O uso de polipílulas no tratamento da hipertensão arterial sistêmica (HAS) é uma estratégia inovadora proposta para melhorar a adesão e aumentar a eficiência na obtenção das metas pressóricas. Estudos recentes mostram que as polipílulas são superiores na redução da pressão arterial sistólica e diastólica em relação ao tratamento com monoterapia ou combinações duplas. Uma meta-análise recente (Low-Dose Combinations With 3 or 4 Blood Pressure–Lowering Medications for the Treatment of Hypertension) reuniu 12 ensaios clínicos randomizados (n = 2.581) para avaliar o uso de polipílulas em doses baixas como estratégia inicial no tratamento da hipertensão.
As intervenções avaliadas incluíram polipílulas em doses baixas (≤ 50% da dose padrão de cada fármaco) em diferentes combinações entre inibidores da ECA ou bloqueadores do receptor de angiotensina, bloqueadores de canal de cálcio, diuréticos tiazídicos e betabloqueadores. Os desfechos primários foram a redução da pressão arterial sistólica e diastólica e a proporção de pacientes que atingiram valores abaixo de 140/90 mmHg. Os desfechos secundários incluíram a análise do efeito da pressão arterial basal na magnitude da resposta, segurança e tolerabilidade mensurada pela taxa de descontinuação.
Entre os principais resultados, a meta-análise mostrou que as polipilulas foram consistentemente superiores em relação ao placebo, a monoterapia e aos cuidados habituais (intensificação escalonada pelo médico). Essa superioridade se refletiu não somente na redução média da pressão arterial, como também na taxa de controle (tabela abaixo).
Em termos de segurança, não houve diferença significativa nas taxas de descontinuação por eventos adversos entre os grupos (variação entre 1 a 4%). Os efeitos colaterais graves não foram mais frequentes, embora tenha havido um discreto aumento de episódios de tontura ou hipotensão sintomática em comparação à monoterapia (7% versus 3%).
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Apesar dessas evidências recentes, ainda não podemos considerá-las como definitivas na prática clínica. Os principais trabalhos incluídos na metanálise não avaliaram desfechos clínicos duros, as combinações foram heterógenas e o período de acompanhamento relativamente curto. Do ponto de vista prático, cabe destacar que no Brasil ainda existem poucas opções de polipílulas disponíveis comercialmente, com custo que pode representar uma limitação ao uso mais amplo. Mesmo assim, o conjunto atual de evidências aponta para um grande potencial clínico dessa estratégia, com ganhos na adesão, rapidez para atingir as metas pressóricas e maior proporção de pacientes em controle, mantendo ao mesmo tempo um perfil de segurança e tolerabilidade favorável. Trata-se, portanto, de uma alternativa promissora e novos estudos de longo prazo podem consolidar seu papel no tratamento da hipertensão.
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