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Cardiologia9 fevereiro 2022

Anatomia do coração: tudo o que você precisa saber

Resumo completo da anatomia do coração humano. Entenda suas cavidades, valvas e o fluxo sanguíneo entre pulmões e corpo.
Por Fernando Menezes

O coração é um órgão de anatomia e fisiologia fascinantes, responsável por garantir o transporte de oxigênio e nutrientes a todas as células do organismo. Funciona como uma bomba dupla de sucção e pressão, gerando um fluxo de mais de 9 mil litros de sangue por dia, com cerca de 104 mil batimentos diários, o que corresponde a aproximadamente 2,5 bilhões de contrações ao longo da vida. Essa dinâmica assegura o funcionamento contínuo dos circuitos pulmonar e sistêmico, que compõem a chamada dupla alça circulatória.

O circuito sistêmico, de alta pressão, é composto pelas câmaras esquerdas, enquanto o circuito pulmonar, de baixa pressão, é composto pelas câmaras direitas. A insuficiência de qualquer lado do coração leva ao aumento das pressões de enchimento e repercussões distintas:

  • Quando o comprometimento é das câmaras esquerdas, o sangue proveniente dos pulmões não consegue chegar eficientemente ao coração, que se encontra com dificuldade de bombear o sangue que já se encontra dentro dele.  Essa lentidão no fluxo causa extravasamento de líquido para dentro dos alvéolos reduzindo a troca gasosa e causando hipoxemia, além de baixo débito de sangue para órgãos como fígado e rins.
  • Já na insuficiência das câmaras direitas, ocorre extravasamento de líquido que deveria ser drenado pelas veias da circulação sistêmica, com edema em membros inferiores, turgência jugular, hepatomegalia, entre outras alterações.

Estrutura anatômica do coração

O coração apresenta quatro câmaras: dois átrios (direito e esquerdo) e dois ventrículos (direito e esquerdo).

Os lados direito e esquerdo do coração são separados por duas estruturas musculares principais: o septo interatrial, que divide os átrios, e o septo interventricular, que separa os ventrículos. Além deles, há o septo atrioventricular, que isola os átrios dos ventrículos.

Em casos de anomalias de septo interatrial, pode ocorrer sobrecarga volumétrica no átrio direito e em casos de alteração de septo interventricular, pode ocorrer hiperfluxo pulmonar.

Fluxo sanguíneo através do coração

O fluxo sanguíneo cardíaco ocorre de acordo com o ciclo cardíaco, que envolve a contração (sístole) e relaxamento (diástole) do miocárdio atrial e ventricular (tecido muscular cardíaco). Durante a sístole, o sangue é impulsionado para as câmaras seguintes e, na diástole, as câmaras se enchem novamente.

Etapas do fluxo sanguíneo

  • O átrio direito recebe sangue desoxigenado das veias cavas superior e inferior e do seio coronário.
  • A contração arterial empurra o sangue através da valva atrioventricular direita (tricúspide) até o ventrículo direito que, ao contrair-se, transportando o sangue para a artéria pulmonar através da valva pulmonar, direcionando-o aos pulmões.
  • Nos pulmões o sangue é oxigenado e em seguida se move de volta ao coração, entrando no átrio esquerdo através das veias pulmonares.
  • O átrio esquerdo se contrai, empurrando o sangue pela valva mitral para o ventrículo esquerdo, que o impulsiona através da valva aórtica para a aorta, de onde é distribuído ao restante do corpo.

Importância clínica do fluxo

Normalmente os átrios se contraem quase que simultaneamente, seguido dos ventrículos. Quando há sobrecarga atrial ou alterações elétricas, essa coordenação pode se perder, com múltiplas contrações de forma simultânea, levando à fibrilação atrial (FA), doença de elevada morbidade e causa de acidente vascular encefálico (AVE).

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A pressão gerada nas artérias em decorrência da contração do ventrículo esquerdo é denominada pressão arterial sistólica (PAS). Durante a diástole, ocorre a redução da pressão até o enchimento completo dos ventrículos, sendo este ponto chamado de pressão arterial diastólica (PAD).

