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Anestesiologia17 julho 2021

Soluções de irrigação para procedimentos endoscópicos

Entender as propriedades e potenciais riscos no uso de cada fluido de irrigação é primordial para o manejo de possíveis complicações. Saiba mais.

Por Bruno Vilaça

Com a prevalência cada vez maior de técnicas cirúrgicas minimamente invasivas, aumentam os riscos específicos dessas abordagens. Procedimentos como ressecção transuretral da próstata, ressecção transuretral de tumor de bexiga, ressecção transcervical de endométrio, ablação endometrial e artroscopias, contam com fluidos como agentes para irrigação e manutenção do campo visual cirúrgico. Entender as propriedades e os potenciais riscos associados ao uso de cada fluido de irrigação é primordial para orientar o manejo de possíveis complicações.

Soluções de irrigação para procedimentos endoscópicos

A solução de irrigação ideal deveria ser:

  • Transparente;
  • Não conduzir corrente elétrica;
  • Isotônico e atóxico;
  • Barato e fácil de esterilizar.

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Porém, tal solução ideal ainda não foi descoberta e as principais soluções existentes hoje, são:

  • Solução salina: Isotônica, com risco de desenvolver acidose hiperclorêmica.
  • Solução de ringer lactato: Isotônica, com risco de desenvolver alcalose e hipocalemia, devido ao metabolismo hepático do lactato em bicarbonato.
  • Glicina: Hipotônica. Pode provocar depressão miocárdica direta, convulsões e encefalopatia.
  • Manitol: Isotônica. Causa uma rápida expansão do volume intravascular, podendo levar a hipervolemia, edema pulmonar e insuficiência cardíaca em pacientes susceptíveis.
  • Sorbitol: Hipotônica. Efeito diurético e laxativo. Pode causar hiperglicemia.

As complicações com o uso das soluções de irrigação para procedimentos endoscópicos ocorrem em torno de 21%. A principal e mais comum é a absorção inadvertida de grande quantidade dessas soluções, levando a hipervolemia. A taxa de absorção se dá através do gradiente entre a pressão de irrigação e a pressão venosa. Geralmente, essa taxa de absorção é de 10 a 30mL/min, variando com o tipo de cirurgia (com maior ou menor exposição de plexos venosos) e tempo cirúrgico.

A complicação mais temida é a hiponatremia dilucional, que leva a edema cerebral e aumento da pressão intracraniana. Outras complicações são: depressão miocárdica, convulsões, edema agudo pulmonar, hiperglicemia, encefalopatia e coma.

A síndrome de absorção inadvertida de solução de irrigação pode se apresentar com cefaléia, alteração do nível de consciência, desorientação, distúrbios visuais, taquipneia, náuseas e vômitos, dispnéia e hipotermia.

O tratamento é de suporte clínico, com o reconhecimento rápido do desenvolvimento da síndrome gerando melhores resultados. Suplementação de oxigênio, ventilação com pressão positiva se necessário e uso de diuréticos com cautela pois podem aumentar a perda de sódio e piorar a hiponatremia. Em caso de qualquer complicação, o anestesiologista deve registrar o ocorrido na ficha anestésica, assim como o tratamento escolhido.

Dicas para reduzir o risco de desenvolvimento da síndrome de absorção inadvertida de solução de irrigação:

  • Evitar hipotensão, mantendo uma pressão venosa adequada, mesmo que para isso seja necessário o uso de vasopressores.
  • Reduzir ou mesmo restringir o tempo de procedimento.
  • Utilizar a solução de irrigação na menor pressão possível e aquecida.
  • Monitorar o balanço hídrico perioperatório.
  • Manter-se vigilante para sinais e sintomas precoces da síndrome.

Referências bibliográficas:

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