo contraste, como hidratação pré e pós-procedimento, uso de contraste hipo ou iso-osmolar, uso de quantidades menores de contraste e utilização de outros métodos de imagem, como ultrassonografia intracoronária.
Ainda no tema de doença renal, houve uma discussão sobre o risco cardiovascular nestes pacientes. Doença renal crônica é fator de risco para doença cardiovascular, e doença cardiovascular pode levar à piora renal. Esse é um paciente com alto risco de eventos, como infarto, acidente vascular cerebral e morte cardiovascular, e existem algumas maneiras de prevenção: detecção precoce da doença renal (dosagem da creatinina e relação albumina-creatinina na amostra de urina isolada) e instituição de medidas nefroprotetoras, principalmente quando o paciente é diabético, como uso de IECA ou BRA, inibidores de SGLT2, análogos do GLP-1 e antagonista do receptor mineralocorticoide não esteroidal, como finerenone. A associação das medicações tem maior benefício que o uso isolado de cada uma.
Outro tema relevante abordado foi doença cardiovascular na mulher. Geralmente, mulheres têm quadros clínicos que podem se manifestar de forma um pouco diferente da dos homens. Além disso, apresentam doenças especificas, como doença hipertensiva da gestação e miocardiopatia periparto. Na pós-menopausa, a ocorrência de eventos cardiovasculares aumenta de forma importante, e as mulheres passam a ter grande incidência de doença isquêmica. Interessantemente, a ocorrência de doença isquêmica não obstrutiva é mais frequente que nos homens, e o diagnóstico pode ser um desafio.
A utilização de métodos diagnósticos, como ecocardiograma, cintilografia e principalmente a ressonância, pode ser de grande auxílio. A ressonância cardíaca consegue ajudar em uma gama de diagnósticos diferenciais, por meio da detecção de edema e inflamação, áreas de fibrose e outros achados específicos, possibilitando o diagnóstico de infarto, mesmo na ausência de doença obstrutiva, takotsubo, miocardite e outras doenças.
A avaliação microvascular e a detecção de vasoespasmo são importantes para diagnóstico de doença da microcirculação (angina microvascular) e angina vasoespástica. A doença de microcirculação pode ser diagnosticada pela presença de sintomas e de isquemia, na ausência de doença coronária obstrutiva na angiografia, testes funcionais, como FFR e iFR, sem alteração e avaliação da reserva coronariana com resultado alterado. Já o vasoespasmo pode ser diagnosticado por testes provocativos com nitrato ou acetilcolina.
No caso da paciente ter quadro compatível com infarto e a coronária ser normal pelo cateterismo, é importante investigar esses outros diagnósticos, pois essas outras alterações levam a pior prognóstico e ocorrência de eventos. Além disso, em até um quarto das vezes, a angina poder persistir.
No geral, no segundo dia de congresso, foram abordados temas de grande relevância para a prática clínica e que nos ajudam nos desafios do dia a dia.
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