A síndrome respiratória aguda grave causada pelo Sars-Cov-2 é caracterizada principalmente por febre e sintomas respiratórios, com infiltrados pulmonares e dispneia nos casos mais graves. Além disso, muitos pacientes com Covid-19 também apresentam um estado pró-coagulante, detectado bioquimicamente pelos níveis séricos de d-dímero e relacionado a complicações e pior prognóstico, uma destas complicações é o tromboembolismo pulmonar (TEP).
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Análise recente
Pensando nisso, foi realizado um estudo caso-controle, multicêntrico, que revisou prontuários médicos de pacientes com Covid-19 e diagnóstico de tromboembolismo pulmonar em 62 departamentos de emergência da Espanha, durante o primeiro surto de Covid-19, entre 1° de março e 30 de abril de 2020. Os objetivos do estudo eram: determinar a incidência de TEP em pacientes com Covid-19 que chegam ao pronto-socorro e comparar com a população em geral; descobrir os fatores de risco associados com o desenvolvimento de TEP em pacientes com Covid-19; descrever se há alguma característica clínica distinta nesses pacientes em comparação com TEP observada em pacientes não Covid-19; e investigar o desfecho dos pacientes com Covid-19 que apresentam TEP.
O grupo estudado, composto por 368 pacientes com Covid-19 (diagnóstico realizado através de RT-PCR) e TEP (diagnóstico realizado através de angiotomografia computadorizada de tórax — janela pulmonar e confirmada por 2 radiologistas) foi comparado com outros 2 grupos: 368 pacientes Covid-19 sem TEP e 368 pacientes sem Covid-19 com TEP.
Resultados e discussão
Em primeiro lugar, os resultados mostram que a incidência de tromboembolismo pulmonar em pacientes com Covid-19 que chegam na emergência é baixa (0,5%), entretanto, 9 vezes maior quando comparado com a população em geral (não Covid-19).
Em segundo lugar, os níveis de d-dímero > 1.000 ng/mL, dor torácica e dor/edema de membros inferiores foram os principais fatores de risco associados com o desenvolvimento de TEP em pacientes com Covid-19. Por outro lado, a associação inversa de TEP com insuficiência cardíaca crônica (ICC) encontrada no estudo contrasta com os dados prévios que identificavam a ICC como um fator de risco. Há 2 explicações para este achado: o risco de morte e a maior prevalência de fibrilação atrial (FA) em pacientes com insuficiência cardíaca crônica. A FA geralmente está associada ao uso de anticoagulantes orais, e este poderia ter sido o fator relacionado ao efeito protetor da ICC no desenvolvimento de tromboembolismo pulmonar em pacientes Covid-19.
Em terceiro lugar, os pacientes com Covid-19 + TEP se diferenciaram dos pacientes não Covid-19 + TEP principalmente nas características clínicas relacionadas diretamente à infecção pela Covid-19. Além disso, apresentaram menos dor/edema de membros inferiores, aumento mais discreto de d-dímero e maior acometimento de artérias pulmonares menores.
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Em quarto lugar, a mortalidade do grupo Covid-19 + TEP foi elevada, sendo mais que 2 vezes a observada na população em geral, não Covid-19 + TEP. Por outro lado, nenhuma diferença estatística foi encontrada na mortalidade intra-hospitalar de pacientes com Covid-19 com e sem TEP. Portanto, tromboembolismo pulmonar não deve ser considerado fator de risco para morte em pacientes com Covid-19.
Apesar de mais de 1 ano de pandemia, a Covid-19 continua sendo um desafio a qualquer médico responsável pelo tratamento desses pacientes. A incidência 9 vezes maior de tromboembolismo pulmonar e o risco de morte > 2 vezes, quando comparado à população em geral, mostram que o tromboembolismo pulmonar deve sempre ser lembrado, pesquisado e instituído tratamento adequado o mais rápido possível nesses pacientes.
Referências bibliográficas:
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