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Cardiologia31 agosto 2025

ESC 2025: Suspender ou não anticoagulação oral após ablação de fibrilação atrial?

No terceiro dia do Congresso Europeu de Cardiologia (ESC 2025) foi apresentado o estudo ALONE-AF.

A fibrilação atrial (FA) representa uma causa frequente de eventos tromboembólicos, especialmente o acidente vascular cerebral (AVC). O efeito da ablação por cateter nos resultados tromboembólicos a longo prazo permanece incerto, sendo indicada a terapia anticoagulante oral contínua após a ablação bem-sucedida em pacientes considerados com risco significativo de tromboembolismo. 

No terceiro dia do Congresso Europeu de Cardiologia (ESC 2025) foi apresentado o estudo ALONE-AF (Anticoagulation One year after Ablation of Atrial Fibrillation in Patientswith Atrial Fibrillation – Anticoagulação Um Ano Após Ablação de Fibrilação Atrial em Pacientes com Fibrilação Atrial), que foi desenvolvido para avaliar se a descontinuação da terapia anticoagulante oral poderia levar a menos eventos adversos (incluindo AVC, embolia sistêmica e sangramento grave) em comparação com a continuação da terapia anticoagulante oral direta em pacientes sem recorrência de FA documentada por pelo menos um ano após a ablação.

Estudo avaliou motivos para a não-prescrição de anticoagulante em pacientes com FA

Metodologia

  • O ALONE-AF foi um ensaio clínico randomizado, aberto e multicêntrico, conduzido em 18 hospitais na Coreia do Sul.
  • Foram incluídos 840 pacientes adultos (com idades entre 19 e 80 anos) que foram inscritos e randomizados entre 28 de julho de 2020 e 9 de março de 2023.
  • Os pacientes elegíveis tinham histórico de FA, haviam se submetido à ablação de FA por cateter e apresentavam pelo menos um fator de risco para AVC não relacionado ao sexo (definido por um escore CHA2DS2-VASc de ≥1 para homens ou ≥2 para mulheres).
  • Uma condição crucial para a inclusão era a ausência de recorrência documentada de arritmia atrial por pelo menos um ano após a ablação. A recorrência de arritmia atrial foi definida como qualquer episódio documentado com duração de 30 segundos ou mais de FA, flutter atrial ou taquicardia atrial, avaliado por pelo menos duas sessões de monitoramento Holter de 24 a 72 horas e monitoramento ECG.
  •  Os pacientes foram randomizados em uma proporção de 1:1 para descontinuar a terapia anticoagulante oral (n = 417) ou continuar a terapia anticoagulante oral com anticoagulantes orais diretos [DOACs] (n = 423), recebendo apixabana ou rivaroxabana.

 Desfechos principais e secundários

  •  O desfecho primário foi a primeira ocorrência de um composto de AVC, embolia sistêmica e sangramento maior em 2 anos. 
  • Os desfechos secundários incluíram componentes individuais do desfecho primário (como AVC isquêmico e sangramento maior), sangramento não maior clinicamente relevante, mortalidade por todas as causas, infarto do miocárdio (IM), ataque isquêmico transitório (AIT) e hospitalização por qualquer causa. 
  • Todos os pacientes foram submetidos a monitoramento ECG de rotina em cada visita de acompanhamento e monitoramento Holter de 24 a 72 horas pelo menos a cada seis meses. Monitoramento adicional foi recomendado para sintomas sugestivos de recorrência de arritmia.

Resultados

  • A idade média foi de 64 anos, 24,9% eram mulheres, escore CHA2DS2-VASc médio foi de 2,1, indicando risco de AVC, 67,6% tinham FA paroxística, O escore HAS-BLED médio foi de 1,8, duração média entre a ablação por cateter e a randomização foi de 3,6 anos.
  • Desfecho primário: Em 2 anos, o desfecho primário (composto de AVC, embolia sistêmica e sangramento maior) ocorreu em: 1 paciente (0,3%) no grupo de descontinuação da terapia anticoagulante oral, 8 pacientes (2,2%) no grupo de continuação da terapia anticoagulante oral, com uma diferença absoluta de –1,9 pontos percentuais (IC 95%, −3,5 a −0,3; P = 0,02), indicando um risco significativamente menor no grupo de descontinuação. 
  • AVC isquêmico ou embolia sistêmica: A incidência cumulativa em dois anos foi de 0,3% no grupo de descontinuação e 0,8% no grupo de continuação, com uma diferença absoluta de –0,5 pontos percentuais.
  • Sangramento maior: Ocorreu em 0 pacientes no grupo de descontinuação e 5 pacientes (1,4%) no grupo de continuação, com uma diferença absoluta de –1,4 pontos percentuais (IC 95%, −2,6 a −0,2; P = 0,03).
  • Outros desfechos: Não houve casos relatados de mortalidade por todas as causas ou infarto do miocárdio em nenhum dos grupos.

Entre pacientes sem recorrência documentada de arritmia atrial após ablação por cateter para FA, a descontinuação da terapia anticoagulante oral resultou em um risco menor para o desfecho composto de AVC, embolia sistêmica e sangramento maior em comparação com a continuação da terapia anticoagulante oral direta. Esse resultado foi principalmente atribuível a uma redução nos eventos de sangramento maior, enquanto a incidência de complicações isquêmicas permaneceu comparável entre os grupos.

Considerações finais

Esse estudo não é suficiente isoladamente para mudar condutas mas sugere necessidade de novos ensaios investigando  a suspensão da anticoagulação para esse grupo de pacientes, podendo vir a modificar diretrizes.

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