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Cardiologia16 fevereiro 2023

Baxdrostat na hipertensão resistente: o que mostram as evidências

Estudo multicêntrico e duplo-cego avaliou doses de Baxdrostat na hipertensão resistente. Veja os principais resultados.
Por Isabela Abud Manta

A hipertensão arterial sistêmica é altamente prevalente e, aproximadamente 10% dos pacientes tem hipertensão resistente, ou seja, pressão arterial (PA) elevada mesmo após o uso de três drogas anti-hipertensivas, sendo pelo menos uma da classe dos diuréticos. Esses pacientes têm maior risco de eventos cardiovasculares e renais.

Nessas situações, uma quarta medicação geralmente é prescrita, com objetivo de manter a PA sistólica menor que 130 mmHg e a diastólica menor que 80mmHg. As diretrizes indicam o uso da espironolactona, antagonista do receptor mineralocorticoide. Apesar disso, quase metade dos pacientes se mantem com tratamento inadequado.

Os inibidores da aldosterona sintase surgem como uma nova alternativa, pois inibem a síntese do hormônio, ao invés de bloquear o seu receptor. Esta é uma das ações da medicação em estudo, o baxdrostat, que tem alta seletividade para esta enzima.

Este artigo analisa os achados do estudo de fase 2 para avaliar a eficácia e segurança desta medicação em pacientes com hipertensão resistente.

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Analisando desfechos compostos no TOGETHER TRIAL, estudo da Fluvoxamina para Covid-19. 

Métodos do estudo clínico com Baxdrostat

Foi estudo multicêntrico, duplo cego, randomizado e placebo controlado, com o objetivo de avaliar diferentes doses de baxdrostat. Foram incluídos homens e mulheres com mais de 18 anos que estavam em uso de pelo menos três medicações anti-hipertensivas e com PA de pelo menos 130×80 mmHg.

Os critérios de exclusão comtemplaram PA maior que 180x110mmHg, taxa de filtração glomerular menor que 45 ml/min/1,73m2 e diabetes descontrolado. Pacientes que utilizavam antagonistas mineralocorticoides ou diuréticos poupadores de potássio tiveram que suspender o uso por pelo menos quatro semanas.

Após um período de “run in” de duas semanas, destinado a avaliação de aderência medicamentosa, foram incluídos os participantes com menos 70% de aderência. Esses indivíduos foram randomizados para receber baxdrostat nas doses de 0,5 mg, 1 mg, 2 mg ou placebo.

O desfecho primário foi a redução da PA média ao término de 12 semanas de tratamento. Os desfechos de segurança incluíram eventos adversos de interesse (hipercalemia, hiponatremia e hipotensão com necessidade de intervenção), além de sinais vitais, resultados de exames laboratoriais, eletrocardiograma e exame físico.

Resultados do estudo sobre baxdrostat

De julho de 2020 a junho de 2022 foram avaliados 275 pacientes, sendo 69 no grupo que recebeu 0,5mg, 70 no grupo 1mg, 67 no grupo 2mg e 69 no grupo placebo. Os grupos tinham características clínicas e demográficas semelhantes entre si.

Em relação a medicações, todos os participantes utilizavam diuréticos, 91 a 96% recebiam IECA ou BRA e 64 a 70% recebiam bloqueador de canal de cálcio. Do total, 90% completaram o tratamento proposto de 12 semanas e dos que descontinuaram o tratamento, nenhum o fez por ocorrência de eventos adversos.

O estudo foi interrompido precocemente devido ao benefício da medicação. Houve redução da PA de forma dose dependente:

  • −20,3±2,1 mmHg com uso de 2mg
  • −17,5±2,0 mmHg com uso de 1mg e −12
  • 1±1,9 mmHg com uso de 0,5mg

Com diferenças significativas em relação ao placebo apenas para os grupos que usaram 2 mg e 1 mg. Também houve redução dose dependente dos níveis de aldosterona sérica e urinária, sem alteração dos níveis de cortisol.

Segurança e eventos adversos

Quanto aos desfechos de segurança, não houve óbitos no período de seguimento. Os eventos adversos ocorreram com maior frequência nos grupos que usaram 1 mg (52%) e 2 mg (48%) em relação aos que usaram 0,5mg (35%) ou placebo (41%).

Os eventos mais comuns foram infecção do trato urinário, hipercalemia, cefaleia e fadiga, sendo a maioria leve e não relacionada a medicação ou ao placebo.

Entre os eventos de interesse clínico, ocorreram 10 deles em 8 pacientes:

  • 1 caso de hipotensão
  • 3 casos de hiponatremia
  • 6 casos de hipercalemia

Nos casos de hipercalemia não houve necessidade de suspensão definitiva da medicação.

Comentários e conclusão

Esse estudo demonstrou que o baxdrostat reduziu a PA de forma significativa em pacientes com hipertensão resistente que já estavam em uso de três medicações em doses estáveis. Além da redução da PA, houve redução dos níveis de aldosterona sem interferência nos níveis de cortisol e o perfil de eventos adversos foi aceitável.

Há evidencias que a hipertensão resistente tenha associação com a produção autônoma de aldosterona e a espironolactona. Embora a espironolactona seja atualmente a principal opção disponível para esses casos, existem limitações como ocorrência de ginecomastia em homens, irregularidades menstruais e sangramento pós menopausa, em decorrência do bloqueio de múltiplos receptores hormonais pela medicação.

Mensagem prática e implicações clínicas

O baxdrostat evita esses efeitos agindo de forma mais seletiva pela inibição da produção da aldosterona, sem interferência em outros hormônios. Além disso, poucos pacientes tiveram hipercalemia e nenhum teve que suspender a medicação de forma definitiva.

Esses achados devem ser confirmados em estudos de fase 3 e esta medicação parece ser promissora para o tratamento da hipertensão resistente.

Este conteúdo foi atualizado em: 31/10/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.

Autoria

Foto de Isabela Abud Manta

Isabela Abud Manta

Editora médica de Cardiologia da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Atua nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.

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