A dupla antiagregação plaquetária (DAPT) por 12 meses é recomendada como tratamento padrão para pacientes submetidos a intervenção coronária percutânea (ICP) após síndrome coronariana aguda (SCA), como forma de prevenir eventos isquêmicos. Porém, isto aumenta o risco de sangramento, que tem relação com pior prognóstico.
A utilização de stents mais novos e novas medicações tem possibilitado a modificação deste tratamento, com encurtamento da DAPT em pacientes com alto risco de sangramento por exemplo. Porém, poucos estudos avaliaram suspensão da aspirina em pacientes especificamente com infarto agudo do miocárdio (IAM).
No terceiro dia do Congresso Europeu de Cardiologia (ESC 2025) foram apresentados dois estudos sobre esse assunto, um deles foi o TARGET-FIRST, que avaliou a suspensão da aspirina em pacientes com IAM e revascularização completa com stents atuais, principalmente quando o risco de sangramento era maior que o risco isquêmico residual.
Métodos do estudo e população envolvida
Foi estudo prospectivo, multicêntrico, aberto, randomizado e controlado realizado em 40 centros da Europa. Os critérios para inclusão eram idade de pelo menos 18 anos, internação por IAM e revascularização completa, definida como o tratamento de todas as obstruções angiograficamente significativas, com stent farmacológico. Os pacientes deveriam ter no máximo três lesões em até três vasos. Pacientes com alto risco de sangramento ou alto risco isquêmico eram excluídos do estudo.
Os pacientes eram randomizados após 30 dias de DAPT com aspirina associado a um inibidor de P2Y12, para monoterapia com inibidor de P2Y12 (grupo intervenção) ou manutenção de DAPT por mais 11 meses. O inibidor de P2Y12 poderia ser clopidogrel, prasugrel ou ticagrelor, porém com sugestão de utilização dos últimos dois.
O desfecho primário era composto por eventos clínicos e cerebrovasculares adversos, definidos como morte por qualquer causa, IAM, trombose de stent, acidente vascular cerebral (AVC) ou sangramento maior em 12 meses. O desfecho secundário principal era sangramento tipo 2, 3 ou 5 pela classificação de BARC.
Resultados
Foram randomizados 961 pacientes para o grupo monoterapia e 981 para o grupo DAPT. A idade média era 61 anos, 78,4% eram do sexo masculino, 14,5% tinham diabetes, 38,7% hipertensão e 27,8% hipercolesterolemia. Metade dos pacientes teve IAM com supra e metade IAM sem supradesnivelamento do segmento ST. O número e comprimento dos stents foram semelhantes e a maioria dos pacientes tinha apenas uma lesão.
O inibidor de P2Y12 mais utilizado foi ticagrelor (74%), seguido de prasugrel (20,9%) e clopidogrel (5,1%). A aderência foi próxima de 90% nos dois grupos.
A ocorrência do desfecho primário foi semelhante nos dois grupos, ocorrendo em 2,1% no grupo intervenção e 2,2% no grupo DAPT e atingindo o critério de não inferioridade. A ocorrência de sangramento foi maior no grupo DAPT (5,6% x 2,6%, com HR 0,46; IC 95% 0,29-0,75; p=0,002 para superioridade da monoterapia).
Comentários e conclusão
Esse estudo avaliou a suspensão precoce da aspirina em pacientes com IAM e revascularização completa que tinham baixo risco isquêmico e baixo risco de sangramento e encontrou resultados semelhantes na ocorrência de eventos isquêmicos nos dois grupos e menor ocorrência de sangramento no grupo que usou apenas o inibidor de P2Y12.
Esse resultado difere de outros estudos, porém os pacientes incluídos na randomização tinham baixo risco isquêmico, foram submetidos a revascularização completa com stents mais modernos e fizeram utilização de DAPT por um mês, período no qual há maior ocorrência de eventos, sendo que os pacientes que tiveram eventos antes dos 30 dias foram excluídos da randomização.
Assim, pacientes com IAM de baixo risco submetidos a revascularização completa podem ser candidatos a suspensão de aspirina após 30 dias de DAPT, se ausência de complicações neste período.
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