Qual o papel da terapia de reposição estrogênica na prevenção de IC?
O papel cardiovascular (CV) da terapia de reposição estrogênica (TRE) em mulheres na pós-menopausa sempre foi controverso. Vários estudos observacionais demonstraram os efeitos benéficos do uso de estrogênio na pós-menopausa, incluindo redução da morbidade por doença CV. Outros ensaios clínicos randomizados controlados, incluindo a Women’s Health Initiative (WHI) e o Heart and Estrogen/progestin Replacement Study (HERS), forneceram evidências de que o estrogênio não oferecia benefícios CV globais, o que levou, por um tempo, as mulheres a abandonarem o tratamento e os médicos a diminuírem a prescrição da TRE.
Estudo
Uma recente revisão sistemática com metanálise publicada na Preventive Medicine revisou a literatura através da metodologia PRISMA para determinar o impacto da TRE na insuficiência cardíaca (IC). Foram utilizados as bases de dados Web of Science, PubMed e Embase até setembro de 2023. Os termos utilizados foram: “terapia de reposição de estrogênio”, “insuficiência cardíaca” e “terapia de reposição hormonal pós-menopausa”. Dois autores avaliaram independentemente todos os títulos e resumos dos documentos.
Metodologia
Os artigos relativos à TRE e IC foram identificados e corresponderam a 1.459, sendo 41 estudos considerados relevantes e lidos por completo. Destes, 5 foram selecionados e mensurados dados como: desenho e duração dos estudos, idade média das mulheres, índice de massa corporal (IMC) médio, idade na menopausa e duração do acompanhamento dos estudos. Os desfechos primários foram os desfechos compostos da primeira insuficiência cardíaca hospitalizada comparados com os da internação hospitalar por insuficiência cardíaca.
O tamanho de amostra variou de 435 a 27.015, com média de idade dos participantes variando de 49 a 73 anos. As populações dos estudos foram realizadas com 10 ou até 20 anos após a menopausa. Até o final do acompanhamento, a terapia de reposição de estrogênio não teve efeito significativo no desfecho composto em mulheres na pós-menopausa, com um risco relativo de 1,02 (IC 95% 0,94–1,10).
Resultados
Ensaios clínicos randomizados anteriores, indicavam que a TRE não teria efeito sobre a IC; no entanto, mulheres na pós-menopausa com IC relataram vantagens em pesquisas observacionais. Essas pesquisas indicavam que a deficiência de estrogênio resultava em inflamação cardíaca e fibrose, levando à remodelação cardíaca e disfunção diastólica do VE.
O início precoce (dentro de um mês) da medicação de reposição de estrogênio melhorou o desempenho diastólico do ventrículo esquerdo (VE) e atrasou o início da insuficiência cardíaca. As mulheres que iniciaram a terapia hormonal durante a transição da menopausa podem ter cardioproteção superior em comparação com aquelas que iniciam a medicação mais tarde na menopausa.
Fatores de confusão, viés de seleção e outras limitações podem levar a uma superestimação dos benefícios. Foi sugerido que as mulheres que usam terapia hormonal regularmente poderiam ter um risco menor de doenças CV devido ao seu estilo de vida mais saudável, possuindo melhor acesso aos cuidados em saúde e tratamento para as doenças. As mulheres que utilizavam métodos hormonais regulares, teriam maior probabilidade de utilizarem também medicamentos para outras patologias de maneira adequada.
Como limitador, o estudo cita a população analisada, composta apenas por norte-americanos e de maioria branca, falta de um terceiro revisor e inclusão de um pequeno número de estudos.
Mensagem prática sobre terapia de reposição estrogênica e IC
O estudo demonstra que a TRE não alterou significativamente o risco de primeira hospitalização por insuficiência cardíaca e de internação hospitalar por insuficiência cardíaca em mulheres na pós-menopausa, porém não defende o início de TRE exclusivamente com o propósito de prevenir a insuficiência cardíaca.
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