Desproporção de médicos formados e vaga de Residência Médica
O cenário atual da medicina brasileira apresenta grande complexidade e nuances preocupantes.
Os problemas que surgem desde a graduação podem impactar o médico recém-formado e o seu caminho no processo de especialização e mercado de trabalho.
Os gargalos de formação e especialização agravam o panorama da medicina e sua distribuição no território, gerando também impacto na população geral.
Segundo o Panorama de Demografia Médica, de 2023, temos registrados 575.930 médicos ativos, média de 2,81 médicos por mil habitantes, o maior índice já registrado no País. Essa proporção não está sendo acompanhada pelo crescimento de especialistas, o que pode ser um problema no futuro, com possível queda na qualidade do atendimento.
Formação médica
Em um primeiro momento, é possível notar um progressivo aumento na quantidade de cursos de medicina pelo país, não necessariamente idealizados em áreas com maior necessidade populacional, gerando maior concentração de formação em locais já “saturados”.
Além disso, não são raros os exemplos de faculdades de medicina inseridas em regiões sem suporte assistencial necessário para uma adequada formação médica.
Esse contexto gera déficits de formação significativos, afetando a prática médica de qualidade.
Médicos recém-formados
O médico recém-formado entra em contato com o mercado de trabalho, devendo lutar com suas dificuldades de formação e a própria complexidade da medicina, em sua constante atualização.
O cenário geral é composto de empregos diversos, principalmente plantões médicos para o generalista, não necessariamente com a melhor remuneração ou qualidade de trabalho.
É importante ressaltar que em grandes centros já estão presentes situações de trabalho desafiadoras, seja por instabilidade salarial, condições de trabalho precárias ou mesmo dificuldade de vagas em locais de qualidade.
Dessa forma, uma demanda importante (algumas vezes essencial) é o caminho para a especialização nas especialidade médicas.
Luta pela Residência
Assim como na entrada da faculdade de medicina, o médico já formado se encontra novamente em uma grande luta por uma vaga de residência médica. Alta demanda de estudo e o tempo restrito em equilíbrio com a jornada de trabalho são dificultadores do objetivo de aprovação, porém um outro problema se apresenta: a desproporção de oferta de vagas.
O processo de disponibilidade de vagas de residência não acompanha a subida exponencial de cursos de medicina, criando um grande gargalo de formação especializada nos centros regionais. Além disso, ocorre grande concentração desses cursos de especialização nos polos acadêmicos do Sudeste, proporcionando novamente uma concentração médica regional e escassez de especialistas no restante do território.
Leia mais: Pós ou residência médica: reflexões práticas
Reflexões para o futuro
A solução desse problema não é fácil, porém é possível na medida em que ações prioritárias mudem o enredo da formação médica.
O crescimento de centros formadores de especialistas, incentivos acadêmicos para a especialização médica e foco estratégico nas regiões com carência profissional podem ser um bom começo.
A qualidade de formação também deve ser um pilar principal, focando em serviços estruturados e com competência para a formação profissional, algo que deve se estender do modelo de graduação até a especialização médica.
Além disso, é necessária a atenção às regulamentações que possam garantir os direitos do médico residente, evitando desgastes comuns e outros problemas que possam desestimular o caminho da especialização.
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