Na primeira sessão do congresso International Symposium on Intensive Care & Emergency Medicine (ISICEM 2025), sediado na Bélgica, o Dr. Matthieu Jabaudon, primeiro autor do estudo SESAR (Sedation in Acute Respiratory Distress Syndrome), publicado simultaneamente no JAMA, apresentou os resultados do ensaio clínico randomizado que comparou a sedação inalatória com sevoflurano versus propofol em pacientes com síndrome de angústia respiratória aguda (SARA) moderado a grave (PaO₂/FiO₂ < 150) durante 7 dias.
O racional é interessante: o anestésico inalatório age rapidamente e tem meia-vida curtíssima, de modo que ao desligar o efeito sedativo acaba instantaneamente. Isto pode levar ao ciclo virtuoso de despertar mais rápido, teste de desmame imediato e provável redução do tempo de ventilação mecânica (VM). Porém nem todas UTIs conseguiriam fornecer sedação inalatória, porque o preparo para rede de gases e isolamento de cada quarto/ambiente é fundamental e acarretaria uma reforma estrutural dos leitos.
O estudo foi randomizado, aberto e multicêntrico na França, e incluiu 687 pacientes. O desfecho primário foi o tempo livre de ventilação mecânica até o D28 de inclusão; secundariamente se observou a mortalidade em 90 dias.
O período foi entre maio de 2020 e outubro de 2023, pegando o pior período da pandemia de Covid-19 – 54% dos pacientes tiveram este diagnóstico. Foi realizada sedação profunda em cerca de 90% dos 2 grupos e 70% dos pacientes precisaram de bloqueio neuromuscular em até 48 horas. Poderia haver sedação com mais de 1 agente (incluindo crossover com sevoflurano ou propofol).
O estudo demonstrou redução em torno de 2 dias livres de VM com sevoflurano; mas a sobrevida em 90 dias foi pior no grupo de sedação inalatória: 53% versus 44% (hazard ratio 1,31). Este efeito deletério na mortalidade foi mais pronunciado no subgrupo de pacientes sem Covid-19. Outros detalhes também foram revelados: uso de dose mais elevada de noradrenalina, aparecimento de diabetes insipidus em 5 pacientes da intervenção e maior incidência de disfunção renal com sevoflurano.
Quais explicações são comentadas para este resultado?
Primeiramente, houve significativo crossover de propofol para o grupo com sevoflurano (~ 20%-25% dos pacientes no grupo com inalatório receberam propofol também); a presença de Covid-19 foi um dos determinantes de mortalidade em análise multivariada, portanto pode ter influenciado os resultados finais. E finalmente efeitos da “vida real” também podem ter sido revelados no uso de anestésico inalatório por longo período de dias, por exemplo maior presença de choque e disfunção renal, que não é vista no centro cirúrgico mas apareceu em pacientes na UTI com VM mais prolongada.
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