A pandemia pela Covid-19 está longe do seu fim, ainda que o número de mortos e de infectados em geral tenha caído em grande parte do mundo, principalmente após a vacinação, novas variantes ainda são ameaças de novos surtos e os pacientes pós-Covid-19 que sobreviveram de quadros graves ou moderados ainda colhem os frutos dos efeitos colaterais das drogas, do tempo prolongado de internação e do próprio dano causado pela infecção.
Diante disto, pacientes que permanecem com dispneia aos esforços sem uma explicação evidente, podem apresentar diversos mecanismos fisiopatológicos para tal. Alterações cardíacas como lesão e prejuízo da função miocárdica, pulmonares, como dano aoveolar, queda dos parâmetros espirométricos e prejuízo da função muscular respiratória podem contribuir para a manutenção deste sintoma.
Um estudo publicado no JACC resolveu testar pacientes com dispneia inexplicada pós-Covid-19 no teste cardioexpirométrico. Foram 41 pacientes com falta de ar mais de 3 meses após o diagnóstico da infecção pelo SARS-CoV-2. Todos os pacientes apresentavam resultados normais nas provas de função pulmonar, radiografia de tórax e tomografia de tórax.
Foram um total de 18 homens e 23 mulheres, sendo que a média de idade dos participantes era de 45 anos, o tempo médio de sintomas era de 9 meses. De todos os pacientes, oito foram hospitalizados durante a infecção viral.
Um fato interessante sobre o estudo foi que 7 pacientes foram monitorados invasivamente por um cateter de Swan-Ganz durante o teste.
Resultado
Em relação ao VO2 pico, 58,5% dos pacientes apresentaram essa variável < 80% do previsto, todos estes pacientes tiveram uma limitação circulatória ao exercício. Dos pacientes com VO2 pico normal (17) 15 tiveram anormalidades respiratórias incluindo frequência respiratória de pico de 55 irpm ou respiração disfuncional. Um total de 36 pacientes tiveram problemas ventilatórios nos exames, incluindo respiração disfuncional, VE/VCO2 slope aumentado e hipocapnia com PetCO2 < 35. Nos pacientes que tiveram as variáveis hemodinâmicas medidas pelo cateter de artéria pulmonar cinco dos sete pacientes apresentaram falha da pré-carga e taxas de extração de oxigênio limítrofes. Esses cinco também apresentavam sintomas consistentes com a síndrome da fadiga crônica. No geral, 32 pacientes preencheram os critérios para a síndrome da fadiga crônica. A fração de ejeção média dos pacientes era de 59%.
Conclusões
Apesar de se tratar de um estudo pequeno ele pode mostrar que os pacientes sintomáticos pós-Covid-19 mostraram tanto problemas circulatórios como respiratórios, e uma alta taxa de fadiga crônica, os mecanismos por trás destes sintomas ainda não são totalmente claros, entretanto o teste cardiopulmonar se mostrou uma ferramenta valiosa na avaliação destes pacientes.
Referências bibliográficas:
- Mancini DM, Brunjes DL, Lala A, Trivieri MG, Contreras JP, Natelson BH. Use of Cardiopulmonary Stress Testing for Patients With Unexplained Dyspnea Post–Coronavirus Disease. JACC Heart Fail. 2021;9:927-937. doi: 10.1016/j.jchf.2021.10.002
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