Algumas organizações de saúde recomendam o uso de suporte de oxigenação por membrana extracorpórea (ECMO) em pacientes com insuficiência respiratória aguda relacionada à Covid-19. Porém, não existem evidências robustas sobre benefícios nestes pacientes.
Dois artigos foram publicados, um deles no último mês, avaliando o uso do ECMO nos pacientes hospitalizados SARS-CoV-2 positivo.
ECMO em pacientes com Covid-19
Em julho deste ano, o The Annals of Thoracic Surgery publicou o relato de uma instituição que utilizava o ECMO nos pacientes internados. Entre os pacientes internados de 10 de março a 24 de abril de 2020, 321 foram intubados devido à Covid-19 e 27 (8,4%) deles foram colocados em ECMO venovenoso.
Estes pacientes foram escolhidos para o suporte por meio de uma razão de pressão parcial de oxigênio arterial / fração de oxigênio inspirado inferior a 150 mm Hg ou pH inferior a 7,25 com uma pressão parcial de dióxido de carbono arterial superior a 60 mm Hg, e não tinham comorbidades importantes. Eles foram canulados à beira do leito e tratados com ventilação pulmonar protetora, traqueostomia precoce, broncoscopias e pronação, conforme indicação clínica.
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Segundo o relato, 13 pacientes (48,1%) permanecem com suporte de ECMO e 13 (48,1%) foram decanulados com sucesso. Sete indivíduos (25,9%) tiveram alta hospitalar. Seis pacientes (22,2%) permanecem internados, dos quais quatro em ar ambiente. Nenhum profissional de saúde que participou da canulação desenvolveu sintomas ou teste positivo para Covid-19.
Apesar de sugerir benefícios, a amostra pequena e o relato baseado em uma experiência de um único hospital não são suficientes para indicar esse tipo de tratamento para os pacientes internados com Covid-19.
Estudo de coorte internacional
Um estudo mais recente, publicado no último mês no periódico Lancet, usou dados do Registro da Organização de Suporte à Vida Extracorpórea (ELSO) para avaliar os desfechos de pacientes com 16 anos ou mais, positivos para Covid-19, que fizeram uso do ECMO. Os dados são de 213 hospitais, em 36 países, de 16 de janeiro a 1º de maio de 2020.
Foram incluídas 1.035 pessoas no estudo, com mediana de idade de 49 anos (IQR 41–57) e índice de massa corporal mediano de 31 kg/m² (27–37). Cerca de 74% dos pacientes eram homens (764) e 70% tinham pelo menos uma comorbidade prévia (724). Além disso, 819 (79%) dos indivíduos foram diagnosticados com SDRA. Dos participantes, 968 (94%) foram acompanhados por 90 dias.
Resultados:
- 588 (57%) de 1.035 pacientes receberam alta do hospital com vida, 67 (6%) permaneceram hospitalizados e 380 (37%) morreram;
- A incidência cumulativa estimada de mortalidade intra-hospitalar 90 dias após o início da ECMO foi de 37,4% (IC 95% 34,4–40,4);
- No subgrupo de pacientes que receberam ECMO venovenosa e caracterizados como portadores de SDRA, a incidência cumulativa estimada de mortalidade intra-hospitalar 90 dias após o início da ECMO foi de 38,0% (IC95% 34,6–41,5).
Conclusões
A taxa de mortalidade em pacientes em uso de ECMO foi menor que 40%, porém não há uma comparação com aqueles que não utilizaram. Sendo assim, são necessários estudos controlados e randomizados para entender a real eficácia desse tipo de suporte em pacientes hospitalizados com Covid-19.
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referências bibliográficas:
- Barbaro RP, et al. Extracorporeal membrane oxygenation support in COVID-19: an international cohort study of the Extracorporeal Life Support Organization registry. The Lancet. September 25, 2020 DOI:https://doi.org/10.1016/S0140-6736(20)32008-0
- Kon ZN, et al. Extracorporeal Membrane Oxygenation Support in Severe COVID-19. The Annals of Thoracic Surgery. Available online 17 July 2020. https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0003497520311528
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