Quando essas pressões estão cronicamente elevadas, o paciente tem o diagnóstico de hipertensão arterial sistêmica (HAS), condição multifatorial relacionadas por fatores genéticos, epigenéticos, ambientais e sociais. Sua importância clínica se deve ao fato de ser o substrato comum de diversas doenças, como infarto agudo do miocárdio (IAM), AVE, insuficiência cardíaca (IC), fibrilação atrial, entre outras.

Segundo o DATASUS (2017) entre 358 mil óbitos por causas cardiovasculares (IAM e IC), 45% tinham diagnóstico de hipertensão, e entre as mortes por doença cerebrovascular, 51% eram hipertensos.

Valvas cardíacas 

As valvas cardíacas separam os átrios dos ventrículos e os ventrículos dos grandes vasos. As valvas são estruturas formadas por dois ou três folhetos (cúspides), fixados nos orifícios atrioventriculares e nas raízes dos grandes vasos.

As cúspides se abrem para permitir a passagem do sangue e se fecham para impedir o refluxo. O prolapso posterior das cúspides é evitado pelas cordas tendíneas, cordões fibrosos que conectam os músculos papilares das paredes ventriculares às valvas atrioventriculares.

Tipos de valvas

As valvas cardíacas são divididas em dois grupos principais: atrioventriculares e semilunares.

Valvas atrioventriculares (AV): Impedem o fluxo reverso do sangue dos ventrículos para os átrios.

  • A valva atrioventricular direita, ou valva tricúspide, localizada entre o átrio direito e o ventrículo direito, possui três cúspides: anterior, septal e posterior.
  • A valva atrioventricular esquerda, ou valva mitral, entre o átrio esquerdo e o ventrículo esquerdo, apresenta duas cúspides: anterior e posterior.

Valvas semilunares: Evitam o refluxo de sangue dos grandes vasos para os ventrículos.

  • A valva pulmonar situa-se entre o ventrículo direito e o tronco pulmonar, composta por três cúspides: anterior, esquerda e direita.
  • A valva aórtica, localizada entre o ventrículo esquerdo e a aorta ascendente, também apresenta três cúspides semilunares: direita, esquerda e posterior.

Alterações valvares e impacto clínico

Valvas cardíacas saudáveis abrem e fecham completamente durante o batimento cardíaco, mas valvas doentes perdem esse mecanismo. Quando há insuficiência, não se fecham completamente, provocando regurgitação e sobrecarga de volumétrica na câmara cardíaca anterior, sendo a valva mitral a mais acometida.

Por outro lado, quando as valvas não se abrem adequadamente, ocorre estenose e não permitem uma passagem do sangue adequada, levando a sobrecarga pressórica na câmara cardíaca relacionada. Qualquer valva pode ser acometida, porém a mais afetada é a aórtica, com prevalência de 3% das pessoas acima de 75 anos de idade.

O sistema de condução elétrica do coração normal

A contratilidade cardíaca é controlada por um sistema que gera e conduz estímulo elétrico até ao miocárdio (músculo cardíaco), fazendo com que este contraia. Embora todas as células musculares cardíacas sejam capazes de conduzir estímulos, as células do sistema de condução realizam essa função de forma mais rápida e eficiente.

Estruturas do sistema de condução

O sistema de condução elétrica do coração é formado por estruturas especializadas que garantem o ritmo e a sequência adequados da contração atrial e ventricular:

O nodo sinusal (1) origina um impulso elétrico de contração transmitido pelos átrios direito e esquerdo (2) fazendo com que se contraiam. Quando o impulso elétrico alcança o nodo atrioventricular (3) sofre um pequeno retardo e após percorre o feixe de His (4), onde se divide em ramos direito, para o ventrículo direito (5), e esquerdo, para o ventrículo esquerdo. O impulso propaga-se então pelos ventrículos causando a contração.

Bloqueios e implicações clínicas

Quando há atraso ou bloqueio na condução da corrente elétrica durante sua passagem pelo sistema de condução, ocorrem os bloqueios cardíacos.

Alguns bloqueios cardíacos são assintomáticos, enquanto outros causam fadiga, tontura, dispneia e síncope. Nos casos mais graves, como o bloqueio atrioventricular completo, o paciente pode precisar de implante de marcapasso para conseguir uma frequência cardíaca adequada, com manutenção de hemodinâmica adequada.

