Logotipo Afya
Anúncio
Cardiologia31 agosto 2025

ESC 2025: Podemos suspender aspirina precocemente após angioplastia por infarto?

O estudo NEO-MINDSET foi apresentado no terceiro dia do congresso da European Society of Cardiology.
Por Isabela Abud Manta

A dupla antiagregação plaquetária (DAPT) por 12 meses é recomendada como tratamento padrão para pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea (ICP) após síndrome coronariana aguda (SCA). Porém, isto aumenta o risco de sangramento, que tem relação com pior prognóstico. 

Os eventos trombóticos e de sangramento são mais comuns na fase precoce pós-procedimento e alternativas a este tratamento vem sendo testadas. No terceiro dia do Congresso Europeu de Cardiologia (ESC 2025) foram apresentados dois estudos sobre esse assunto, o primeiro deles foi o estudo NEO-MINDSET, que tinha a hipótese de que monoterapia com um inibidor potente de P2Y12 precocemente após ICP com sucesso seria não inferior a DAPT em relação a morte e eventos isquêmicos e seria superior em reduzir sangramento.  

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi estudo multicêntrico, randomizado, aberto, com desfecho cego, realizado em 50 centros do Brasil. Os critérios para inclusão eram idade ≥ 18 anos, internação por SCA e realização de ICP de todas as lesões alvo com stent farmacológico nos primeiros 4 dias de internação. 

Os pacientes eram randomizados para suspender a aspirina e manter um inibidor de P2Y12 potente ou para receber tratamento com aspirina mais um inibidor de P2Y12 potente por 12 meses. Quando o paciente não estava em uso de inibidor de P2Y12 ou estava em uso de clopidogrel, recebia uma dose de ataque de prasugrel 60mg, seguido de manutenção de 5 ou 10mg 1x ao dia, ou ticagrelor 180mg, seguido de manutenção de 90mg 2x ao dia. A dose de aspirina era de 81 a 100mg 1x ao dia.  

Os desfechos primários eram morte por qualquer causa, infarto agudo do miocárdio (IAM), acidente vascular cerebral (AVC) ou revascularização de urgência e sangramento maior ou sangramento não maior clinicamente relevante (BARC 2,3 ou 5). 

Resultados 

Foram incluídos 1712 pacientes no grupo monoterapia e 1698 pacientes no grupo DAPT. As características dos pacientes eram semelhantes entre os grupos, que tinham idade média de 59,6 anos, 29,3% eram mulheres e 27,4% tinham diabetes. A maior parte apresentou infarto com supradesnivelamento do segmento ST (62,1%), 43,9% tinham doença multiarterial e 19,8% tinham alto risco de sangramento.  

Antes da randomização, que ocorreu na média de 2 dias, a maioria estava em uso de aspirina (96,8%) e clopidogrel (84,6%). Prasugrel foi administrado para 69% dos pacientes de cada grupo e ticagrelor para 28% do grupo monoterapia e 29,5% do grupo DAPT.  

O desfecho primário isquêmico ocorreu em 119 pacientes do grupo monoterapia e 93 pacientes do grupo DAPT, sem critérios para não inferioridade alcançado. Como este critério não foi alcançado a avaliação de superioridade em relação a sangramento não foi realizada. Os desfechos de sangramento ocorreram em 33 pacientes no grupo monoterapia e em 82 pacientes no grupo DAPT. 

Houve trombose subaguda de stent em 10 pacientes do grupo monoterapia e em 2 do grupo DAPT. Após 30 dias a taxa de eventos foi semelhante nos dois grupos. 

Comentários e conclusão 

Esse estudo avaliou a eficácia e segurança da suspensão de aspirina com manutenção de um inibidor de P2Y12 potente em monoterapia, em pacientes com SCA tratados com ICP. 

A monoterapia não foi não inferior a DAPT em 12 meses e houve menor sangramento no grupo que estava em monoterapia. Ou seja, há aumento do risco de eventos isquêmicos ao se suspender aspirina no tratamento desses pacientes, que ocorreram principalmente nas primeiras semanas após ICP. 

Algumas limitações do estudo são que foi estudo aberto e a ocorrência de eventos isquêmicos e de sangramento foi menor que a estimada inicialmente. Além disso, pacientes com alto risco de sangramento, como os em uso de anticoagulantes ou com sangramento intracraniano prévio, foram excluídos. 

Assim, esses resultados sugerem que a aspirina ainda é medicação importante no tratamento da SCA, principalmente nas suas fases iniciais, e deve ser mantida.

Confira todos os destaques da cobertura do ESC 2025 aqui!

Aproveite para acompanhar as lives da Afya Cardiopapers sobre o ESC 2025. Com elas você poderá saber de forma prática e rápida como as discussões do congresso irão afetar a sua prática clínica. Acesse agora!

Como você avalia este conteúdo?

Sua opinião ajudará outros médicos a encontrar conteúdos mais relevantes.

Compartilhar artigo

Referências bibliográficas

Newsletter

Aproveite o benefício de manter-se atualizado sem esforço.

Anúncio

Leia também em Cardiologia