A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) emitiu ontem, dia 7, um alerta de risco sobre o primeiro possível caso de Candida auris no Brasil. O fungo multirresistente, encontrado geralmente em serviços hospitalares, foi identificado em amostra de ponta de cateter de um paciente internado em uma unidade de terapia intensiva (UTI) da Bahia.
A presença do superfungo foi confirmada por meio da técnica Maldi-Tof, realizada no Laboratório Central de Saúde Pública Profº Gonçalo Moniz (LACEN/BA) e no Laboratório do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (HCFMUSP).
Ainda serão realizadas as análises fenotípicas (para verificar o perfil de sensibilidade e resistência) e o sequenciamento genético do microrganismo pelos Laboratórios da Rede Nacional para identificação de C. auris.
Segundo a nota, uma força-tarefa nacional esteve na unidade de saúde para se certificar que todas as medidas de controle da infecção e de prevenção estejam sendo tomadas corretamente. Além disso, uma investigação epidemiológica será conduzida pelo estado para verificar se existe a contaminação de outras pessoas do serviço de saúde.
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Candida auris
Descrita inicialmente no Japão, em 2009, a Candida auris vem chamando atenção da comunidade médica e científica porque algumas cepas possuem multirresistência aos principais antifúngicos disponíveis (classes de polienos, azóis e equinocandinas). Surtos já foram identificados em mais de 30 países.
Em 2016, o Centers for Diseases Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos emitiu um alerta mundial sobre os casos em Atlanta. Nesse mesmo ano, a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) também alertou para diversos surtos na América Latina. Em 2017, a própria Anvisa sinalizou que o Brasil deveria ficar atento para possíveis casos. Apesar disso, apenas agora foi identificado um possível caso no país.
Infecção
A Candida auris pode causar infecção em corrente sanguínea e outras infecções invasivas graves, podendo evoluir para mortes, principalmente em pacientes com comorbidades. O fungo pode colonizar os pacientes por meses, em diversos sítios, e permanecer no ambiente por longos períodos, já que também é resistente a alguns desinfetantes, incluindo aqueles baseados em quarternário de amônio.
O tratamento de primeira linha atualmente é feito com equinocandinas (anidulafungina, caspofungina e micafungina). A anfotericina B lipossomal entra quando o paciente não responde ou persiste com fungemia.
Recomendações da Anvisa:
- A agência brasileira orienta que os laboratórios de microbiologia reforcem a vigilância, para não deixar de identificar nenhum caso de C. auris. Além disso, informar sempre à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar (CCIH) do serviço sobre qualquer caso suspeito.
- As unidades de saúde devem seguir as orientações previstas no Comunicado de Risco nº 01/2017 para prevenção e controle de infecção, quando houver suspeita.
Notificar sempre!
Qualquer caso suspeito deve ser notificado imediatamente à CCIH da unidade. A comissão deverá notificar pelo formulário Notificação de Casos de Candida auris em Serviços de Saúde da Anvisa e informar a suspeita ou confirmação de casos à Coordenação Estadual de Controle de Infecção Hospitalar (CECIH).
*Esse artigo foi revisado pela equipe médica da PEBMED
Referência bibliográfica:
- Alerta de Risco GVIMS/GGTES/Anvisa nº 01/2020. Identificação de possível caso de Candida auris no Brasil. 07 de dezembro de 2020. https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/comunicados-de-risco-1/alerta-02-2020-candida-auris-09-12-2020.pdf
- Comunicado de Risco Nº 01/2017 GVIMS/GGTES/ANVISA. Relatos de surtos de Candida auris em serviços de saúde da América Latina. https://www.gov.br/anvisa/pt-br/centraisdeconteudo/publicacoes/servicosdesaude/comunicados-de-risco-1/comunicado-de-risco-no-01-2017-gvims-ggtes-anvisa-1/view
- Candida auris: fungo multirresistente surge como nova ameaça. Portal PEBMED. https://portal.afya.com.br/infectologia/candida-auris-fungo-multirresistente-surge-como-nova-ameaca
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