A preocupação com a qualidade de vida de sobreviventes a quadros de sepse é cada vez maior. A alta da UTI ou do hospital deixaram de ser a única meta no tratamento desses pacientes. No cenário da sepse, a importância da prevenção, reconhecimento precoce, diagnóstico adequado e tratamento eficaz é indiscutível. Você já acompanhou aqui no Portal diversos conteúdos relacionados às principais recomendações relacionadas ao manejo da sepse e choque séptico.
A sepse é uma doença grave, considerada emergência médica. Após o cuidado inicial, o paciente deve ser encaminhado à Unidade de Terapia Intensiva. No processo de disfunções orgânicas associadas, os quadros podem variar desde necessidade de drogas vasoativas, à sedação e ventilação mecânica invasiva. Além de mortalidade elevada, principalmente nos casos de choque séptico, a morbidade também é alta.
Síndrome de cuidados pós-intensivos
No contexto do paciente grave, a Síndrome Pós-Cuidados Intensivos (do inglês, Post Intensive Care Syndrome – PICS) foi descrita anteriormente em pacientes sobreviventes à internação em unidade de terapia intensiva. A condição refere-se ao desenvolvimento de sintomas que refletem o impacto da internação na função psicológica, física e/ou cognitiva desses pacientes.
Em uma coorte prospectiva de pacientes não-selecionados, a avaliação de follow-up, em um período médio de 11 meses da alta da UTI, evidenciou a presença de disfunção cognitiva em 49.9% pacientes. Cerca de 29% apresentavam disfunção cognitiva leve a moderada e 20% apresentaram disfunção cognitiva grave (De Azevedo et al., 2017).
Um exemplo recente: a covid-19
A covid-19 grave é um importante exemplo da sepse viral. A literatura já acumulou diversas evidências sobre os impactos a longo prazo na qualidade de vida dos pacientes sobreviventes à covid-19. A esse grupo de manifestações, tem se atribuído o nome de síndrome pós-covid.
Uma coorte nacional e prospectiva evidenciou que, seis meses após a fase aguda da covid-19, 38,9% dos sobreviventes reportaram nova incapacidade. 11,4% dos pacientes ainda não haviam retornado ao trabalho por condições de saúde, 71,3% reportaram sintomas persistentes, sendo a dispneia o mais frequente (34,8%), seguido de fraqueza e fadiga. Além disso, maior gravidade da doença e o escore clínico de fragilidade foram preditores independentes de mortalidade ou incapacidade (Mather et al., 2021).
Surviving Sepsis Campaign e Reabilitação
Um dos novos tópicos inseridos nas últimas recomendações (outubro de 2021) diz respeito à preocupação em relação aos desfechos a longo prazo:
- Para adultos sobreviventes de sepse ou choque séptico, recomendamos avaliação e acompanhamento de problemas físicos, cognitivos e emocionais após a alta hospitalar. (Declaração de Boas Práticas);
- Para adultos sobreviventes de sepse ou choque séptico, sugerimos encaminhamento para um programa de acompanhamento de doença pós-crítica, se disponível. (Recomendação fraca, qualidade de evidência muito baixa);
- Para adultos sobreviventes de sepse ou choque séptico que receberam ventilação mecânica por > 48h ou permaneceram em UTI > 72h, sugerimos encaminhamento para um programa de reabilitação pós-hospitalar (Recomendação fraca, qualidade de evidência muito baixa).
Projeto Reabilita Sepse (ILAS)
O Instituto Latino Americano de Sepse (ILAS) reconhece a preocupação com os desfechos a longo prazo e a importância da reabilitação. O Projeto Reabilita Sepse, coordenado pelo ILAS, tem a função de apoiar sobreviventes, familiares e profissionais de saúde no tópico.
De acordo com o Dr. Regis Rosa, intensivista e membro do ILAS, os pacientes sobreviventes de sepse podem apresentar uma série de sequelas físicas, cognitivas, e saúde mental que são tipicamente duradouras, subdiagnosticadas e podem causar um grande impacto na vida do indivíduo. Entretanto, essas sequelas são reversíveis em sua grande maioria, e o rápido acesso às medidas de reabilitação podem impactar de maneira positiva na vida do paciente. Além disso, os familiares são fundamentais para a recuperação do paciente, e podem ser acometidos por sequelas, principalmente, relacionados à sua saúde mental.
Podcast sobre reabilitação na sepse
Conversamos com o Dr. Regis Rosa em um podcast super especial da parceria entre a PEBMED e o ILAS. Discutimos sobre o impacto da sepse na qualidade de vida de pacientes sobreviventes ao quadro agudo e sobre estratégias de reabilitação no pós-sepse.
Conheça o Projeto Reabilita Sepse!
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