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Cardiologia9 novembro 2025

AHA 2025: Metformina e dapagliflozina tem benefício na ablação para FA?

Confira o que foi abordado a respeito do uso da metformina na FA e da dapagliflozina na FA durante o congresso.

No segundo dia do congresso da American Heart Association tivemos mais trabalhos relacionados ao tratamento da fibrilação atrial (FA). Um deles avaliou o uso de metformina como tratamento adjunto à ablação por cateter e o outro avaliou a dapagliflozina no mesmo contexto.  

Abaixo seguem os principais pontos sobre o META-AF, que avaliou a utilização da metformina e, após, o DAPA-AF, que avaliou a utilização da dapagliflozina. 

A obesidade é um fator de risco bastante frequente em pacientes com FA e tem tanto relação com o aumento do risco, quanto sua progressão e falha da ablação por cateter. Algumas coortes observacionais e modelos experimentais mostraram que a metformina pode ter papel na redução de FA e em estudos randomizados de pacientes sem diabetes foi associada a perda de peso e redução da massa do ventrículo esquerdo. 

Esse foi o embasamento para a realização do META-AF, que teve como hipótese que o tratamento com metformina em pacientes não diabéticos e com índice de massa corpórea (IMC) ≥ 25 kg/m2 reduziria a recorrência de arritmias atriais após ablação por cateter. 

Foi estudo randomizado, aberto e com grupos paralelos que incluiu pacientes com IMC ≥ 25 kg/m2 e FA paroxística ou persistente submetidos a ablação. A metformina era iniciada 0-6 semanas antes do procedimento e otimizada até a dose máxima tolerada, com máximo de 1000mg 2x ao dia. Além disso, todos os pacientes recebiam orientações sobre mudanças de estilo de vida. 

A ablação era realizada por isolamento das veias pulmonares na região antral e os pacientes eram monitorizados em relação a sintomas e eletrocardiograma (ECG). O desfecho primário era recorrência de arritmias atriais > 30 segundos em 12 meses de seguimento. 

Foram incluídos na análise final 49 pacientes no grupo metformina + ablação e 50 pacientes no grupo ablação. No grupo metformina + ablação os pacientes tinham idade média de 62 anos, a maioria era do sexo masculino (76%), o IMC foi de 32,1, hemoglobina glicada de 5,6%. Já no grupo ablação a idade média era de 63,2 anos, 64% eram do sexo masculino, o IMC foi de 32,8 e a hemoglobina glicada de 5,7. Todos sem diferença estatística. 

Do total de pacientes, quase metade tinha FA paroxística e os fatores de risco foram bastante semelhantes, exceto por doença coronária, que ocorreu em 31% no primeiro grupo e 16% no segundo. As características da ablação também foram bastante parecidas entre os grupos, assim como a monitorização dos pacientes no seguimento. 

O desfecho primário mostrou menor recorrência de arritmia no grupo que usou metformina, com HR 0,50 (IC95% 0,2-0,9) e p=0,04. Na análise de desfechos secundários, a carga de FA também foi estatisticamente menor no grupo que utilizou metformina (8% x 16%). A perda de peso foi semelhante nos dois grupos, assim como a melhora da qualidade de vida.  

Apesar de ser um estudo pequeno, unicêntrico e aberto, os resultados sugerem que a metformina pode auxiliar na redução de recorrência de arritmias atriais após ablação de FA em pacientes com sobrepeso e/ou obesidade.  

A medicação foi bem tolerada pela maioria dos pacientes e não houve grandes mudanças em relação ao peso e controle glicêmico nos dois grupos. Mais estudos são necessários para confirmar esses resultados, porém a medicação pode ser uma opção para auxiliar o tratamento desses pacientes.  

Já o DAPA-HF se embasou no fato de inibidores de iSGLT2 mostrarem diversos benefícios cardiovasculares e nas análises post-hoc dos estudos houve sugestão de que seu uso poderia reduzir o risco de FA em pacientes diabéticos. Porém, até o momento não havia estudos avaliando especificamente pacientes neste contexto. 

Foi estudo que incluiu pacientes de 18-80 anos, com diagnóstico de FA persistente com programação de ablação por cateter. Os pacientes eram randomizados 24 horas após a ablação para receber dapagliflozina 10mg 1x ao dia por três meses ou tratamento habitual. O desfecho primário era carga de FA em três meses e os desfechos secundários eram recorrência de FA três meses pós ablação, alterações ecocardiográficas relacionadas ao átrio esquerdo e qualidade de vida em três meses.  

Foram randomizados 100 pacientes para cada grupo, que tinha características semelhantes entre si, com idade média 58-59 anos, maioria do sexo masculino e prevalência semelhante de comorbidades. O procedimento de ablação também foi semelhante e a aderência ao uso da dapagliflozina foi boa.  

Em relação aos desfechos, não houve diferença entre os grupos dapagliflozina e tratamento habitual, nem em relação a carga de FA, nem em relação a recorrência da FA, alterações no ecocardiograma ou qualidade de vida.  

Algumas limitações foram que o estudo foi pequeno, com tempo de seguimento bastante curto, de 3 meses. Além disso, o estudo foi aberto, com chance de viés, e os pacientes foram avaliados com eletrocardiograma e não método com maior probabilidade de detecção de arritmias. Porém, não parece haver benefício da dapagliflozina nesse contexto.  

 

Autoria

Foto de Isabela Abud Manta

Isabela Abud Manta

Editora médica de Cardiologia da Afya ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Atua nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.

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