Os marca-passos cardíacos são dispositivos que revolucionaram a cardiologia moderna e hoje são empregados no tratamento das bradiarritmias, das taquiarritmias e da insuficiência cardíaca. Entretanto, sabe-se que a estimulação exclusiva do ventrículo direito (VD) está associada à insuficiência cardíaca e aumento da mortalidade. Por que isto acontece? Quando o marca-passo estimula o VD ele gera um bloqueio de ramo esquerdo. Este por sua vez cria uma dissincronia entre os ventrículos. A longo prazo, pode haver também dilatação do VD. Baseado nisso, alguns autores começaram a avaliar se a estimulação do feixe de HIS e não do VD, poderia ser uma alternativa para solucionar este problema. Lembra o que é o feixe de HIS? Veja na figura abaixo do nosso Manual de Eletrocardiografia Cardiopapers:

Qual seria a lógica então de estimular este feixe? Basicamente desta forma se estimularia o sistema de condução ventricular antes da divisão entre os ramos direito e esquerdo. Assim, estes ramos seriam estimulados de forma simultânea, como acontece fisiologicamente, o que geraria um QRS estreito (ausência de bloqueio de ramo) e acabaria com o problema da dissincronia.
Um importante estudo avaliando este tema acaba de ser publicado, J Am Coll Cardiol. 2018 Mar 5. pii: S0735-1097(18)33478-8. Em um primeiro hospital, 332 pacientes receberam, de forma consecutiva, um marca-passo com estimulação do HIS. Em um outro hospital, que recebia uma população semelhante à do primeiro hospital, 433 pacientes receberam, de forma consecutiva, o implante de marca-passo estimulando o VD. A fração de ejeção média do ventrículo esquerdo desta população era 54,5 ± 9,5%. O objetivo principal do estudo foi avaliar um desfecho combinado de morte, hospitalização por insuficiência cardíaca ou a necessidade de “upgrade” para estimulação biventricular.
A estimulação do HIS foi possível em 304 dos 332 pacientes (92%). Houve uma redução significativa do desfecho primário em favor do grupo submetido à estimulação do HIS em comparação ao grupo submetido à estimulação do VD (HR 0,71, 95% CI 0,534-0,944; p = 0,02). Essa diferença foi observada principalmente em pacientes que tiveram mais de 20% de estimulação do VD.
A conclusão dos autores foi que a estimulação do HIS é factível e segura no mundo real. A estimulação do HIS foi associada à redução do desfecho primário composto por morte, hospitalização por insuficiência cardíaca ou necessidade de “upgrade” para estimulação biventricular.
Nossa opinião:
- a estimulação do HIS se mostrando segura a médio e longo prazo deve se transformar na técnica de escolha preferencial para estimulação cardíaca dos ventrículos. Esta estratégia também deve ser avaliada em pacientes com disfunção ventricular.
Como você avalia este conteúdo?
Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.