Circulação coronariana 

Os primeiros ramos que surgem da aorta ascendente, assim que ela emerge do ventrículo esquerdo, são as artérias coronárias direita e esquerda, responsáveis por fornecer sangue arterial ao músculo cardíaco. Essas artérias têm origem nos seios aórticos, localizados na região imediatamente proximal à valva/válvula aórtica.

Ramos principais

A artéria coronária esquerda se situa entre o átrio esquerdo e o tronco da artéria pulmonar e fornece sangue ao átrio esquerdo, uma grande parte do ventrículo esquerdo, uma pequena parte do ventrículo direito, o septo interventricular e o nó sinoatrial em aproximadamente 40% da população.

Seus dois principais ramos são:

  • Ramo circunflexo: que fornece sangue para a região posterior do coração em seu percurso pelo lado esquerdo, no interior do sulco atrioventricular.
  • Ramo interventricular (ou descendente anterior): que segue inferiormente no sulco interventricular, em direção ao ápice cardíaco.

A artéria coronária direita percorre o sulco atrioventricular para o lado direito e continua para a superfície posterior do coração. Ela supre o átrio direito, a maior parte do ventrículo direito, a porção do ventrículo esquerdo que se encontra em contato com o diafragma, áreas dos septos interatrial e interventricular, o nó sinoatrial em cerca de 60% da população e o nó atrioventricular.

A drenagem venosa do coração é realizada primariamente pelo seio coronário, com auxílio secundário das veias cardíacas anteriores, que entram diretamente no átrio direito, e das veias cardíacas menores, que se abrem diretamente no interior das câmaras cardíacas.

Doença arterial coronariana

As artérias coronárias podem sofrer obstrução por placas de ateroma depositadas em seu interior, esse processo é denominado aterosclerose. Denomina-se isquemia miocárdica a má perfusão do músculo cardíaco decorrente de obstrução da circulação coronária, que pode ocorrer de forma crônica ou aguda.

Quando ocorre de forma aguda, é decorrente de ruptura da placa com exposição da camada íntima e formação de coágulo, que caracteriza o infarto agudo do miocárdio, condição que pode ser extremamente grave e corresponde a principal causa de parada cardíaca extra-hospitalar, além de ser a principal causa de morte cardiovascular no mundo.

Grandes vasos do coração 

Os grandes vasos do coração são a aorta, a artéria pulmonar, a veia pulmonar e as veias cavas superior e inferior.
São chamados de grandes vasos em decorrência de seu calibre, sendo o diâmetro da aorta ascendente de 2,1 centímetros.

A aorta é responsável por transportar o sangue para o corpo todo e seus principais ramos são:

  • O tronco braquiocefálico
  • A artéria carótida comum esquerda e,
  • A artéria subclávia esquerda.

A veia cava superior recebe sangue da metade superior do corpo através das veias braquiocefálicas direita e esquerda, e a veia cava inferior recebe o sangue da metade inferior do corpo, através das veias ilíacas comuns.

Dissecção de aorta

Uma complicação grave e potencialmente fatal é a dissecção de aorta. Essa condição ocorre quando há ruptura da camada íntima e entrada de sangue na parede da aorta, entre a íntima e a média, com formação de um falso lúmen.

Esse quadro é extremamente grave, com mortalidade que chega a 1 a 2% por hora nas primeiras 24 horas. Cerca de metade dos pacientes não sobrevive tempo suficiente para chegar ao hospital.

O diagnóstico rápido é fundamental, geralmente realizado por tomografia computadorizada de tórax com contraste, permitindo o início precoce do tratamento, que pode envolver controle rigoroso da pressão arterial e, em muitos casos, cirurgia de emergência.

*Este conteúdo foi atualizado em: 17/10/2025 pela equipe editorial do Portal Afya.

Autoria

Foto de Fernando Menezes

Fernando Menezes

Doutorando no Incor HCFMUSP ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade de Santo Amaro UNISA ⦁ Coordenador da emergência cardiológica do Hospital São Luiz Itaim ⦁ Coordenador da linha de cuidado cardiológica do Hospital São Luiz Itaim ⦁ Coordenador da linha de cuidados cardiológicos da empresa de nefrologia e diálise Fênix ⦁ Professor de cardiologia da Faculdade de Medicina do ABC ⦁ Sócio-diretor da MIP

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Referências bibliográficas

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