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Cardiologia7 abril 2024

ACC 2024: Bomba de fluxo microaxial transvalvar percutânea em choque cardiogênico

O estudo DANGER foi um dos mais aguardados deste segundo dia de congresso ACC 2024.

Um em cada dez pacientes pós Infarto agudo do miocárdio (IAM) com supra ST desenvolvem choque cardiogênico e apresentam 50% de mortalidade. 

A bomba de fluxo microaxial (BMA) Impella CP é uma bomba extra-corpórea que fica conectada a um cateter arterial localizado no ventrículo esquerdo (VE), passado via percutânea, que bombeia o sangue arterial do VE para a aorta, fazendo o papel da contratilidade miocárdica com débito de 4,3 L/minuto. 

ACC 2024: Confira os destaques do congresso do American College of Cardiology

Métodos do estudo

O DanGer-Shock foi um estudo multicêntrico (Dinamarca, Londres e Alemanha) randomizado, controlado e aberto, cuja hipótese seria a de que o uso rotineiro da BMA Impella CP associado aos cuidados padrão preconizados nas diretrizes em pacientes pós IAM com supra ST e choque cardiodiogênico resultaria em menor mortalidade em comparação com o tratamento padrão de forma isolada. 

O desfecho primário foi morte por todas as causas em 180 dias e, os desfechos secundários foram: 

– Composto de: Escalonamento terapêutico para assistência mecânica de curta ou longa duração, transplante cardíaco OU morte por todas as causas em 180 dias; 

– Dias de vida extra-hospitalar em 180 dias 

O tamanho amostral foi calculado, assumindo uma mortalidade de 60% para o tratamento padrão e de 42% para o grupo BMA, com erro alfa de 0,05 e beta de 0,8, chegando ao número de 360 pacientes. 

Critérios de inclusão: IAM com supra ST, hipotensão ou hipoperfusão, fração de ejeção do VE (FEVE) < 45%, randomização assim que o choque fosse diagnosticado. 

Critérios de exclusão: coma/parada cardíaca, disfunção do ventrículo direito, complicação mecânica do IAM. 

Dos 1211 candidatos elegíveis foram randomizados 360 pacientes, 1:1, para BMA e tratamento padrão por intenção de tratar, resultando em 179 e 176 pacientes em cada grupo, respectivamente. 

Os pacientes tinham média de idade de 69 anos, 79% homens, média de 4 horas entre o IAM e a randomização, média de FEVE 25%, média de PAS 82 mmHg, média de lactato 4,5 mmol/L; em 72% a lesão culpada era artéria descendente anterior ou tronco da coronária esquerda e 72% tinham doença multiarterial. No grupo tratamento padrão, houve 19% de ECMO-VA, 5% de Impella 5.0 e 2% de Impella CP; já no grupo BMA, havia 95% de Impella CP, 12% de ECMO-VA e 4% de Impella 5.0. A taxa de revascularização foi semelhante em ambos os grupos. 

Resultados

Desfecho primário

A taxa de mortalidade em seis meses foi de 45,8% (BMA) vs 58,5% (padrão), HR 0,74 IC 95% [0,55-0,99], p 0,04), com redução absoluta de risco de 13% e NNT 8. 

Desfecho secundário

– Escalonamento para assistência mecânica de curta ou longa duração, transplante cardíaco OU morte por todas as causas em 180 dias: 52,5% (BMA) vs 63,6% (padrão), HR 0,72 (IC 95% 0,55-0,95), sem significância estatística. 

– Dias de vida extra-hospitalar em 180 dias: 82 (BMA) vs 73 (padrão); 

média de dias de internação: 23% (BMA) vs 11% (padrão) diferença média de 8 dias (-8 a 25). 

Em análise pré-especificada de subgrupos, houve diferença estatística em benefício do grupo intervenção apenas em pacientes com pressão arterial média (PAM) ≤ 63 mmHg (0,61 IC [0,41-0,92]), naqueles com ≥ 1 artérias doentes (0,68 IC [0,49-0,94]) e homens. 

O percentual de eventos adversos foi maior no grupo intervenção: sangramento moderado ou grave (21,8 x 11,9%), isquemia de membro inferior (5,6 x 1,1%), diálise (41,9 x 26,7%), AVC (3,9 x 2,3%) e sepse (11,7 x 4,5%), seno o NNH de 6. 

Conclusão e mensagem prática

Dessa forma, podemos concluir que a terapia rotineira com BMA de pacientes com choque cardiogênico pós IAM com supra ST reduziu morte por todas as causas, porém, foi associada a maior risco de eventos adversos não fatais. Mas, como explicar a taxa maior de disfunção renal (potencialmente fatal) no grupo intervenção cuja mortalidade foi menor? É provável que esse resultado seja justificado pela mortalidade mais precoce dos pacientes do grupo tratamento padrão e pela nefropatia secundária a hemólise induzida pela BMA. Além disso, é possível inferir que o benefício da intervenção se deveu ao tratamento de pacientes mais graves, com choque cardiogênico e hipotensão (PAM ≤ 63 mmHg), mais de uma artéria acometida e em homens (possivelmente devido ao tamanho calibroso do cateter na artéria femoral). 

Confira o que o foi sobre esse estudo no canal da Afya CardioPapers no Youtube!

Confira também o Instagram e o site da Afya CardioPapers para mais informações sobre a edição deste ano do congresso do American College of Cardiology.

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