Dietas ricas em carboidratos são piores para a saúde
O estudo Prospective Urban Rural Epidemiology (PURE) analisou o impacto da dieta sobre a mortalidade total e doenças cardiovasculares em diversos ambientes.
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A relação entre macronutrientes e doenças cardiovasculares e mortalidade é controversa. A maioria dos dados disponíveis são de populações europeias e norte-americanas onde o excesso de nutrição é mais provável, portanto sua aplicabilidade em outras populações não é evidente.
Realizado por pesquisadores canadenses, o estudo Prospective Urban Rural Epidemiology (PURE) analisou o impacto da dieta sobre a mortalidade total e doenças cardiovasculares em diversos ambientes, como aqueles em que a hipernutrição é comum e onde a subnutrição é mais preocupante.
O estudo reuniu dados alimentares de indivíduos de 18 países de 5 continentes com o objetivo de avaliar a associação de gorduras e carboidratos com mortalidade total e eventos de doenças cardiovasculares. Adicionalmente, também foi analisado as associações entre esses nutrientes e infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC), mortalidade por doenças cardiovasculares e mortalidade por doenças não-cardiovasculares.
O estudo com mediana de acompanhamento de 7,4 anos avaliou 135.335 indivíduos de 35 a 70 anos. Durante o seguimento, foram documentados 5.796 óbitos (n=1.649 devido a doenças cardiovasculares; n=3.809 devido a doenças não-cardiovasculares) e 4.784 eventos de doenças cardiovasculares, sendo 2.143 infartos e 2.234 AVCs.
Entre as mortalidades por doenças não-cardiovasculares, em todas as regiões exceto na África, a causa mais comum foi o câncer seguido de doenças respiratórias. Na África, a doença infecciosa foi a primeira e a doença respiratória foi a segunda causa mais comum de mortalidade por doenças não-cardiovasculares.
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O consumo de carboidratos foi maior na China, no sul da Ásia e na África em comparação com outras regiões. No sul da Ásia, cerca de 65% da população consome pelo menos 60% de energia proveniente de carboidratos e 33% consomem pelo menos 70% de energia proveniente de carboidratos e, na China, as porcentagens correspondentes são de 77% e 43%.
A ingestão mais elevada de carboidrato (mais de cerca de 60% de energia) foi associada a um risco aumentado de mortalidade total, mas não ao risco de doenças cardiovasculares ou mortalidade por doenças cardiovasculares. Em contrapartida, a ingestão elevada de gordura total e cada tipo de gordura foi associada com menor risco de mortalidade total.
Uma maior ingestão de gordura saturada foi associada a menor risco de AVC. A gordura total e as gorduras saturadas e insaturadas não foram significativamente associadas ao risco de infarto do miocárdio ou mortalidade por doenças cardiovasculares.
Pode-se concluir, portanto, que a ingestão elevada de carboidratos foi associada com maior risco de mortalidade total, enquanto que a gordura total e os tipos de gordura foram relacionados a menor mortalidade total. A gordura total e os tipos de gordura não foram associados a doenças cardiovasculares, infarto do miocárdio ou mortalidade por doenças cardiovasculares, enquanto a gordura saturada apresentou associação inversa com AVC.
As diretrizes nutricionais globais devem levar em consideração esses resultados, embora este estudo apresente limitações, como por exemplo, as ingestões dietéticas foram medidas apenas na linha de base, e é possível que mudanças na dieta possam ter ocorrido durante o período de seguimento.
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Referências:
- Dehghan M, Mente A, Zhang X, Swaminathan S, Li W et al. Associations of fats and carbohydrate intake with cardiovascular disease and mortality in 18 countries from five continents (PURE): a prospective cohort study. Lancet. 2017 Aug 28. pii: S0140-6736(17)32252-3. doi: 10.1016/S0140-6736(17)32252-3. [Epub ahead of print]
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