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Cardiologia25 março 2024

Devo usar colchicina para prevenção cardiovascular? 

Nos últimos anos, cresceu o número de evidências que mostram que a inflamação tem importante papel no desenvolvimento e progressão da doença cardiovascular
Por Juliana Avelar
Análises post-hoc dos estudos FOURIER e SPIRE, mostraram que mesmo nos pacientes em uso regular de estatina e com LDL-c muito baixo (< 20 mg/dL), a inflamação, medida pela proteína C reativa ultrassensível (PCRus), ainda desempenhava papel no risco cardiovascular.   Nesse contexto, diversas medicações anti-inflamatórias estão sendo testadas. O canakinumab ganhou destaque pelo seu potencial de reduzir proteína C-reativa, interleucina-6 e a incidência de eventos cardiovasculares maiores (MACE), mas perdeu força porque não diminuiu mortalidade geral e ainda aumentou o número de infecções fatais.   Leia também: Fatores de risco e prevenção cardiovascular: Diabetes A colchicina surgiu, então, como um agente anti-inflamatório barato e com perfil de segurança aceitável. Os estudos LoDoCo e LoDoCo-2 mostraram que adicionar a colchicina ao tratamento usual em pacientes com doença coronariana estável reduz a recorrência de MACE e morte cardiovascular no follow-up de 28,6 meses. Em relação ao aumento das mortes por outras causas, os autores argumentam que os estudos não tinham poder suficiente para avaliar mortalidade, que o N era pequeno e que as incidências de causas específicas de morte, como câncer e infecções, foram comparáveis às do grupo placebo.  

Estudo 

Uma metanálise recente mostrou redução de 32% (HR 0,68 IC 0,54-0,81) no número de eventos cardiovasculares nos pacientes do grupo colchicina, às custas principalmente de redução de infarto agudo do miocárdio, AVC e revascularização de urgência.  Assim, o FDA aprovou, em junho de 2023, o uso de colchicina na dose de 0,5 mg/dia em pacientes com doença aterosclerótica estabelecida ou múltiplos fatores de risco para doença cardiovascular.  A Sociedade Europeia de Cardiologia em prevenção também citou que a colchicina pode ser considerada para prevenção secundária, principalmente se os fatores de risco não estiverem controlados ou se houver múltiplos eventos cardiovasculares em paciente já com terapia médica otimizada.   Apesar de tudo isso, a colchicina ainda é pouco utilizada e não se sabe como utilizá-la da melhor forma no dia a dia no cenário das doenças cardiovasculares. Fora dos EUA e Canadá, seu uso para esse fim ainda é off label  O artigo destaca, então, a ideia de que o tratamento anti-inflamatório pode promover benefício além do tratamento agressivo do colesterol nos pacientes de alto risco para eventos cardiovasculares recorrentes. Assim, coloca a colchicina como uma importante ferramenta para redução do risco nos pacientes que se mantém com alto risco apesar da terapia clínica otimizada.   Não se sabe se dosar a PCRus é necessário para a decisão de se prescrever a colchicina, já que nos estudos LoDoCo e LoDoCo-2, por exemplo, ela não foi dosada.   Existe grande preocupação em relação ao uso da colchicina a longo prazo, como no cenário de prevenção cardiovascular, já que não temos estudos sobre possíveis efeitos adversos com o uso crônico da droga.   Os trials que estudaram o uso da colchicina no cenário de síndrome coronariana aguda foram negativos até o momento.   Saiba mais: Fatores de risco e prevenção cardiovascular: Hipertensão

Conclusão 

  • É importante que os médicos entendam que a inflamação desempenha importante papel no risco cardiovascular para que considerem instituir um tratamento específico se o contexto for adequado (por exemplo, nos pacientes que recorrem eventos apesar de terapia otimizada); 
  • O uso da colchicina na prevenção secundária de eventos cardiovasculares só está aprovado nos EUA e Canadá e ainda não se conhece ainda o perfil de segurança da droga no contexto de uso crônico.
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Referências bibliográficas

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