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Cardiologia5 agosto 2025

Dapagliflozina é benéfica no infarto agudo do miocárdio?

Dapagliflozina pode melhorar função cardíaca e reduzir risco de IC após infarto agudo do miocárdio, mostra metanálise com 7128 pacientes.
Por Isabela Abud Manta

O infarto agudo do miocárdio (IAM) resulta da obstrução das coronárias de forma aguda, geralmente por ruptura de uma placa aterosclerótica e consequente trombose local. Isso gera necrose e apoptose dos miócitos e inicia uma cascata inflamatória e resposta fibrótica, que promovem remodelamento ventricular e disfunção cardíaca progressiva. 

Apesar dos avanços no tratamento, o IAM continua sendo a principal causa de morbimortalidade no mundo e os pacientes acometidos têm alto risco de recorrência de eventos e progressão para insuficiência cardíaca (IC). Entre os pacientes com IAM, os diabéticos têm risco muito maior de evoluir com desfechos adversos e maior mortalidade no longo prazo, em parte por apresentarem prejuízo na recuperação miocárdica e pior remodelamento.  

Os inibidores do co-transportador de sódio e glicose 2 (iGSLT2) são uma classe de antidiabéticos orais que inibem a reabsorção renal de glicose e mostraram efeito cardioprotetor significativo em pacientes com IC, independente da redução de glicose. Estudos com essa classe de medicações mostraram melhora de sintomas e redução de mortalidade mesmo em não diabéticos. 

Apesar do benefício bem estabelecido em pacientes com IC, seus efeitos cardioprotetores em pacientes com IAM ainda carecem de estudos. Assim, foi feita uma revisão sistemática e metanálise com objetivo de avaliar a eficácia da dapagliflozina no manejo do IAM, com enfoque na avaliação da função cardíaca, progressão para IC e desfechos cardiovasculares em pacientes diabéticos e não diabéticos.  

dapaglifozina

Métodos do estudo e população envolvida 

Foi feita busca por estudos randomizados e controlados e estudos de coorte retrospectivos que investigaram os efeitos da dapagliflozina no manejo do IAM. Pela variabilidade clínica e metodológica entre os estudos, sua qualidade e risco de viés foram analisados. 

Resultados 

Foram incluídos na análise final 19 estudos com 7128 pacientes, sendo que 3337 receberam dapagliflozina (grupo intervenção) e 3791 receberam tratamento convencional (grupo controle). Do total, 12 eram estudos controlados randomizados, tiveram risco de viés de seleção baixo e no geral tiveram boa qualidade metodológica. Os outros 7 estudos eram de coorte retrospectiva e foram considerados de boa qualidade metodológica. As populações eram homogêneas, assim como as intervenções, grupos controles e medidas de desfechos. 

Em relação a função cardíaca, 8 estudos avaliares níveis de NT-proBNP, com redução significativa deste marcador no grupo dapagliflozina. Na análise de subgrupos o efeito da redução se manteve para os diabéticos, não diabéticos e quando não havia distinção. 

Doze estudos avaliaram o efeito da dapagliflozina na fração de ejeção do ventrículo esquerdo (FEVE) e a metanálise mostrou melhora no grupo dapagliflozina comparado ao controle. Um único estudo avaliou não diabéticos, sem diferença entre os grupos na FEVE. Os estudos com diabéticos ou quando não eram especificados mantiveram a diferença da dapagliflozina em relação ao controle. Os resultados foram consistentes para os diferentes tipos de estudo. 

O grupo dapagliflozina também mostrou redução significativa no diâmetro diastólico final do ventrículo esquerdo (DDVE), avaliado em 10 estudos, e no diâmetro sistólico final do ventrículo esquerdo (DSVE), avaliado em 3 estudos. 

Em relação a desfechos clínicos, 4 estudos avaliaram morte cardiovascular, sem diferença estatística, porém os dados são insuficientes para conclusões definitivas. A dapagliflozina levou a redução de angina, avaliada em 5 estudos, redução no risco de IC, avaliado em 8 estudos, e redução em reinternações, avaliada em 3 estudos.  

Seis estudos avaliaram recorrência de IAM, porém não houve nenhum caso, e três estudos avaliaram ocorrência de acidente vascular cerebral, sem diferença entre os grupos. 

Comentários e conclusão 

Essa metanálise avaliou a eficácia da dapagliflozina em pacientes com IAM e mostrou benefício funcional, com redução de marcadores como NT-proBNP, FEVE, DDVE e DSVE. Houve também benefício em alguns desfechos, como redução na ocorrência de angina, IC e reinternações por IC. Assim, pode ser que a medicação melhore o prognóstico dos pacientes, o que possibilita novos alvos terapêuticos. 

Alguns pontos merecem atenção: houve heterogeneidade das medicações utilizadas nos diferentes estudos, como diferenças no uso de betabloqueadores e IECA, o que pode influenciar nos resultados; a maioria dos estudos era com a população chinesa, o que pode limitar a generalização dos resultados; alguns dos estudos tinham amostras muito pequenas.  

Apesar disso, esse estudo traz a possibilidade de utilização da dapagliflozina como terapia adjunta em pacientes com IAM, principalmente nos que tem alto risco para IC. Estudos futuros maiores, multicêntricos e randomizados com maior rigor metodológico e maior tempo de seguimento podem nos dar mais informações sobre essa classe de medicações na população com IAM. 

Saiba mais: Como classificar os diferentes tipos de infarto do miocárdio

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Referências bibliográficas

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