TEMPO É MIOCÁRDIO!
Tem gente por aí que, de tanto ouvir a expressão acima, já deve estar cansada dela. Bom sinal: significa que ela conseguiu entrar na sua mente de forma eficaz. Sempre que você acompanhar os processos diagnóstico e terapêutico de uma síndrome coronariana aguda, essa frase virá “martelando” seu cérebro e não deixando você em paz até finalizar todas as etapas do tratamento inicial. Tempo é miocárdio…. Tempo é miocárdio….
Peraí… Rodei um eletrocardiograma e não veio supra! Ufa, estou diante de uma síndrome coronariana aguda sem supradesnivelamento do segmento ST (SCASSST)… Posso ficar mais tranquilo e agendar o cateterismo com tranquilidade… O tempo está a meu favor!
Será mesmo?
Em alguns casos, o tempo está completamente contra você!
São situações catastróficas, quando qualquer minuto desperdiçado pode ser decisivo para o desfecho clínico do paciente. Quais são essas situações? A última diretriz do Sociedade Europeia de Cardiologia, de 2015, enumera esses eventos, denominando tais condições de SCASSST de muito alto risco:

A presença de qualquer um dos critérios acima coloca a SCASSST praticamente no mesmo patamar do temido infarto com supra (IAMCSST)! O que isso quer dizer? Temos que reperfundir a artéria lesada, e reperfundir rápido! A diretriz europeia recomenda a realização de estratificação invasiva com cateterismo cardíaco em, no máximo, 120 minutos após a chegada do paciente ao hospital. A urgência dessa abordagem é muito similar ao “tempo porta-balão” do IAMCSST, que é de 90 minutos.
Leia mais: ‘IAM + BRE: o que mudou nos últimos anos?’
Ou seja, o eletrocardiograma não mostrou “supra”, mas o paciente se enquadra em qualquer um dos critérios de muito alto risco? Não espere as enzimas, TIMI, GRACE, nada disso… Corra para fazer um cateterismo em menos de 2 horas e reperfundir a coronária o quanto antes… Tempo, nessas situações, realmente é miocárdio!
Só uma observação importante: é para reperfundir a artéria rapidamente sim, mas apenas por meio angioplastia. A trombólise química está contraindicada na SCASSST, mesmo nessas situações de muito alto risco!
Lembra-se de como estratificar o risco do paciente com SCASSST? Você realmente sabe qual é a utilidade dos escores TIMI e GRACE nesses casos? Descubra neste outro texto preparado pela Sala Vermelha.
Você sabia que o infarto nem sempre causa dor torácica? Qual é a relevância disso no dia a dia do atendimento médico? Dá só uma olhada neste outro texto aqui.
Faça valer a pena! Faça valer a vida!
Referência:
- Roffi M, Patrono C, Collet JP, et al. 2015 ESC Guidelines for the management of acute coronary syndromes in patients presenting without persistent ST-segment elevation: Task Force for the Management of Acute Coronary Syndromes in Patients Presenting without Persistent ST-Segment Elevation of the European Society of Cardiology (ESC). Eur Heart J. 2016; 37(3):267-315.
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