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Cardiologia2 junho 2021

Quando repetir a tomografia com escore de cálcio?

Calcificação coronária, avaliada na tomografia e usada como marcador de risco cardiovascular, retrata a carga de aterosclerose nas coronárias.

A calcificação coronária, avaliada pela tomografia, representa a carga de aterosclerose nas coronárias e é usada de forma rotineira como marcador de risco cardiovascular. O escore de cálcio igual a zero é excelente marcador, com um alto valor preditivo negativo para risco cardiovascular. O tempo ideal para repetir este exame não está bem estabelecido, mas parece ser entre 3 e 5 anos. Porém, pode ser que pessoas com características e comorbidades diferentes tenham diferentes evoluções. 

Foi publicado recentemente um estudo no JACC, que avaliou o momento ideal para repetir este exame a partir de uma estratificação de risco individualizada, considerando etnia e presença dos fatores de risco como diabetes, tabagismo e história familiar positiva. 

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Quando repetir a tomografia com score de cálcio?

Two medical students looking through the books together

Características do estudo

Foi um estudo de coorte observacional que incluiu 6.814 pacientes de 45 a 84 anos sem doença cardiovascular conhecida, em 6 diferentes centros nos Estados Unidos.

Todos os pacientes realizaram uma tomografia com avaliação do escore de cálcio no momento inicial e repetiram este exame em um segundo momento, que variou entre os grupos. Os tempos médios em que os exames foram repetidos foram de 1,7, 3,2, 4,9 e 9,7 anos, independente de características clínicas. A média de seguimento foi de 12,6 anos e foi avaliada a ocorrência de doença coronária aguda: morte por doença coronária, morte súbita abortada e infarto agudo do miocárdio.

Resultados

Do total de 6814 pacientes que realizaram a tomografia, 3.116 tinham escore de cálcio inicial 0. Desses, 60% tinham menos de 60 anos, 9% tinha diabetes, 13% eram tabagistas e 37% tinha história familiar de doença coronária. Em relação ao risco cardiovascular, 31% tinham risco baixo, 44% intermediário e 25% alto pelo escore ASCVD.

Ao longo do tempo, a prevalência de escore de cálcio > 0 foi aumentando progressivamente: 11% até o segundo ano, 20% até o quarto ano, 28% até o sexto ano e 46% até o décimo ano. Quase metade dos pacientes com escore de cálcio inicial 0 teve escore > 0 em algum momento dos 10 anos de seguimento. O aumento do valor do escore de cálcio em pacientes que já partiram de escore > 10 foi semelhante aos que tinham escore 0 nos primeiros 3 a 5 anos. Já a incidência de escore > 100 foi baixa, com aumento pequeno no seguimento. As prevalências de escore > 0, > 10 e > 100 ao final de 10 anos foi de 52%, 36% e 8% respectivamente.

Ao dividir os pacientes em grupos baseado em risco cardiovascular, o aumento do escore de cálcio de 0 para > 0 foi de 6% ao ano no grupo de risco intermediário e 3% ao ano no grupo de baixo risco, que mostra progressão bastante lenta. Em 10 anos, a prevalência de escore > 0 foi de 78% no grupo alto risco, 62% no intermediário e 37% no baixo risco. 

Saiba mais: Escore de cálcio é confiável para estratificar risco cardiovascular?

O tempo para a progressão do escore de cálcio para níveis maiores que 0 variou menos entre as mulheres que para os homens de diferentes etnias.  Esse tempo é bem maior para os chineses (7,1 anos) que para hispânicos e negros (5 anos) e brancos (5,1 anos). 

Em relação aos fatores de risco, o impacto maior é com o diabetes, que reduz o tempo para progressão do escore de cálcio de forma importante: pacientes com diabetes tem progressão em tempo médio de 3,4 anos e sem diabetes em 6,4 anos. Tabagismo e história familiar tiveram um impacto muito baixo, porém a população de pacientes com esses antecedentes foi pequena neste estudo. 

A evolução para escore > 10 demorou em média 5 a 8 anos, a depender do risco cardiovascular, e para escore > 100, demorou pelo menos 9 anos nos pacientes de alto risco, sendo que foi rara a evolução para esse valor nos pacientes com risco menor.

A ocorrência de eventos relacionada a doença coronária antes da realização do segundo exame foi muito baixa (14% no grupo que repetiu com 2 a 4 anos, 19% no grupo de 4 a 6 anos e 46% no grupo de 6 a 10 anos). Porém, o número total de eventos neste estudo foi muito baixo, o que limita a avaliação estatística e conclusões mais significativas. 

Conclusão 

Este estudo sugere que um período de 3 a 7 anos como um período adequado para repetir a tomografia com escore de cálcio em pacientes com escore inicialmente 0, a depender de sexo, idade, risco cardiovascular, presença de diabetes e etnia. Sugere-se os tempo de 3 anos para pacientes com alto risco ou diabetes, 3 a 5 anos para os com risco intermediário e 6 a 7 anos para os com baixo risco.

Este é o primeiro grande estudo que avalia o melhor momento para repetir o escore de cálcio baseado em características clínicas do pacientes e nos sugere um tempo ideal a depender do risco cardiovascular e presença de diabetes, o que é bastante interessante e ajuda a nos guiar na prática clínica. Talvez esse estudo traga alguma mudança nos próximos guidelines de prevenção cardiovascular em relação ao seguimento dos pacientes.

Referências bibliográficas:

  • Dzaye O, et al. Warranty Period of a Calcium Score of Zero: Comprehensive Analysis From MESA. JACC: Cardiovascular Imaging. 2021;14(5):990-1002. doi:10.1016/j.jcmg.2020.06.048
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