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A Society for Vascular Surgery publicou recentemente novas diretrizes para acompanhamento e tratamento dos aneurismas da aorta abdominal (AAA) e nós preparamos um resumo voltado para a prática clínica. Nesta diretriz, AAA foi definido como qualquer dilatação da aorta abdominal > 3 cm. Acredita-se que sua prevalência seja de 1,4% nas pessoas com idade entre 50 e 84 anos.
1. Identifique a população de maior risco
Os principais fatores de risco para AAA são:
- Idade
- É o mais importante
- Sexo masculino
- Mas nas mulheres a chance de romper é maior
- Tabagismo
- 90% dos pacientes com AAA fumaram em algum momento da vida
- A relação é dose dependente e começa mesmo com poucos cigarros por dia
- Hipertensão
- História familiar em parentes de primeiro grau
2. Como diagnosticar?
O exame físico é o primeiro passo, mas a sensibilidade é ruim. Por outro lado, não deve haver receio em palpar uma massa pulsátil, pois o risco de causar ruptura é irrelevante.
O ultrassom foi definido pela diretriz como método de escolha para rastreamento e acompanhamento, por fornecer boas imagens, ser de baixo custo e não invasivo.
A angioTC é hoje o padrão ouro, suplantando mesmo a arteriografia, e deve ser realizada para definir anatomia e planejar o tratamento. A definição do tamanho do aneurisma foi recomendada como o maior diâmetro medido de uma parede externa à outra do vaso (e não na parede interna/lúmen).
3. Quando indicar tratamento?
O tratamento clínico é destinado à correção dos fatores de risco para aterosclerose, sendo o mais importante a interrupção do tabagismo. Não há evidências que AAS, estatinas ou betabloqueadores tenham ação direta reduzindo risco de expansão ou ruptura do aneurisma.
Indicações para tratamento:
- Diâmetro ≥ 5,5 cm*
- Sintomático
- Aneurisma sacular (mais raro)
*Alguns autores sugerem que pacientes jovens e com bom estado geral, em especial mulheres (cujo risco de ruptura é maior), podem se beneficiar da cirurgia com diâmetros entre 5,0-5,4 cm.
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As tabelas abaixo permitem a você estimar o risco de morte no reparo dos aneurismas da aorta abdominal.
Cirurgia aberta (OSR) ou endovascular (EVAR)?
Caso a anatomia seja favorável, a tendência moderna é preferir o EVAR, pois tem mostrado bons resultados a longo prazo com menor risco per-procedimento. A cirurgia aberta é considerada uma cirurgia de grande porte e alto risco para complicações cardiovasculares, ao passo que a endovascular (EVAR) é considerada de médio risco para tais complicações. A cirurgia aberta pode ser via anterior, transperitoneal, ou via lateral, retroperitoneal. A primeira permite melhor visualização, mas há maior perda de líquidos/sangue e íleo paralítico no pós-operatório.
4. O Risco Cirúrgico
No geral, as recomendações seguem aquelas discutidas por nós em reportagem sobre como estratificar o risco cardiovascular.
Há observações com destaque:
– A diretriz recomenda manutenção do AAS em pacientes de alto risco, como os coronariopatas.
– Caso seja necessário tratamento do AAA após colocação de stent farmacológico, o ideal é a técnica endovascular, que pode ser feita mesmo em uso de dupla antiagregação plaquetária.
– Esteja atento aos sintomas respiratórios, pois a maioria dos pacientes é tabagista. O ideal é suspender o cigarro duas semanas antes da cirurgia e, se sintomático, fazer tratamento broncodilatador.
– Hidratação, suspensão de iECA/BRA, acetilcisteína e bicarbonato são opções para reduzir e/ou tratar lesão renal aguda.
– Plaquetopenia é comum pela formação de trombo no AAA. Quando < 150 mil/mm³, requer avaliação do hematologista antes da cirurgia.
5. Complicações do tratamento
- Cardiovasculares (15%), com destaque para IAM
- Pulmonares (12%), com destaque para pneumonia
- Insuficiência renal aguda (12%)
- Hemorragia e necessidade de transfusão
- Infecção, tanto da ferida operatória como da prótese
- Colite isquêmica
- “Síndrome pós-implantação”, que causa uma resposta inflamatória sistêmica
- Trombose aguda de membros inferiores, mais comum quando há extensão da prótese para uma das ilíacas
- Hematoma e pseudoaneurisma no sítio de acesso femoral
- Endoleak, que é o “vazamento” de contraste/sangue por fora da prótese inserida. Dependendo do local e intensidade, pode necessitar de reabordagem.
6. Rastreamento
As orientações da diretriz são um pouco mais amplas que as oficiais da USPSTF e incluem:
- Idade 65-75 anos em fumantes ou ex-tabagistas, ambos os sexos.
- Parentes de primeiro grau entre 65 e 75 anos de idade.
- Semestral se AAA 5,0-5,4 cm.
- Anual quando houver AAA 3-5 cm.
- A cada 10 anos com aorta abdominal entre 2,5-3,0 cm.
A diretriz abre ainda brecha para rastrear pessoas com mais de 75 anos se a saúde for considerada boa, isto é, se o paciente tiver condições de tratar o aneurisma se descoberto.
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Referências:
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