SOCESP 2024: Como usar teste cardiopulmonar em valvopatias e miocardiopatias?
No primeiro dia da SOCESP, tivemos uma sessão completa sobre a utilidade do teste cardiopulmonar para pacientes cardiopatas, com destaque para a utilização do mesmo na tomada de decisão terapêutica, principalmente, nas valvopatias e miocardiopatias.
O teste cardiopulmonar ainda é um exame subutilizado na cardiologia, no entanto, é um exame completo para investigação de etiologias de dispneia, pois avalia todos os sistemas orgânicos que envolvem o “caminho” dos gases oxigênio e carbônico, desde o nível macroscópico de vias aéreas até o nível mitocondrial, diferenciando doenças pulmonares, cardíacas e destreino. Além disso, fornece informações valiosas e precoces na avaliação da gravidade do paciente com miocardiopatias e doenças valvares, podendo auxiliar na tomada de decisão de intervenção de trocas valvares, transplante cardíaco ou até liberação para o esporte.
Em relação às doenças valvares, os pacientes com valvopatia importante e oligossintomáticos, valvopatias moderadas aos exames de imagem e muito sintomáticos e com estenose aórtica baixo-fluxo baixo-gradiente podem realizar o teste cardiopulmonar para acessar a real gravidade da doença. A associação do ecocardiograma ao teste permite maior detalhamento das pressões intracardíacas e pulmonares no esforço acessando a repercussão hemodinâmica da valvopatia durante o exercício. Baixa capacidade funcional e tolerância ao esforço, comportamento anormal da pressão arterial e da frequência cardíaca, aumento do gradiente transvalvar e hipertensão pulmonar estão associados à maior gravidade. Esse conjunto de avaliações pode ajudar o cardiologista na tomada de decisão sobre o momento da intervenção cirúrgica de seu paciente, ajuste medicamentoso e liberação ou contraindicação de exercício físico.
Já em relação às miocardiopatias e insuficiência cardíaca (IC), muitos pacientes têm lenta progressão da doença ou limitam-se fisicamente e, por isso, não se queixam de incapacidade, sendo o teste capaz deesclarecer quem são os pacientes de maior risco com sintomas equivocados.
De forma geral, o VO2 pico menor que 60-52% (a depender do estudo) e VE/VCO2 slope maior que 34 têm relação com internação por insuficiência cardíaca, assistência circulatória, transplante cardíaco e morte súbita, porém os tipos de miocardiopatias têm suas peculiaridades.
Nas miocardiopatias restritivas, o pulso de oxigênio tem grande valia (representa o volume sistólico) e a frequência cardíaca pico menor que 70% associa-se a maior risco de morte súbita. Nas dilatadas, VO2 pico menor que 52%, VE/VCO2 slope maior que 34 e baixo VO2/WR predizem necessidade de suporte circulatório mecânico e transplante cardíaco. Geralmente, na cardiopatia hipertrófica, o VO2 predito menor que 50%, a potência circulatória (VO2xPAS) e o VE/VCO2 slope têm relação com o risco de morte súbita, hospitalização por IC e suporte circulatório mecânico. Em casos de IC com fração de ejeção preservada, VO2 pico em percentual do predito menor que 50 indica risco moderado e 50 ou mais indica baixo de complicações da IC, como hospitalização e morte.
Em resumo, o teste cardiopulmonar, além de ser um ferramenta diagnóstica na investigação de dispneia, traz preditores prognósticos nas valvopatias e miocardiopatias auxiliando a guiar a intervenção médica clínica e cirúrgica.
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